05 de outubro | 2008

Radialista denuncia ‘negociata’ para Difusora apoiar Geninho

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 No entanto, um ex-funcionário da rádio Difusora AM, que hoje está na rádio Menina AM, o radialista Orlando Rodrigues da Costa (foto), quando foi demitido da primeira, praticamente escancarou a atual situação, ao enviar carta para o editor desta Folha da Região, advogado e jornalista José Antônio Arantes, assinada, para publicação, relatando entre outras coisas, a existência de ‘negociata’ para a Difusora AM apoiar a candidatura de Eugênio José Zuliani.

Veja o teor da mensagem: A prática do jornalismo sem ética

Caro Arantes,

Manifestando de primeira meus agradecimentos e cumprimentos pela sua postura, entendo que devo alguns esclarecimentos, até mesmo buscando embasar seus comentários e ponto de vista sobre a questão.

Devo confessar-lhe que o terceiro parágrafo de seu editorial me soou um tanto confuso, pois não consegui dirimir o que foi colocado ali: se não estava cumprindo com minha função de informar, ou se não estava informando porque não podia defender "meu patrão (perdoe-me a ignorância)".

Devo dizer que, em momento algum, fiz a defesa de quem quer que seja, nominalmente, porque tenho comigo que as preferências partidárias de um profissional da comunicação deve ser manifestada fora do seu horário e até local de trabalho – no meu caso, somente fora dos microfones, inclusive conforme o próprio dono (?) da emissora havia me determinado, como se isso fosse necessário.

Sobre o patrulhamento de minhas convicções isso realmente ocorreu, durante todo o tempo, a partir do momento em que o dono (?) da emissora firmou parceria política com o pré-candidato a prefeito Geninho Zuliani. Foram muitas e infrutíferas as tentativas de cooptação deste que vos escreve, sempre com o oferecimento de empregos e altos ganhos. E como não obtiveram sucesso, decidiram pela censura, pelo patrulhamento, o que tornava minha atuação difícil, porque não podia me expressar conforme pedia o momento, a cada situação vivida diante de meus ouvintes. Assim não dava para trabalhar!

Sobre as férias, realmente foi o estopim de tudo. Negada com veemência pelo pré-candidato como obra sua, acabou por se revelar que o motivo realmente foi a minha falta de entusiasmo em relação a seu nome. As queixas de Zuliani geralmente chegavam até mim por terceiros, e até mesmo – pasme! – fiquei sabendo que ia entrar em férias na rua, por amigos. Ou seja, terceiros sabiam que ia tirar férias, e eu não! E a lei manda que o funcionário seja avisado com 30 dias de antecedência, se não me engano.

Por aí você pode quantificar o grau de intolerância que foi imposto naquela emissora, por conta dos interesses de seu dono (?), que me confidenciou ter acertado uma "baba" com o pré-candidato Zuliani que, se eleito, iria terceirizar o serviço de coleta de lixo para ele "ganhar dinheiro", conforme suas próprias palavras. Ou seja, a tradicional entrada pelas portas dos fundos na política. E imagine um pré-candidato já chegar à cadeira de prefeito com um acordo desse naipe – fico a imaginar o que mais andou oferecendo por aí.

Sobre minha defesa de candidatura única – que está longe de ser desrespeitosa, embora intransigente, sim – se dava pela visão de que nada vale a democracia se ela não servir, também, ao consenso, quando este tiver por intuito a derrocada de uma situação política que se revelou insustentável e, esta sim, não privilegiando o processo democrático e nos remetendo ao período obscurantista, haja vista que, com o grupo político no poder opinião bem vinda é só aquela que coincide com o pensamento ditatorial com o qual governam nossa urbe.

Também concordo que não se pode e não se deve calar diante de determinadas realidades em função de benesses recebidas – tanto que, se quisesse, teria me calado e me enchido de "benesses", e ninguém sequer ficaria sabendo. E continuaria empregado, ainda por cima. Sobre constrangimentos, devo também concordar em gênero, número e grau com você, porque ali vivi momentos de profundos sentimentos análogos, porque ouvi discursos de pessoas que absolutamente vivia aquilo que pregava. E tudo se revestia de uma farsa insuportável.

