09 de outubro | 2016

Ideologia: Eu quero uma pra viver

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IVO DE SOUZA

Há muito tempo que a maioria dos políticos brasileiros não sabem (nunca souberam ou desa­pren­deram?) o que seja ideologia.

Nada é de­ba­tido, discutido em nível das ideias. O único partido ideológico, desde alguns anos, morreu. E foi, em muitos lugares, sepultado nestas últimas eleições. Noutros, está agonizando.

Sobraram, infelizmente, o fisiologismo e o oportunismo baratos – sobraram exemplos, principalmente, quanto a sopa de letrinhas em que se jun­taram as coligações – botem esta fatura nefasta na conta do nosso sistema eleitoral: tempo de campanha no rádio e na televisão. Quem tem mais, fala mais (muitas vezes asneiras, mas fala mais por conta de um amontoado de si­glas, as quais, muitas vezes, não dizem nada.

Com raríssimas exceções, que políticos, ho­je, debatem ideias, projetos, programas de governo? – quando existem programas e projetos a serem debatidos, é claro.

Sempre tive como mola mestra do meu trabalho, como educador, o pensar, o refletir e o questionar (os porquês da vida). A leitura é, sem dúvida, o caminho mais fácil para che­garmos a tais objetivos. Cabe, aqui, a educação política sem doutrinação e apartidária. A discussão (saudável!) das ideias deve ter início já nas séries iniciais dos chamados bancos escolares.

A nossa fala, por outro lado, identifica quem somos; a fala dos políticos (em geral) diz quem eles são. É só prestar um cadinho de atenção. Nosso discurso (fala) diz quem somos socialmente , culturalmente e quem somos como “pessoa humana”, não há co­mo fugir disto. Somos o que falamos: verdadeiros, mentirosos dissimulados… Somos palavras (“Lu­tar com palavras é a luta mais vã, no entanto lutamos, mal rompe a manhã”), diz o mestre Carlos Drummond de Andrade. E não há como negar os versos do poeta itabirano.

Os interesses pessoais e de grupos prevalecem sobre os interesses e necessidades das pessoas, mesmo sobre as carências mais urgentes. Os políticos, em geral, tratam a Educação e os professores com descaso, desconsideração. Pagam-nos salários vergonhosos e indignos.

Que ideias têm da importância da Educação, como fator de inclusão social, na formação de cidadãos e no desenvolvimento econômico e tecnológico do país?

Que ideologia os norteia quando o tema é Educação? As mazelas do país têm, muitas vezes, origem na falta de investimentos em Educação, na desvalorização dos professores, que são tratados como se fossem ninguém.

Um pai de família não consegue, hoje, manter adequadamente sua prole, se trabalha apenas como professor (mesmo que o faça em três períodos e cumpra uma jornada de trabalho terrivelmente desgastante, prejudicial, inclusive, à sua saúde).

Estas eleições foram as eleições do desânimo, da descrença nos homens públicos – haja vista a abstenção, um recado muito forte e direto aos políticos, a ser lido, compreendido e interpretado pela classe: 25 milhões de brasileiros “fugiram” das urnas, (as seções eleitorais, bem antes das 17 horas, já estavam às moscas).

O sistema eleitoral brasileiro precisa, com urgência, ser reformado, a começar pelo número (um absurdo!) de partidos (salvo engano são, hoje, 35), pelo fim do quociente eleitoral (uma aberração), pelo famigerado horário eleitoral gratuito, enfim, precisamos avançar e muito em relação à nossa legislação eleitoral.

E, só uma per­gun­tinha, pois perguntar não ofende (não deveria): E a “boa” e velha ideologia? Onde fica essa “coisa” que move as pessoas e faz o mundo girar; onde andam os debates em nível ideológico? No nível das i­de­ias? Ideias que, debatidas, devem se converter em ações?

A ideologia, mostram cada vez mais os políticos (há raríssimas exceções!!!), está moribunda, à morte. Caminha pela mesma estrada e rumo ao mesmo destino das utopias. Para que ideologia, se o que importa é vencer as eleições? Não é?

P.S.: Mestre Aurélio define assim o que seja política: 1. Ciência dos fenômenos referentes ao Estado; ciência política. 2. Sistema de regras respeitantes à direção dos negócios públicos. 3. Arte de bem governar os povos. 4. Conjunto de objetivos que informam determinado programa de ação governamental e condicionam a sua execução. 5. Princípio doutrinário que caracteriza a estrutura constitucional do Estado. 6. Posição ideológica a respeito dos fins do Estado. 7. Civilidade, cortesia. 9. Fig. Astúcia, ardil, artifício, esperteza.

Aurélio define também o que é politicagem: 1. Política mesquinha, estreita, de interesses pessoais. 2. O conjunto dos políticos pouco escrupulosos, desonestos.

Bom-dia, meus senhores e minhas senhoras; bom-dia, meus leitores; bom-dia, meus amigos. “E la nave va”. Para onde ninguém sabe. Pano rapidinho, por favor…

P.S.:2 É bom guardar e bem guardada a frase do grande Camões, no sentido de se pensar e refletir a respeito dela: Um fraco rei faz fraca a forte gente. E fechem as cortinas. O espetáculo terminou!!! E os partidos ideológicos também.

Ivo de Souza é professor universitário, poeta, colunista, pintor e membro da Real Academia de Letras de Porto Alegre.

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