30 de setembro | 2018

Quer brincar comigo? Do que a gente vai brincar? Então faz de conta que…

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Maria Antonia de Oliveira

Quem se lembra de dizer frases como essas? É só puxar um pouco pela memória e com certeza recordações saborosas virão à tona.  Os lugares onde aconteceram… os amigos, companheiros nas viagens de imaginações e fantasias.  As consequências… às vezes nem tão felizes… um tombo, uma bronca, uma briga… mas considerando o “pacote todo”, o saldo das brincadeiras de infância, na maior parte das vezes, é muito positivo.

Quando embarco nessa vibe, obviamente me vejo na grande casa da minha Vó Isa. Foi lá que morei até os sete anos e continuei como vizinha de frente até os dezoito. Essa casa, onde hoje funciona o Museu do Folclore, tem em seu DNA vibrações de acolhimento, alegria, histórias, brincadeiras, conhecimento e criatividade.

Em um dos quartos dessa residência, entre os anos 50 e 60, existiu um malão de madeira, desses que as pessoas costumavam guardar enxovais, onde minha mãe guardava nossos brinquedos. Era fechado com chave. A gente só podia ver os tesouros quando Dona Antonia se dispunha abri-los para “arrumar a mala de brinquedos”.

Havia coisas como um urso amarelo de pelúcia que ganhei quando fiz um ano, maior do que eu. Boneca francesa de longos cabelos ruivos. Miniatura de um tanque de guerra alemão. Mesinha de fórmica e cadeirinhas almofadadas, cada uma de uma cor. Ferrinho de passar roupa que esquentava de verdade. Maquininha de costura “Leonan Baby” que funcionava mais ou menos. Minha boneca Aurora, de cabelos curtinhos e emaranhados.  Pequena harpa,  com a palheta e partituras. Piorra de alumínio com listas coloridas. Dorminhoca de pelúcia preta. Fogãozinho de lata com panelinhas. Pierina, uma boneca da minha irmã, com uma roupa chique, e muitas, muitas outras coisas que atiçavam a curiosidade e vontade de brincar.

Por que minha mãe deixava os brinquedos trancados? Na lógica dela, não queria que os cinco filhos estragassem tudo.

Pois bem, os brinquedos não fizeram falta. Talvez a ausência deles tenha favorecido nossa imaginação. No dia a dia brincávamos com as caixas de colocar laranjas (eram grandes, dava para entrar duas crianças nelas), transformavam em excelentes barcos e trens. Pegávamos escondido da Dona Ercília, a cozinheira, colheres para cavoucar terra, construir túneis e cisterninhas. Cozinhávamos em latas vazias de tinta, estranhas sopas de goiabas verdes. Procurávamos cacos de pratos quebrados jogados no quintal (esta imagem preciosa virou poesia e ganhou o mundo nos livros do meu amigo Rubem Alves – “Cacos para um vitral”).

Em uma ocasião, descobrimos no alto de um guarda-roupa um monte de antigos vestidos de baile das minhas tias. Foi a inspiração para criarmos uma apresentação de teatro envolvendo quase todos os netos. Até hoje sinto não termos gravado toda aquela expressão criativa.

Poderia ficar aqui muito tempo, puxando um longo cordão de reminiscências… mas acredito que estas já são suficientes. Ao contar as minhas quero despertar em quem lê, recordações próprias e a vontade de:

Visitar a 1. Exposição Brinquedos e Criatividade que acontecerá no Museu do Folclore durante todo mês de outubro. Para maiores informações ligue 3281-6436.

Colaborar na criação, para o Museu do Folclore, de um acervo permanente de brinquedos antigos e/ou artesanais. Como? Desapegando e doando brinquedos que por ventura ainda tenha (Viu Dr. Luiz Paulo Campos?)

Por causa das vivências relatadas, sou fascinada por esse assunto. Como psicóloga, educadora e pesquisadora de Criatividade, aprendi e confirmo cada vez mais que brincadeiras e brinquedos são agentes definidores na construção do nosso entendimento do mundo –  do nosso mundo interior, tanto nos aspectos cognitivos como afetivos.

Em 2002 visitei o Museu do Brinquedo em Sintra -Portugal (infelizmente agora fechado), com mais de 60.000 brinquedos, e fiquei mais apaixonada. Comecei a ir atrás de outros. Em Londres, vi dois – um pequeno e delicioso – Pollock’s Toy Museum & Shop http://pollockstoys.com/#home e o fantástico V&A Museum of Childhood Victoria and Albert Museum https://www.vam.ac.uk/moc/

Aqui no Brasil, fui no Museu dos Brinquedos em Belo Horizonte http://w w w . m u s eu  dos brinque dos.org.br/ . No Museu da Educação e do Brinquedo da USP, em São Paulo e no Museu de Brinquedo de Fortaleza, o http://m u s e u d o b r i n q u e d o d e f o r t a l e za .b l o gspot.com/ . Dois deles encontrei fechados e fiquei só espiando pela vidraça, quase chorando de vontade de entrar.

Bem mais do que proporcionar um encontro nostálgico e o registro de uma época, o que me encanta nesses lugares é a celebração da fantasia, da imaginação e da Criatividade. No Chile conheci o MIM – Museu Interativo Mirador https://www.mim.cl/index.php/pt/ tão maravilhoso que precisei voltar lá com meus filhos.

Em São Francisco também procurei e amei o Children’s Creativity Museum https://creativity.org/. Eles dizem que têm como missão “Nutrir a criatividade, colaborando com todas as crianças e famílias. Acreditando que a expressão criativa, inovação e pensamento crítico são essenciais para promover a próxima geração. “

Sinto que estamos com a faca e o queijo na mão para dar início ao nosso espaço de incentivo à Criatividade.  Vamos aproveitar esta gestão da prefeitura e da Secretaria de Cultura, onde pessoas idealistas são capazes de ver a importância de mais esse recurso para a cidade.  Sei que o Sr. Fernando Cunha, o Dr. José Luiz, a Sra. Tina Riscali, a Sra Rosely Seno e muito mais gente podem concordar com o que alerta um grande pesquisador da área:

“A criatividade é um bem social, assim como a saúde e a educação, sendo todas condições básicas para o bem-estar pessoal. Um povo sem criatividade é como um grupo humano preso pela imobilidade, preso à escravidão e submetido a sociedades com maior potencial criativo”, De La Torre.

Esperamos sua visita à Exposição Brinquedos e Criatividade.

PS. Chegou uma época em que minha mãe deixou a mala de brinquedos aberta. Os netos fizeram festa. Sobrou o ferrinho de passar roupa. Ele está lá na exposição.

 

Maria Antonia de Oliveira é mestre em Psicologia, educadora, especialista em Superdotação/Altas Habilidades,  psicoterapeuta e escritora. Entre os livros publicados estão: Terra de Formigueiro; David de Oliveira  – um homem de alma grande; Viagem pelo mundo interior. Recentemente lançou pela Amazon “Jorney trought the inner world”.

Contato: poesiamaria@yahoo.com.br

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