Vejo, no entanto, excesso de preciosismo, quando você diz que não consegui controlar as minhas preferências pelo candidato Celso Maziteli. Porque, devo lembrá-lo, em momento algum declinei minha preferência eleitoral durante meu programa, naqueles microfones, pelo contrário, minha postura era no sentido de que não cabia a nós dizer em quem os ouvintes deviam votar. Coisa que a turma lá não entendia da mesma forma e por diversas vezes impingiam o candidato deles, Geninho Zuliani, como o nome certo para a cidade, exatamente por causa dos interesses contidos naquela parceria, para mim espúria.

A preferência eleitoral de cada cidadão é direito líquido e certo, e próprio da democracia. O que se pede, quando este cidadão é profissional de comunicação, é separar as duas coisas. O exercício de sua função deve ser isento de qualquer tentativa de manipulação de massa. E acho que segui esta regra. E por isso fui punido. Punido pelas minhas virtudes. Isso, apesar de tudo, me deixa lisonjeado, embora descrente de certas pessoas, que posam de vestais da moralidade, da probidade e da honestidade, fazem discurso, mas por baixo dos panos mostram-se pessoas totalmente incompatíveis com a imagem que tentam passar.

E mais: quando retornei de férias, não foi porque consegui reverter situação nenhuma, era direito meu, afinal, eram só férias. Talvez uma tentativa de coerção, mas infrutífera. Não me assusto com pouca coisa, conforme pensava o dono (?) da emissora – "Foi para dar um susto nele", chegou a comentar com alguns próximos sobre as férias a mim concedidas.

Quanto à versão correta, lá vai: No dia em que me demitiu, o pseudo-empresário F.M., por volta das 10 horas da manhã de quarta-feira da semana passada, me chamou e disse, logo de cara: "Negão, bati o martelo com o pessoal". "É? Que pessoal?", perguntei. "O Carneiro e o Pituca", ele respondeu. "E você sabe que isso podia acontecer a qualquer momento. E que quando isso acontecesse, você já sabia que iam pedir a sua cabeça. Por isso vou ter que te dispensar", falou F.M. "Fique à vontade", respondi. "Você se lembra que eu te falei que ofereci a rádio para o Pituca por R$ 300 mil. Eles refugaram. Depois me fizeram uma proposta de R$ 20 mil, eu refuguei. E agora eles voltaram à carga, eu pedi um valor, eles ofereceram outro e acabamos fechando em R$ 200 mil", contou F.M.

Perguntei se ele tinha falado com os outros pré-candidatos, e como ficaria o Geninho. Ele respondeu que os outros candidatos não queriam fechar com ele nos termos em que pretendia, e que o Geninho não estava mais lhe dando dinheiro, dizendo que talvez iria ter dinheiro somente após a convenção, e que ele tinha muitas dívidas para pagar. Por isso tinha resolvido aceitar a proposta de Pituca e Carneiro. E que as conversas estavam sendo mantidas por meio de um escritório de Rio Preto – cobrado mais tarde, disse tratar-se de um escritório de Orestes Quércia.

"Com estes R$ 200 mil vai dar para quitar minha rádio, e no ano que vem não importa quem seja eleito, porque aí vou estar com minha situação resolvida", disse F.M. "E a partir de agora, vou abrir o programa para o pessoal do Carneiro, aos poucos, que é o que eles querem". Depois, pediu que eu fosse assinar o aviso no escritório de contabilidade. O pagamento iria receber em dinheiro, na sexta-feira daquela semana. "Se eles refugarem, se voltarem atrás, então você rasga o aviso e volta pro programa", chegou a dizer. E o resto todos já sabem.

PS: a ida de Magalhães e Bertoco ao programa, logo após minha saída, foi resultado de acordo financeiro firmado com ambos, tempos atrás, e eu já havia sido informado disso. Nada a ver com o que foi dito por F.M., de que o grupo carneirista havia comprado o horário para calar minha boca – afinal, não mereço tanto! Depois de minha saída, as posturas e atitudes dos que ficaram falaram por si, naquela emissora. Um abraço.

Orlando Costa – radialista.

 

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