19 de agosto | 2018

Curupira, o fundamentalismo religioso e o preconceito não podem prevalecer

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Do Conselho Editorial

O folclore, como é do conhecimento da maioria, está alicerçado nos hábitos e na cultura da população, na criação de beleza e poesia sem relação com a ciência, com as exatidões dos métodos, com a necessidade de pesquisas ou comprovações cientificas.

São ações oriundas da fecundidade da criação dos povos através dos tempos que foram sendo transmitidas de forma oral de geração a geração.

Explicitar como um fato folclórico se deu, e quando, é algo de uma complexidade que a capacidade humana possivelmente, em muitos casos, discorre e percorre percursos imensos e conclui não concluindo nada.

Até porque muitas das manifestações oriundas da ciência do povo estão esparramadas mundo afora e da mesma maneira que se identifica, pelas características, um mito indígena com a mitologia grega, pode ser que se encontre características quase idênticas nos vikings, apaches, maias, incas persas, ou em manifestações de povos africanos e europeus, muitas, inclusive, bastante discutidas no nosso meio.

Desde que o homem vive em sociedade, é manifesta sua criatividade na música, dança, pintura, teatro, religiosidade e em outros setores da vida humana que propõe a busca de seu crescimento intelectual ou espiritual.

E ai, se insere o folclore, que é a busca destas manifestações na sua forma mais simples e desprovida de rebuscadas teorias e academicismos para que se dê.

É o simples germinando dentro de cada ser vivente e passando de pai para filho sem nenhuma pretensão que não a preservação da cultura e da história de um povo.

Em Olímpia, o abnegado folclorista, de reconhecimento nacional, professor José Sant’Anna, dedicou sua vida a recolher fragmentos deste quebra cabeça visando preservar a riqueza de nossa história e no período de uma semana recepcionava grupos de folclore autênticos para demonstrar a riqueza e a beleza que seus estudos ocultavam.

Conseguiu a proeza de transformar a cidade de Olímpia na Capital Nacional do Folclore, o que não é pouco.

Uma de suas satisfações era no início das festividades que culminavam seu trabalho de coletas em campo, a entrega da chave da cidade a uma criança da cidade que simbolizava o mito do Curupira.

O Curupira, aos que desconhecem, é o protetor das nossas matas, de acordo com a lenda que o cerca.

No entanto, um jovem pastor de uma igreja evangélica, iniciou feroz campanha contra a entrega das chaves da cidade ao Curupira com a alegação de que pelo fato de o Curupira ter os pés para trás a cidade não conseguia progredir.

O absurdo destas alegações conseguiram convencer o proselitismo do à época prefeito Luiz Fernando Carneiro que, com seu ranço ditatorial, proibiu a entrega das chaves da cidade ao Curupira.

Geninho, outro populista e fisiológico, manteve a mesma postura e o Curupira amarga até a data de hoje, dezoito longos anos distante do folclore na conhecida Capital Nacional do Folclore.

Fernando Cunha, até o presente momento não se manifestou acerca da questão e tudo parece indicar que o Curupira corre o risco de tão cedo não voltar ao folclore como era desejo do idealizador da festa José Sant’Anna.

É total o desrespeito a grande parte da população que não concorda com o exagero de parte de evangélicos fanáticos que defendem a tese no mínimo absurda, que relaciona os pés para trás do Curupira com o possível atraso econômico da cidade, que, realmente acabou acontecendo sem o mito e só não ficou pior, por causa da visão de um empreendedor que nada tem de mito ou de folclore, ou de evangélico, mas conseguiu implementar o turismo.

É preciso lembrar a incoerência que pode haver na discussão desta parcela de evangélicos que não creem em imagens de barro da igreja católica; há no meio deles quem chute e quebre imagens de Nossa Senhora e de Jesus Cristo, e atribui a um mito, o Curupira poderes que, na visão de muitos deles, um santo da Igreja Católica não teria.

Outra incoerência apontada é que o pastor que iniciou a campanha pedindo a expulsão do Curupira do folclore teve que fechar suas igrejas de forma muito apressada, e fugir madrugada afora, exatamente por praticar malfeitos que até o dia de hoje nunca foram imputados ao Curupira.

O diabo, se é que existe, não é o Curupira, é o homem fantasiado de representante de Deus na terra proibindo o que pode ser permitido e se permitindo fazer o que é reprovável, pecaminoso e proibido.

E ao final, preconceito, discriminação e fundamentalismo nunca mais … e Liberdade ao Curupira.

 

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