06 de novembro | 2016

Educação, mais de mil escolas ocupadas e a mídia calada?

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Do Conselho Editorial

É assustador que o número de escolas ocupadas pelos alunos, pais e professores para se posicio­na­rem contra o que entendem como um gigantesco retrocesso na Educação não esteja fervilhando na mí­dia tradicional brasileira.

Sem sombra de dúvidas a ocupação não encontra paralelo na história brasileira em todos os tempos, e até onde se sabe não há movimento similar com este volume, provocado pelos mesmos motivos, na América Latina.

E a mídia comprometida, calada, como se fora normal em um país tido e havido como subdesenvolvido, com um alto índice de analfabetismo, alunos de todas as camadas sociais exigindo melhorias e não retrocesso no ensino público.

E o que é pior, o governo que deveria buscar soluções pacíficas para este conflito, que deveria ser orgulho da nação, em conluio com as forças dos Estados e a mídia, atua para criminalizar o movimento e reprimir com força bruta.

O quadro da Educação é pura e simplesmente desolador no país inteiro, sendo que no Estado de São Paulo é alarmante o número de professores que abandonaram a rede pública pura e simplesmente por não encontrar condições mínimas de levar a efeito um bom trabalho, com resultados minimamente positivos.

Por mais que se esforcem os governantes é impossível acreditar na possibilidade de haver melhorias na qualidade do ensino com os cortes anunciados no orçamento, mesmo antes da instalação dos efeitos da PEC 241.

De acordo com levantamento da União Brasileira de Estudantes (Ubes) são 1.197 ocupadas em todo país no movimento que se intitula “Primavera Secundarista” cujo lema é “Ocupar e resistir”

Milhares de alunos da rede pública se posicionam por motivos em comum, eles são contra a PEC 241, que irá cortar os investimentos na educação, tal como a Medida Provisória do Ensino Médio, a MP 746, que visa reformular o ensino, e a Lei da Mordaça ou Escola sem Partido.

No entanto, embora a mídia comprometida não noticie com a ênfase que deveria desde que as ocupações começaram, a atuação violenta e desenfreada de promotores, juízes e policiais está gerando críticas.

Na última semana, mais de 20 alunos que ocupavam um colégio em Miracema do Tocantins foram retirados do local pela Polícia Militar, após a atuação do promotor de Justiça Vilmar Ferreira de Oliveira, o qual foi aos portões da escola ameaçar e determinar a prisão dos secundaristas.

Vilmar foi bem sucedido, afinal, os estudantes não só foram presos como também foram algemados, como ficou explícito em fotos que circularam nacionalmente. Os estudantes apenas foram soltos após a atuação da De­fen­soria Pública do Estado.

O jornalista da Folha de S. Paulo, Elio Gaspari, lembrou em sua coluna que tal ação ocorreu na mesma semana em que o presidente do Senado, Renan Calheiros, chamou um magistrado de “juizeco”. Gaspari criticou o governo de Michel Temer ao dizer que “os mecanismos de protesto e ma­nipulação que resultaram na ocupação das escolas foram disparados pela bagunça dos adultos poderosos de Brasília“.

E ainda provocou dizendo que “nem durante a ditadura aconteciam coisas assim”.

Em Londrina, o promotor de Justiça, Marcelo Briso Machado, que atua na Vara da Infância e Juventude, foi vaiado por alunos após discursar na Câmara em uma audiência pública taxando as ocupações escolares como “invasões”. Briso também as comparou com “biqueiras” de droga.

A cereja do bolo até o momento foi colocada pelo magistrado do Distrito Federal, Alex Costa de Oliveira. O Juiz da Vara de Infância e Juventude foi além de todos ao determinar, a pedido do Ministério Público, a desocupação de um colégio, uma vez que autorizou o emprego de métodos torturantes na ação da polícia militar.

Entre as técnicas de interrogatório estavam isolamento físico, privação de sono e corte de água e energia. Segundo o juiz, as técnicas servirão “como forma de auxiliar no convencimento à desocupação”, a cargo da Polícia Militar.

Estas e outras situações vergonhosas e só possíveis em estados de exceção, em ditaduras violentas e sanguinárias, para vergonha do Brasil tem estampado as páginas dos principais jornais pelo mundo afora, enquanto que nossos grandes jornais impressos e tele­vi­si­vos tem feito apenas cri­mi­nalizar o movimento como se fora orquestrado e manipulado por interesses escusos.

Em contrapartida, o próprio governo que sensatamente deveria sentar-se a mesa de negociações e discutir o que pode ser feito para melhorar a qualidade do ensino público, já que reconhece que o mesmo está no fundo do poço, se furta ao diálogo e propõe o inverso do que proporia um governo bem intencionado e civilizado, sufocar o movimento com violência e restrição ao que é sagrado em toda democracia que se preze, direito de livre manifestação.

Esta forma truculenta que dispensa o diálogo e opta pela violência, em tempo algum e em lugar algum conseguiu demonstrar ou provar que o governo instalado se manifesta com boas intenções e produzirá o que de fato será bom para o povo que governa.

E a grande mídia calada fala mais pelo silêncio sobre o abismo que se pretende jogar a Educação, que as armas dos soldados, a truculência das bombas e o consentimento das falsas e vendidas lideranças que votam o que pode ser pior para a Educação, exatamente por que sabem que quem não pensa não exige.

 

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