20 de outubro | 2013

Homens e ratos

Compartilhe:

Do Conselho Editorial

 Interessante livro de John Steinbeck, Homens e ratos, conta a saga de um homem enorme no tamanho, sensível, com mentalidade reduzida, que vaga, com o irmão a procura de trabalho, levando no bolso um ratinho que vai acariciando de tempos em tempos.

Esta história ocorre no período da depressão americana, quando eram faltantes oportunidades de trabalho e fazia com que os cidadãos americanos se deslocassem de seus lugares de origem a busca de emprego.

Este caminhar que culmina em uma tragédia provocada pela incompreensão, pelo temor da loucura expresso no gigantismo da figura retratada que não condiz com aspectos marcantes de sua infantilidade e sensibilidade.

Muitos dos que leram pacientemente até aqui podem estar se perguntando o que esta história pode ter a ver com o universo das discussões locais.

E a resposta óbvia seria nada, a não ser a metáfora da loucura infantilizada de um homem desprovido de compreensão de mundo que acaricia um rato morto que carrega nos bolsos.

E esta metáfora, que mostra um louco que acaricia ratos enquanto acompanha o irmão fraterno na luta pela busca de emprego, parece, invertendo-se valores e papéis, e condições e construções textuais, nuances políticas e sociológicas, com o que se viva por aqui.

O louco, cada um escolha o seu, sabendo que a loucura é determi­nante, neste papel inverso, de delírios napoleônicos de dominação do mundo, e que, portanto, “o” ou, os loucos, que trata o texto mesmo que vários representam o desejo de poder.

O irmão fraterno que caminha até ocorrer a tragédia são as muitas parasitas que grudam no dorso da hiena velha e corrompida e sugam o sangue que ela consegue do alimento que furta dos leões nas lutas ferinas do Delta do Okavango.

E os ratos podres acariciados no bolso do louco, ao contrário, daquele da literatura, sem sensibilidade, inconsciente de sua função histórica, são todos aqueles em que no período em que se precisa de votos se acaricia a cabeça podre, com a falta de sinceridade dos hipócritas.

Sim, são todos os que compõem os eu, tú, nós, vós, eles, que por um fardinho de Tubaina, meia dúzia de kaftas, esquecem o passado e não se atentam para o tamanho do estrago que o louco nos seus desvarios pode fazer.

É esta a grande tragédia humana, é dela que grandes autores tiram suas inspirações e publicam para que venha a ser um aprendizado para o ser humano futuro.

No entanto, morrem loucos, e mudam-se irmãos fraternos, e se renovam ratos mortos aos milhares que vão para o bolso do louco para ser acariciados de vez em quando, e a vida não muda, e o aprendizado não se mostra.

Talvez seja esta a razão da descrença de muitos, a aceitação de que o mundo desde que é mundo, por mais que não aceite, ou faça o discurso da negação, é composto por homens e ratos, loucura e irmãos fraternos que caminham até o dia da tragédia, são apenas acessórios.

Compartilhe:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do iFolha; a responsabilidade é do autor da mensagem.

Você deve se logar no site para enviar um comentário. Clique aqui e faça o login!

Ainda não tem nenhum comentário para esse post. Seja o primeiro a comentar!

Mais lidas