10 de setembro | 2017

O Moderno O Pós-Moderno O Eterno…

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Ivo de souza

Em primeiro lugar é preciso deixar bem claro que caminhar na direção da modernidade não significa (mesmo!) construir uma obra moderna no centro da velha praça (aliás, Rui Barbosa anda esquecido, não?). É muito mais que isso. A cidade precisa ser moderna em todos os seus aspectos, inclusive e principalmente na forma de pensá-la.

E ainda que a verba, para a construção da obra, seja estadual não importa: é dinheiro público, saiu dos bolsos de quem paga impostos e não do bolso do sr. Geraldo Alckmin ou de quem quer que seja que represente o seu governo (ainda poderá haver uma contra partida mínima, de quanto exatamente?) dos cofres municipais.

Se a verba é “carimbada” (por que será que a “carimbam”?), não poderia ser usada na restauração do prédio da estação ou da Beneficência? Estaria do mesmo modo sendo usada na área do turismo – aliás, a cidade não precisa ficar bonita apenas no centro (e a praça já havia sido revitalizada pela gestão anterior). Será que a revitalização já ficou velha? Ultrapassada?

Não é o fato de o sr. Ruy Ohtake ser “um dos mais renomados e importantes arquitetos brasileiros e que tem reconhecidas obras espalhadas pelo Brasil e pelo mundo” que desautorizaria a população a omitir o que pensa a respeito do tema (“livre pensar é só pensar”, já dizia Millôr).

A população deve, sempre, opinar sobre o que é realizado em sua cidade. E, no caso de uma obra dessa envergadura, é natural que surjam a mais diversas opiniões a respeito do tema. É um direto que assiste a todo cidadão olimpiense – todas as manifestações, nesse sentido, devem ser respeitadas. Todas. Menos as  ofensivas e partidárias.

Se há opiniões que dizem respeito ao fato de o cidadão ser “contra” o prefeito, essas não se justificam e não se sustentam em si mesmas (não são argumentos sólidos, de boa-fé, e, por isso, não permanecem de pé ao mais simples contra-argumento – palavras ao vento. Apenas isso. Pa­role, parole, parole…

O projeto merece, sim, ser recebido “com carinho, respeito”, o que não invalida o fato de o cidadão debater a construção da obra (olha a liberdade de expressão, meus senhores!) por ser o arquiteto um homem (“nome”) responsável e reconhecido internacionalmente.

Todo o nosso respeito ao sr. Ruy Ohtake e a seu conceituado trabalho aqui e lá fora. Mas debater é preciso, respeitando o que o outro pensa, dentro da maior civilidade. Sem esta ou aquela tendência política – sempre no nível das ideias. Cores políticas e siglas (políticas) não têm espaço neste debate.

A propalada moderni­dade deve estar presente  em todos os setores da sociedade olimpiense. Criar uma obra (bela) como a de Ohtake, na praça central, não significa que as pessoas também estejam-se modernizando, superando ideias retrogradas, a forma como veem o outro (fora a intolerância!), as mentes estejam abertas em relação aos fatos da vida, repudiando preconceitos e realizando o processo de desconstrução das ideias arcaicas e obsoletas, enfim, de tudo que possa gerar violência. Liberdade, Igualdade e Fra­ternidade deveria ser o lema, o mote que impulsionasse a vida de todos os homens . Assim, estaríamos no mais belo trajeto rumo ao moderno (ideias modernas). Ainda que nessa jornada tivesse uma pedra bem no meio caminho (e sempre há pedras).

Ah! Em tempo: Quando perguntaram ao mestre Carlos Drummond de Andrade se ele era moderno ou pós moderno, do alto de sua sabedoria e da humildade de sua minei­rice e timidez, respondeu: – Eu só quero ser eterno (ou “Sou eterno”).

Eu considero o prédio da estação ferroviária e o da Beneficência mais bonitos que a obra do eminente escultor (com todo o respeito ao artista); outros preferem a modernidade da arquitetura a ser erguida na praça Rui Barbosa; outros, ainda, não estão nem um pouquinho preocupados com esse assunto. Estão muito mais preocupados com o “pão nosso” de cada dia – que anda difícil de ganhar.

Assim é a vida. E se assim não fosse não teria graça… O debate saudável. (não contaminado por cores políticas) é indispensável. Em qualquer sociedade democrática do mundo. É o pensar, o refletir sobre tudo o que diz respeito ao humano e ao mundo em que vivemos e, principalmente, à cidade onde moramos.

Ivo de Souza é professor universitário, poeta, co­lu­nis­ta, pintor e membro da Real Academia de Letras de Porto Alegre.

 

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