Para a igreja católica, a quaresma não é apenas o período de 40 dias que antecede a Semana Santa, quando se cultua a Paixão e Morte de Jesus Cristo, mas o tempo que o ser humano permanece na terra para cumprir um compromisso firmado espiritualmente com Deus e também com a sociedade, quando a pessoa recebe o sacramento do batismo.

Isso pelo menos é o que se depreende das explicações do monsenhor Antônio Santcliments Torras (foto), responsável pela Paróquia de São João Batista. "Temos um compromisso com Deus porque no batismo nos comprometemos a sermos filhos de Deus e a tê-lo como Pai e temos um compromisso com a sociedade, porque como membros da família de Deus temos responsabilidade de construir uma sociedade diferente", explicou.

Trata-se do compromisso de atender um projeto de Deus de criar uma sociedade onde todos tenham o necessário para viver dignamente e em paz, razão pela qual a igreja católica realiza, anualmente, a campanha da fraternidade, que, segundo o monsenhor, nada mais é do que lembrar que nós somos irmãos.

"Portanto, não há distinção entre pobres e ricos, entre analfabetos e alfabetizados ou diferença alguma entre brancos e pretos. Tudo isto são diferenças secundárias. O pobre de hoje pode ser rico amanhã e o rico de hoje pode ser pobre amanhã. E todos, um dia morreremos materialmente, nosso corpo virará pó", ensinou.

E o fato de todos virarem pó após a morte material, de acordo com o monsenhor, é que dá o significado para a ‘quarta-feira de cinzas’: "Nos recorda que dentro de alguns anos, e não sabemos quanto, nós vamos virar um pouco de pó. Mas nós fomos criados para viver eternamente, por isso a grande missão de Jesus é trazer esta dimensão de vida e vida eterna, e vida plena, porque deve ser uma vida de paz e de felicidade. Uma vida eterna, porque a morte não pode com ela. Esta é a dimensão da quaresma".

Já sobre a abstinência, por exemplo, ele explica que é muito mais do que comer carne ou não, mas simplesmente um lembrete de que devemos aprender a controlar os nossos instintos: "O que nos leva realmente ao pecado é simplesmente o mau uso daquilo que Deus nos deu, que são os meios para vivermos em paz e continuarmos felizes".

"Para continuarmos sadios, acrescentou, tanto corporal quanto espiritualmente. Para conservarmos nossa vida, Deus nos deu o gosto na comida e na bebida e se fizermos abuso desses dons, vamos prejudicar nossa saúde".

O monsenhor citou os casos das bebidas alcoólicas, que podem prejudicar nossa vida e a dos outros, e as drogas, como maconha e cocaína, que além de destruir a vida criam vários problemas sociais.

Ele explica ainda que Deus colocou outros instintos no ser humano: "O instinto sexual, colocado por Deus, é um dos instintos mais sagrados, porque Deus o escolheu para facilitar a missão que a mãe tem de transmitir a vida. Colocou a sexualidade no ser humano, tanto no homem quanto na mulher".

Entretanto, ressalta que a sexualidade acabou se transformando num brinquedo e virou simplesmente uma maneira de divertir-se: "Isso está errado", enfatizou. A conseqüência disso, lembra o monsenhor, são as famílias divididas. "A mulher e o homem dizem que têm o direito de serem felizes e abandonam os filhos e temos um problema social gravíssimo", reforçou lembrando que muitas vezes o prazer sexual acabe em abortos. "Isso faz com que hoje tenhamos uma multidão de pessoas "taradas sexualmente", afirmou.

A igreja, contou, diz que temos que ser donos de nós mesmos e a coisa pior é ser escravo de si mesmo e dos instintos: "A coisa mais bela que temos que procurar é ser realmente pessoas livres, não apenas dos outros, mas de nós mesmo. Eu para conservar a minha vida e não abuso nem da comida e nem da bebida. As drogas não são boas para mim e nem para a sociedade. Posso controlar o sexo se for dono de mim e, portanto, não ser escravo dele".

Porém, mostra o monsenhor, que em relação à bíblia, quaresma é um tempo de preparação para a libertação. Segundo ele, "no antigo testamento encontramos a quaresma como um sinal de uma libertação de um povo que estava escravo e que Deus, através de Moisés, os libertou da escravidão do Egito e conduziu para um lugar onde se instalaram e viveram em paz. Diz a bíblia que este povo ficou 40 dias no deserto e aí é um dos significados da quaresma".

Outro significado mostrado pelo monsenhor foi quando Jesus Cristo começou a sua vida de pregações. Também diz o evangelho "que ele se retirou durante 40 dias no deserto preparando-se para a vida pública, jejuando e fazendo penitências para a grande obra que iniciaria e, praticamente, iniciar a sua igreja. Daí vem à palavra quaresma".

No entanto, de acordo ainda com o monsenhor, a palavra quaresma no sentido exato, não marca um período específico, ou seja, não delimita espaço de tempo. "Quaresma quer dizer um período longo. Quantos anos? Pode ser mais e pode ser menos", finalizou.