13 de junho | 2011

Caos na rede pública pode ser até pior que o da Santa Casa

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O fato de um homem que apresenta um quadro de úlcera no estômago, inclusive já com sangramento, estar aguardando há aproximadamente três meses por um exame de endoscopia, revela o quanto está vulnerável a saúde pública no município de Olímpia.


Foram muitos os problemas detectados pela Folha com pacientes que buscam consultas ou mesmo exames médicos no Ambulatório de Referência e Especialidades (ARE), que funciona no Centro de Saúde Dr. Waldemar Lopes Ferraz.


Embora se trate de situações que são negadas veementemente pela Secretaria Municipal de Saúde, em poucos dias ouvindo pessoas que necessitam de atendimentos, chega-se à conclusão que o setor vive um verdadeiro caos, talvez até pior do que o que passa, atualmente, o único hospital da cidade, a Santa Casa de Misericórdia.


Casos como o deste cidadão e de várias pessoas como, por exemplo, uma mulher que necessita dos serviços de um neurologista, pois percebe que o medicamento que toma não faz mais o efeito desejado e uma consulta somente se for um caso de urgência, o que não foi considerado o dela, ou ainda de outra paciente que aguarda desde janeiro para passar por um nefrologista.


Isso sem contar as situações em que as pessoas que necessitam de um ortopedista, como no caso de uma mulher que passou por uma cirurgia no pé, que ainda sente dor, e a única coisa que conseguiu saber é que o osso não colou. Porém, nada de uma consulta para que pudesse obter uma solução para seu problema.


Há ainda o caso de uma mulher que informou que necessita de um clínico geral, que seja, para tratar uma forte gripe e, segundo ela, a consulta foi marcada apenas para o final de junho.


Por outro lado, de dezenas de postulantes a uma consulta ou exame médico, ouvidos pela reportagem desta Folha entre os dias 24, 25, 26 e 27 de maio, apenas uma mulher informou que havia conseguido uma consulta para dentro de 15 dias, isso porque a filha trabalha no ARE.


OBRANDO SANGUE


Mas das várias situações preocupantes a de R (letra fictícia) é uma das que chama a atenção. Ele demonstra duas situações contrárias à boa qualidade de atendimento que atualmente nem podem ser mais consideradas inusitadas em razão da quantidade de casos que têm sido verificados. Além disso, segundo o que relata, estaria sendo jogado de um lado para outro sem obter solução. E segundo ele a situação já se repetiu uma dezena de vezes.


“Faz três meses que estou tentando fazer um exame aqui (ARE) e na Santa Casa e nunca dá certo.

Hoje vim para marcar disseram que era aqui (mostrando um lado do prédio) eu fui e me disseram que era lá de novo (mostrando o outro lado). Não consegui fazer o exame ainda”, reclamou.

“Se for fazer no particular custa R$ 600 e quero fazer pelo SUS. Eles mandam ir à Santa Casa e a Santa Casa mandam vir para cá (ARE). Ontem eu vim e me disseram que era aqui e hoje disseram que era ali de novo. Você vai de um lado para outro e não consegue”, reforçou.


R diz que já passou pelo médico e que seu problema já está bastante grave. “Sinto dores no estômago e estou defecando só sangue todo dia. Eu trabalho na usina, corto cana, e agora estou numa situação que não estou podendo trabalhar. Hoje (27/5) não fui trabalhar, porque não aguentei. Não sei o que vou fazer, estou numa situação difícil”, avisa.


M que tem problemas na coluna cervical está há, aproximadamente, três meses tentando mostrar sua radiografia para um ortopedista e não consegue. O médico que solicitou o exame, cujo nome será preservado pelo jornal, não atua mais na rede e ela não consegue marcar consulta com outro da área.


“O exame já faz três meses que está lá. Se tivesse que morrer já tinha morrido. Quase todas as semanas que venho não estão marcando. Agora eu vou pagar uma consulta com outro só para ver um exame? Não posso”, afirma.


Outro caso que chamou a atenção é o de MD que tenta marcar uma consulta desde janeiro e não consegue. “Vou morrer e não vou marcar. Está me dando batedeira e o médico me deu um encaminhamento para um vascular e é para eu voltar no dia 6 de julho, mas só para marcar e não para passar pelo médico”.


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