09 de janeiro | 2022

Iquegami, Kokão, Circo da Aurora e há palhaços e Palhaços

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“No final, cada um dos leitores que decida se o Circo
da Aurora acabou, se não vai voltar, se há palhaços
com p minúsculo, se há Palhaços com P maiúsculo
, se não há palhaços de forma alguma, ou se,
na verdade, o povo é feito de palhaço”.

 

Do Conselho Editorial

Em entrevista concedida a este jornal no final do ano passado os vereadores Márcio Henrique EitiIquegami e Zé Kokão emitiram pontos de vistas perdidos entre o surreal e o absurdo que merecem ser analisados a luz de outras possibilidades.

Zé Kokão, advogado, fez uma viagem na maionese, correndo inclusive o risco de esquecer as declarações em uma gaveta e ler tempos depois e se perguntar quem foi o sofista que falou tanto sem dizer nada ou coisa alguma.

Sofisma significa um pensamento ou retórica que procura induzir ao erro, apresentada com aparente lógica e sentido, mas com fundamentos contraditórios e com a intenção de, no caso, talvez ludibriar a boa fé da população.

Iquegami, médico, não se pode dizer que sofismou.Foi direto, contundente e abundante em desinformação.

Merece uma avaliação mais aprofundada e técnica,razão pela qual se começa pela sua entrevista.

“Circo da Aurora” não vai voltar. “Por enquanto tem apenas um ou outro palhaço no picadeiro”.

Há um grande equivoco na fala, visto que o meio de comunicação que trata como espetáculo circense algumas manifestações ou sessões do Legislativo nunca afirmou que o Circo teria ido embora.Cabe ao criador do termo a interpretação se os espetáculos terminaram ou não.

Se o Circo da Aurora não foi, como poderia não voltar? Eis aí um paradigma digno de ser discutido a luz da filosofia.

Seria a volta do que não foi?

Ademais, o jornalista não se refere a circo apenas a posicionamentos pessoais que demonstram descontrole, excessos de linguagem, abusos, a questão é política e o nível da discussão é outro.

Diga-se de passagem e por amor ao debate, sem citar nomes, um ex-presidente do Legislativo, há muitos anos, já recorreu ao Judiciário em razão do termo Circo da Aurora e não foi feliz na tentativa.

Márcio destacou também que ele entende que o vereador é representante dos seus eleitores e tem que fazer o que é melhor para a cidade e não para os próprios eleitores particularmente”.

Nossa Carta Política de 1988, a carta cidadã, estabelece em seu Art. 1º, Parágrafo Único.

“Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta constituição”.

Logo, infere-se que todo poder é emanado do elemento povo que é constituído do indivíduo, do simples alguém, da pessoa, do ser humano, do sujeito de direitos, do cidadão, daquele que, iludido que seria ouvido nas horas das decisões, votou no Iquegami.

Note-se que o poder é do povo (soberania popular) que elege os seus representantes ao outorgar-lhes ou delegar-lhes um mandato parlamentar, para o Legislativo ou para o Executivo.

Mas, é importante destacar que, não lhes é outorgada nenhuma procuração para tomada de decisões sem consultar pelo menos suas bases.

Márcio, se não compreendeu ainda, está em tempo de compreender que o voto é secreto, não sabendo os eleitos quem votou nele.

Por outro lado, o texto constitucional não fala em eleitores do eleito (Iquegami) e sim em poder emanado pela vontade de maioria (povo).

Para os autoritários, depois de eleitos, é meio complexa esta equação, por sinal, vivenciada nos regimes mais autoritários do planeta: a representação de fachada

O vereador Márcio Henrique EitiIquegami, na referida entrevista, declarou, entre outras coisas, que a polêmica em torno da reforma da Lei Orgânica tem que ser melhor discutida, pois, segundo ele, o tal do referendo não impede que o prefeito possa privatizar o Daemo.

O referendo é uma forma de consulta popular sobre matéria de acentuada relevância, na qual o povo manifesta-se sobre uma lei após ela estar constituída.

