28 de outubro | 2012

Violências que matam

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Do Conselho Editorial
Não há nada mais sagrado que a vida humana e não há algo que tenha de ser mais respeitado que o lar de um cidadão.

E este cidadão que cumpre seus deveres, obrigatoriamente, em relação ao que está imposto pelo Estado, está exatamente sob a tutela deste Estado que tem por dever cumprir o papel que está disposto nas leis orgânicas estaduais, municipais e na Constituição Federal.

Não estivesse determinado pelo contrato social, como não esteve no tempo das cavernas, o senso lógico obrigaria que a liderança, xamâ, pajé, cacique, rei, primeiro ministro, presidente, governador ou prefeito, cuidasse atentamente da segurança de seu povo, pois eles detinham e detêm em suas mãos o destino de seus liderados.

Sempre foi desta maneira, e tanto é assim que em suas plataformas os pretendentes a cargos eletivos colocam em discussão temas que possam estar causando desconforto nas sociedades que pretendem governar.

A campanha eleitoral na cidade de Olímpia foi marcada por dois temas fundamentais à manutenção da vida e discutidos a exaustão nos três meses de campanha, Saúde e Segurança Pública.

O tema Saúde foi muito evidenciado pelos candidatos que se opunham ao pretendente a reeleição e reeleito mandatário da cidade para o próximo quatriênio.

O prefeito, então candidato, pegando carona em uma pesquisa da UOL, votou que o grande problema da cidade que ele comanda e comandará nos próximos quatro anos era a Segurança, que por sinal acabou em primeiro lugar na pesquisa UOL com 43,18% dos votos.

Chamou a atenção que o prefeito Eugênio José Zuliani, na condição de primeiro mandatário da cidade, tivesse um comportamento tão impróprio para alguém que governa para o bem comum, concluindo como se fora algo adequado à convivência de todos a falta de segurança na sociedade que ele foi escolhido para governar.

Passada as eleições, pior que a constatação óbvia do prefeito, foi que não se buscou nenhuma alternativa para se solucionar nem a questão da Segurança levantada pelo prefeito, e muito menos a da Saúde que foi motivo de questionamentos da oposição.

E ambas, ao que tudo indica, chegaram ao descontrole total, a farsa do bom atendimento médico e do sistema de Saúde de ponta oferecido à população rapidamente demonstrou, como muitas vezes discutido por este jornal, que não passava de um estelionato eleitoral, mais um, diga-se passagem, entre os tantos aplicados no incauto eleitor brasileiro.

A Saúde está caindo pelas laterais, o caos que estava instalado e que era disfarçado na Santa Casa de Misericórdia, já estica seus tentáculos na direção da UPA, cujo nascedouro objetivamente demonstrava que cumpria apenas o papel de reeleger o atual prefeito, agora parece que perdeu sua função principal.

Se a Santa Casa dá mostras quase claras de que não resistirá à crise econômica que lá foi instalada a partir da intervenção comandada e assinada por Eugênio, que lá colocou o vice Gustavo Pimenta para iniciar a caminhada na direção do final daquela instituição, a UPA pelos comentários que chegam à redação já fez cortes no efetivo que não era muito significativo, oferecendo, atualmente, um serviço de pior qualidade do que já oferecia em seus momentos de glória quando tinha por destinação reeleger o atual prefeito.

Do mesmo jeito cresce de maneira incontrolável a violência e a insegurança no município, estando as famílias extremamente preocupadas com este estado de coisas.

As casas viraram, a contra gosto de seus donos, verdadeiras penitenciárias que abrigam gente de bem que cada vez mais se cerca de formas e fórmulas que tentam impedir que a violência ultrapasse muros altos: cachorros, cercas elétricas, sistemas de segurança, e nem sempre são bem sucedidas.

São surpreendidos nas ruas por bandidos quando se dirigem ao trabalho ou quando retornam para seu lar na hora do descanso.

Um simples descuido basta para que a privacidade tenha por companhia horas angustiantes de medo, em que a morte parece mais próxima que a chance da vida, ir se alongando, e como dantes ser sonhada como se a possibilidade da instalação do melhor dos mundos possíveis não fosse apenas uma utopia inalcançável.

E quando eles se vão e deixam suas vítimas com vida é natural que estas pessoas tragam em si a partir de então a desconfortável sensação de impotência, de desamparo total, de estar só em uma sociedade injusta, sem alma e sem lei, onde tudo é muito mais importante que o ser humano.

E se desumaniza, talvez, e se desumanizará mais ainda aquele que pai, mãe, irmão, avô, tio, amigo, que recebe um corpo que antes transbordava alegria e energia aliada a vontade de estar presente neste mundo de tantas ausências, sem vida, sem risos, sem lágrimas, a não ser aquelas que derramam a sua volta por perceberem que sua voz será para sempre o som do silêncio provocado pela incapacidade que o governante tem de estabelecer políticas públicas que deixe seguro o viver de cada um.

Como sempre ocorre entre as almas medíocres e defensoras de sistemas falidos que os beneficiam, haverá os submissos que repetem bordões oficiais a dizer a exaustão, que a Saúde e a Segurança estão de mal a pior no país inteiro, e tentarão convencer a parcela que tem preguiça de pensar que estas aberrações provocadas pela irresponsabilidade do homem público se inserem no universo da normalidade.

Porém, é mais que necessário afirmar que muitas vezes mais criminoso, muitas vezes mais bandido, que o criminoso ou o bandido que assaltam, assombram ou matam por razões injustificáveis, é aquele que tem por destinação cuidar para que estas situações não ocorram e se omite, e deixa que elas se ampliem até chegar ao ponto que o incontrolável se impõe.

Olímpia está por demais violenta. Olímpia está sangrando. Em suas ruas está correndo sangue de gente inocente, assim como, embora possa não se provar, é quase certo que nos corredores de um sistema de saúde de mentirinha, alguém espera a hora fatal. Os indícios apontam para esta crueldade sem igual.

O cidadão olimpiense chegou a um ponto extremo de se sair às ruas pode ser assaltado e morto, ou assaltado e esfaqueado, ou atirado, e ai terá que ser tratado com urgência e sabe, e está consciente, se consciência tiver, que se for levado para os locais que deveriam atender só resta uma terceira alternativa, rezar, com muita fé, com toda fé do mundo.

Àqueles que como tantos não encontram mais razões para acreditar na justiça e na bondade dos homens por desiludidos que estão, resta crer na bondade e na justiça divina, que, com certeza, cobrará um dia dos homens sem Deus, a razão por tanto abandono a tantos que deveriam tratar com carinho de irmão.

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