03 de dezembro | 2012
Ilha de África – a resistência negra
João Batista Ferreira
Reinados, Congos e Moçambiques – após 124 anos da abolição da escravatura e mais três séculos da morte de Zumbi a luta contra o preconceito e a discriminação racial continua!
Congado: tradição, fé e devoção. Cultura e arte, resistência, adversidade, identidade, afirmação e integração social.
O Congado é uma tradição que tem origem africana e foi trazido para o Brasil pelos negros escravizados africanos, na época da escravidão no Brasil colonial. Essa tradição é a união dos ternos de moçambiques, ternos de congos, catupés e vilão. O congo e o moçambique remetem-se as nações africanas dos países do Congo e Moçambique. E traz em suas manifestações culturais às festividades, as danças, a religiosidade, os costumes africanos e o culto a Nossa Senhora do Rosário, por meio do rosário de Maria e a devoção aos santos negros São Benedito e Santa Ifigênia.
O reinado é do Rei Congo e da Rainha Conga que em sua celebração reúne em data determinada, suas guardas, capitães e a corte real, incluindo príncipes, princesas, mordomos, para juntos comemorarem os grandes feitos, batalhas vencidas, boa fartura do reino, e ainda, festejarem o rosário de Maria, São Benedito e Santa Ifigênia, santos considerados padroeiros do congado e dos negros. É uma cultura tradicional cujos ensinamentos são passados oralmente de pais para filhos, de geração a geração.
O congado desde a época da escravidão até os dias de hoje, ainda é um grande movimento de resistência, negritude, afirmação e enfrentamento ao preconceito e a discriminação racial, é uma referência da cultura negra afro-brasileira.
Zumbi dos Palmares, juntamente com sua esposa Dandara, foi o grande líder da resistência negra no Quilombo dos Palmares. A ponto de ser chamado por seus combatentes de Capitão Zumbi, devido a sua capacidade e sabedoria em combater e traçar estratégias de guerra contra seus inimigos militares. Palmares foi liderado e defendido por um nobre guerreiro que a sociedade considerava como um escravo fugido. E assim Zumbi defendeu o seu povo na luta pela liberdade até a sua morte, Zumbi foi o grande líder, um herói da pátria.
Assim como nos quilombo dos Palmares de Ambrósio, Quintaleão, entre outros, no congado e reinados também houve e ainda há grandes líderes como Zumbi e Dandara. Nesse meio congadeiro existem capitães regentes, reis e rainhas, capitão-mor, dentre outros, que dentro de suas irmandades negras e confrarias são grandes líderes que comandam seus ternos ou guardas de congo e moçambiques, sem deixar seus membros esquecerem-se do passado e ao mesmo tempo ensinando-os a enxergarem o futuro por meio da sabedoria, da força, da fé e da garra, que os grandes líderes negros deixaram de exemplo. E muitos que tiveram de enfrentar e lutar até a morte contra a cruel escravidão, por um ideal de liberdade e de igualdade para todos nós.
Hoje é nossa obrigação valorizar nossa história e cultura. É nosso dever nos valorizarmos e preservar nossa identidade, nossas tradições, nossas raízes. É nossa bandeira e nosso dever lutar com unhas e dentes, sobretudo com consciência e consistência para reivindicar uma melhor inclusão social do negro, uma melhor distribuição de renda e por ações públicas que realmente possam combater o preconceito racial, a discriminação, e também o racismo institucional incutido nas instituições públicas e particulares. Instituições essas que, muitas vezes, dificultam – barra o acesso de negros aos serviços oferecidos, como também insiste em impedir que a maioria de nós tenha um bom atendimento e/ou que assuma cargos de posições de destaque em poder, em repartições públicas ou privadas.
Chega! Nós negros não queremos ser analisados ou julgados pela nossa cor, e sim, pela nossa competência. Ora, capacidade todos nós seres humanos temos, independente da raça ou cor.
Exemplo disso – muitos não acreditavam que um negro pudesse ser presidente dos Estados Unidos – Barack Obama assume seu segundo mandato, situação que muitos também não acreditavam. Outro bom exemplo é do ministro Joaquim Barbosa, relator do caso do mensalão no STF – Supremo Tribunal Federal. Homem negro, cidadão brasileiro e hoje grande parte do país tem orgulho dele.
Nós temos algo para comemorar, mas temos muito que buscar. Queremos que todos nós – brancos, negros e indígenas – possamos escrever em nosso país uma nova história justa, de igualdade, de paz para um mundo melhor a todos nós.
Fica aqui nossa mensagem de Consciência Negra, mensagem esta do Terno de Congada Chapéus de Fitas e da APC – Associação Protetora do Congado de Olímpia, transmitida por meio do Mestre e Capitão João Batista:
“Após 124 anos da abolição da escravatura e mais três séculos da morte de Zumbi a luta contra o preconceito e a discriminação racial continua! Valeu Zumbi!”.
Contatos: Terno de Congada Chapéus de Fitas – Olímpia-SP. Avenida do Folclore, nº 607. Telefone (17) 3279-8159.
João Batista Ferreira, capitão do Terno de Congada Chapéu de Fita.
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