Através do referendo o cidadão ratifica ou rejeita o que lhe for submetido.

Um exemplo pra não ficar soltinho no ar.

O referendo sobre a proibição da comercialização de armas de fogo e munições, ocorrido no Brasil a 23 de outubro de 2005, não aprovou o artigo 35 do Estatuto do Desarmamento (Lei 10.826 de 22 de dezembro de 2003).

Segundo Iquegami, “O termo que está na lei é um termo que não ajuda a população. O referendo ele vem depois da lei aprovada. Se o prefeito quiser sancionar a lei ele sanciona.”

Não parece que seja desta maneira, ou talvez seja assim em Cuba, China ou na Venezuela.No Brasil, por enquanto, parece que não é, e não sendo, o referendo tem importância sim, e sendo, deixa ele lá na lei, privatiza, sanciona e o povo depois vê o que pode ser feito.

Fechando o texto, ideal dar uma passada de olhos em algum ponto filosoficamente complexo da declaração de Zé Kokão.

“Sabemos o quanto é importante o envolvimento da sociedade civil na tomada de decisões sobre questões essenciais para o desenvolvimento da nossa cidade”.

Esta é uma frase superelogiável por reproduzir exatamente o texto constitucional que diz que o poder emana do povo embora destoe em gênero, número e grau de Iquegami, e o povo, nesta confusão verborrágica, não sabe se ri ou se chora.

Em razão do diversionismo não tem como saber se é comédia ou drama nestas horas, só resta aplaudir um e vaiar o outro.

E como não deve ter combinado com Márcio, ressaltou que, apesar de todos os impactos vivenciados no município, na gestão dele, manteve sempre um olhar multifocal para o atendimento humanizado dos cidadãos.

“Priorizamos projetos que contribuíram para o bem estar econômico e social, e nos mantivemos atentos e solidários para todas as questões relativas a vida dos cidadãos olimpienses”.

Avançou um pouco mais: “Para 2022, a nossa proposta é de uma gestão participativa elaborada com a colaboração de todos os funcionários e da sociedade civil, através de várias ações como o conhecendo o parlamento para alunos”.

Destacou ainda que: “acreditamos que uma boa gestão precisa ser realizada com a união, participação e comprometimento de todos, com metas e objetivos bem definidos. Lembrando que a união e o respeito são marcos dessa gestão atual”.

Conclui-se que há uma divergência profunda entre as falas, um exclui a população das discussões importantes e o outro inclui, ou passa a impressão que inclui, em tudo, não há cabeça que entenda este samba do Crioulo Doido.

Como todo bom sofista que sabe que a nobre arte de iludir incautos implica em frases de efeito apelou para:

“Termino com uma frase do filósofo Baltasar Gracián, ‘Fique contente em agir. Deixe a fala para os outros’.

Maravilhosa frase de Gracián que escreveuA arte da sabedoria mundana e Arte da prudência entre outros livros.

Parece que faltou prudência e sabedoria na escolha do autor, pois o mesmo é apontado por muitos críticos como autor pessimista (o que é coerente com o período barroco);Gracián apresenta um mundo hostil, onde o homem é um ser malicioso e vacilante.

Shopenhauer e Niestche foram influenciados por Baltasar Gracián.

Shopenhauer escreveu “O mundo como vontade e representação”, e “Estudos sobre o pessimismo” entre tantas outras obras e Niestche escreveu “Assim falou Zaratrustra”, “O AntiCristo”, “Deus está morto” e outras obras.

A menos que haja um reposicionamento nas considerações religiosas do vereador Kokão, necessário informar que a menos que tenha citado apenas para impressionar o público, o conteúdo destas leituras se contrapõe a religiosidade assim como sua entrevista se contrapôs a democradura de Iquegami.

No final, cada um dos leitores que decida se o Circo da Aurora acabou, se não vai voltar, se há palhaços com p minúsculo, se há Palhaços com P maiúsculo, se não há palhaços de forma alguma, ou se, na verdade, o povo é feito de palhaço.

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