O que move o ser humano é o sonho, a ilusão, a esperança de que o dia de amanhã possa ser bem melhor que ontem e hoje.

Do Conselho Editorial
Às vezes, o ser humano chega a ter a sensação de que não há mais nada de novo sob a luz do sol, nada mais a ser criado, a ser escrito e até a ser vivido.

Os dias e as ações humanas se repetem de tal maneira que vão solidificando nos pessimistas a sensação de que dias piores virão.

Uma pessoa comum, se parar para pensar, inevitavelmente concluirá que um país que possui 5.565 municípios, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), e que 73% desses municípios têm entre 10 e 20 mil habitantes, chega-se a um panorama conflitante.

A maioria destes municípios tem um orçamento precário que não permite o atendimento de suas necessidades e, mesmo assim, contam com Câmaras Municipais e políticos corruptos para ampliar a miséria da população e a ausência do poder público nos serviços essenciais.

O Brasil se consolidou como um dos maiores exportadores agrícolas do mundo.

O país, que já era líder nas vendas de café verde, carne bovina, frango in natura, celulose, soja em grão e açúcar, agora também é o maior exportador de milho, superando os Estados Unidos.

Estes números deveriam alimentar o otimismo de grande parte da população, não fosse o fato de que, embora o país seja o terceiro maior produtor do mundo, segundo relatório divulgado pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), 21,1 milhões de brasileiros se encontravam em situação de insegurança alimentar.

O salário mínimo do país é de R$ 1.320,00, e em setembro de 2023, o custo da cesta básica na cidade de São Paulo foi o terceiro maior entre as 17 cidades, custando R$ 734,77.

O salário mínimo ideal para uma família deveria ter sido de R$ 6.528,93 em julho, segundo cálculos do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos). O valor corresponde a 4,95 vezes o valor do salário mínimo atual, que é de R$ 1.320,00.

Para aquecer a narrativa, as mudanças climáticas causadas pela ação humana foram determinantes para a ocorrência das ondas de calor que superaram os 40ºC em grande parte do Brasil e na América do Sul em setembro deste ano.

A conclusão é de um estudo de cientistas ligados à Rede Mundial de Atribuição (WWA). A informação foi divulgada por pesquisadores do Serviço de Mudanças Climáticas Copernicus da União Europeia.

O calor é resultado do aumento dos gases de efeito estufa e do El Niño.

O ano de 2023 deve terminar como o mais quente em 125 mil anos, segundo cientistas europeus.

No quesito paz, pode-se observar que as denúncias de casos envolvendo violência nas escolas subiram cerca de 50% em 2023, informação do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC). De janeiro a setembro, foram registrados 9.530 chamados por meio do Disque 100.

De acordo com o Consórcio Monitor da Violência, uma mulher é morta a cada 6 horas no país e uma menina ou mulher é estuprada a cada 9 minutos.

No Distrito Federal, o total de mortes até o mês de junho já superou o número total do ano de 2022, ano em que o Brasil teve um recorde de feminicídios, com 1.437 vítimas, um aumento de 6,1% em relação ao ano anterior.
Razão para que crianças, mulheres e idosos não estejam tão confiantes no que o futuro pode reservar.

Um levantamento da Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos aponta que houve um aumento de 38% nos casos de violência contra pessoas idosas no primeiro semestre de 2023 em relação ao mesmo período do ano passado.

Foram mais de 65 mil denúncias, e o crescimento foi registrado em todos os estados do Brasil e no Distrito Federal.

Resta à população, diante deste quadro, acreditar que em algum ponto o estado está oferecendo serviço de qualidade, mas é muito difícil, principalmente se o Brasil ficou em 94º lugar entre 180 países no ranking mundial do Índice de Percepção da Corrupção (IPC) de 2022, que mede como a integridade do setor público é vista internacionalmente e é divulgado pela Transparência Internacional.

A corrupção no Brasil afeta diretamente o bem-estar dos cidadãos ao diminuir os investimentos públicos na saúde, na educação, em infraestrutura, segurança, habitação, entre outros direitos essenciais à vida, e fere a Constituição ao ampliar a exclusão social e a desigualdade econômica.

A corrupção é, entre outras coisas, causada pela ganância, níveis mais altos de monopolização do mercado e política, baixos níveis de democracia, fraca participação civil, baixa transparência política, níveis mais altos de burocracia e estruturas administrativas ineficientes, baixa liberdade de imprensa e baixa liberdade econômica.

O que move o ser humano é o sonho, a ilusão, a esperança de que o dia de amanhã possa ser bem melhor que ontem e hoje, no entanto, a repetição de fatos negativos, que vão se ampliando no Brasil e mundo afora, produzem nas pessoas uma sensação de desistência da continuidade da luta por sobrevivência.

E, às vezes, diante de tantas iniquidades, crueldades e maldades, o ser humano chega a ter a sensação de que não há mais nada de novo sob a luz do sol, nada mais a ser criado, a ser escrito e até a ser vivido, e conclui que tudo já foi dito e que não há mais do que se falar.

Nestas horas, um enorme zepelim deveria cruzar o céu particular de cada um com uma enorme faixa lembrando que existe a palavra “Resistência”.
Resistir é preciso.