17 de julho | 2016

Diretor da UPA declara que não disse que Saúde escondeu morte por H1N1

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O médico e diretor técnico da UPA, José Carlos Ferraz, enviou, na tarde da sexta-feira, 15, e-mail endereçado ao editor desta Folha, advogado, filósofo e jornalista, José Antônio Arantes, onde solicita que o jornal reconheça o equívoco cometido ao anunciar o primeiro caso de morte de pessoa infectada com o vírus da gripe Influenza A, denominada cientificamente por H1N1, mas conhecida popularmente por gripe suína, em meados do mês de junho passado.

Ferraz inicia sua manifestação dizendo: “Este jornal, “Folha da Região”, na edição do dia 09 de julho de 2016, divulgou matéria sobre um caso de morte por H1N1 em nosso município, que tiveram conhecimento através de uma entrevista por telefone, que concedi ao repórter deste jornal. Acontece que fica subentendido na manchete da primeira página, que eu, diretor técnico da UPA, teria dito que a Saúde local teria escondido a referida morte, o que não é verdade, e por isso, com todo apreço que tenho por vossa senhoria, solicito que o equívoco seja reconhecido, e levado ao conhecimento dos seus leitores”.

O diretor técnico da UPA disse também: “Embora o óbito tenha ocorrido no dia 09 de junho, somente no dia 25 a secretaria da saúde teve a confirmação de que, a causa suspeita da morte, realmente tratava-se de H1N1. Se a reportagem deste jornal tivesse procurado por informações, após esta data, certamente teriam a confirmação deste óbito”.

E continuou Ferraz: “É verdade que disse ao seu repórter que não somos obrigados a relatar para a imprensa as doenças que são atendidas pela UPA. Não se trata de silêncio garantido constitucionalmente como disse, ou que escondemos casos de doenças atendidas. Não somos obrigados, e à bem da verdade, somos proibidos por lei. O Código de Ética Médica é bem claro quando diz em seu Art. 73 que: “É vedado ao médico revelar fato de que tenha conhecimento em virtude do exercício de sua profissão, salvo por motivo justo, dever legal ou consentimento, por escrito, do paciente.” Permanece essa proibição mesmo que o fato seja de conhecimento público ou o paciente tenha falecido”.

Complementando, José Carlos Ferraz, destacou: “cumpre-me finalmente, informar aos seus leitores que houve uma cobertura vacinal contra a gripe além das expectativas em nosso município. Todos os pacientes com suspeita de H1N1, têm sido bem atendidos em todas nossas unidades de saúde. Os suspeitos recebem orientações e medicação específica. Os casos que inspiram mais cuidados são internados em isolamento na Santa Casa. Até o presente momento, segundo dados da secretaria, 35 casos foram internados. Somente 11 casos confirmados laboratorialmente como H1N1, e infelizmente, destes, dois foram a óbito”.


OUTRO LADO DO OUTRO LADO!
Editor da Folha mantém a interpretação de que
Saúde local estaria escondendo casos de H1N1

O editor desta Folha, jornalista José Antônio Arantes (foto), comentando a nota enviada pelo diretor técnico da UPA (Unidade de Pronto Atendimento), afirmou que o jornal, em momento algum, declarou que o diretor da UPA teria afirmado o que disse ter ficado subentendido. “Não há o que reconhecer, pois não foi dito. O que foi interpretado pelo jornal é que o fato de o médico “confirmar” o caso de morte por H1N1, pois a informação tinha sido obtida através do diretor clínico da Santa Casa local e não pelos órgãos competentes e, também por afirmar com todas as letras que a Saúde não era obrigada a informar os casos de doenças tratadas na cidade, levavam a praticamente certa conclusão de que a Saúde local estaria escondendo os casos da doença no município”, explicou.

O jornalista também destacou que a nota, inclusive, reafirma mais ainda esta convicção, uma vez que, pela primeira vez alguém ligado ao governo, no caso o médico José Carlos Ferraz, diretor técnico da UPA, divulga números pelo menos plausíveis de ser creditados como concretos: “Até o presente momento, segundo dados da secretaria, 35 casos foram internados. Somente 11 casos confirmados labora­torialmente como H1N1, e infelizmente, destes, dois foram a óbito”, escreveu o médico.

Esta informação também é passível de interpretação da confirmação de que apenas os casos de internação é que são submetidos a exame labora­to­rial. Portanto, apenas destes 35 em que foram feitos os exames é que se confirmaram os casos e, por isso, não representam a realidade da cidade. Pois podem ser poucos ou milhares que podem ter sido acometidos da doença e que, por não terem feito nenhum exame, ficarão sem saber se tiveram o vírus em seu organismo ou não.

Ainda sobre a manchete da semana passada Arantes reforça: “A Folha da Região, como é semanal, não trabalha com o jornalismo informativo e, sim, com o interpretativo, ou seja, interpreta para os leitores os fatos ocorridos. A manchete do jornal apenas interpretou que o diretor da UPA confirmou uma morte de pessoa contaminada pelo vírus, alegando também que a Saúde não tem obrigação de divulgar as doenças, o que corrobora a interpretação deste jornal e que vem sendo divulgada há várias semanas, ou seja, que a Saúde estaria escondendo dados sobre esta doença”.

Já sobre o questionamento feito pelo médico sobre o porque de não se constar nas matérias pelo menos que foi ligado para o “outro lado” e não se obteve resposta, contou que foi opção sua, “pois já se vão vários anos que os representantes do atual governo não atendem esta Folha. Inclusive, existe gravação comprovando isso, mostrando que um assessor de imprensa pergunta para a telefonista se é da Folha e manda dizer que não está”.

E continua: “O governo transparente do atual governante há muito não dá informações para o jornal, que não se furta de sempre que pode mostrar o tal do outro lado, ao aproveitar as entrevistas dadas a outros órgãos de comunicação e mesmo através de manifestações dos representantes do atual governo pela internet, principalmente nas redes sociais”.

“Só para ilustrar, continua Arantes, tivemos que ficar sabendo da primeira morte por H1N1 através do diretor clínico da Santa Casa. E, aliás, se isto não tivesse acontecido, não acredito que a cidade estaria sabendo que uma mulher de pouco mais de 40 anos morreu vítima deste vírus. E, o que é pior, se pela mesma fonte também não se tivesse notícia de que a comerciante que estava com suspeita da gripe havia morrido vítima da doença, talvez a cidade não ficasse sabendo disso também”, enfatizou. 

A respeito da argumentação legal sobre divulgar dados médicos citada na nota do médico, Arantes contesta: “Meu amigo Ferraz se confunde. Uma coisa é divulgar dados pessoais de pacientes. Outra é divulgar casos e informações sobre as doenças que estão acometendo a população local. E é isto que o jornal vem cobrando da Saúde e do governo local. Se até isso não pudesse ser divulgado, a região não teria ficado sabendo dos casos que estão sendo divulgados há vários meses pela TV Tem e pelo Diário da Região. Imaginem os casos de Aids, então. A constituição é soberana, caro Ferraz. Está acima de qualquer código de ética médica. E o direito da população ser informada dos riscos que está correndo é, além de tudo, questão de ética geral e não médica. Ademais, em certos momentos, o referido médico fala como médico e em outros como representante do governo. Uma coisa é uma coisa. Outra coisa só pode ser outra coisa”, afirma o editor desta Folha.

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