16 de dezembro | 2018

Alguns evangélicos abominam o Curupira e votaram no Mito?

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Do Conselho Editorial

Nestes tempos de fake news é importante notar o quanto as pessoas foram se distanciando do pensamento, da absorção de cul­tura, da busca da verdade e se embrenhando pelos caminhos tortos e ásperos da imposição dos seus “achismos”.

Lógico que toda esta situação que ora se desvela residia na alma brasileira sempre alijada do processo de formação, ou reféns de sistemas educacionais falhos que em sua maioria orientam a formação para o mercado e não para a compreensão global do universo humano.

O processo de formação cultural que é anterior a for­malização do ensino, que nasceu com o primeiro ser humano a dominar a fala foi esquecido em detrimento do mercado.

As narrativas, as histórias construídas ao pé do fo­go nos primórdios e que i­am passando e solidificando de pai para filho, de geração a geração a construção histórica de cada povo foi perdendo espaço para linguagens rápidas e diluídas em um tempo em que o homem não tem mais pra si.

O que antes era motivo de enleio, ligando, atando o ser humano às suas raí­zes, fonte de sua sólida for­mação, parece ter se transformado em cento e quarenta caracteres ou em amontoado de mentiras em busca de likes, com­par­tilhamento e curtidas.

Não parece existir interesse na busca pela verdade. O que parece importar é apenas e tão somente o exercício do protagonismo mesmo que no exercício de irrealidades virtuais que tragam prejuízo ao próximo, e dependendo do caso, a si mesmo.

A cidade viveu e vive di­as conturbados provocados por esta nova onda de inserção da opinião de milhares através dos novos sistemas de comunicação que transformam a todos em receptores e transmissores de mensagens.

Mensagens que podem ser lidas ou enviadas por qualquer pessoa, que não tendo filtro ou responsabilidade sobre o que publica ou compartilha po­de trazer prejuízos incalculáveis a outrem, a si, ou a sociedade.

A outrem, como exemplo, pode se referir ao recente caso da moça que se suicidou quando denunciada nas redes sociais por uma ação que praticou, condenável, mas que deveria ter o caminho da justiça e não da tragédia, co­mo ocorreu.

A si, pois quem divulga ou compartilha inverda­des, difamando, injuriando, caluniando ou trazendo prejuízos a outrem po­de responder civil e penalmente pelos seus atos, o que tem ocorrido com alguma frequência em Olím­pia ultimamente.

À sociedade pode se invocar os recentes prejuízos provocados no setor turístico pela divulgação exagerada de situação que não é condizente do ponto de vista técnico com a realidade que se exige pa­ra que se estabeleça o que foi irresponsavelmente divulgado.

Embora o título do editorial até aqui possa parecer não ter muito a ver com a discussão levantada, têm e muito.

Vive-se em uma cidade com respeitável público e­vangélico de proporções nu­méricas razoável, que influiu na retirada da solenidade da entrega das chaves da cidade pa­ra o Curu­pira, por se tratar de um mito.

Mito que vem do grego mitos, ou do latim mó­thos, que significa, conto, fábula, mentira.

Há outros significados para o tema que o saudoso Professor José Santana a­doraria que fosse acrescentado ao Editorial e em homenagem a ele, que a discussão permite que se alongue.

Mito pode ser entendido como história fantástica de transmissão oral, cu­jos protagonistas são deuses, semideuses, seres sobrenaturais e heróis que representam sim­bolicamente fenômenos da natureza, fatos históricos ou aspectos da condição humana; fábula, lenda, mitologia.

 Interpretação ingênua e simplificada do mundo e de sua origem.

 Relato que, sob forma alegórica, deixa entrever um fato natural, histórico ou filosófico.

Uma pessoa ou um fato cuja existência, presente na imaginação das pessoas, não pode ser comprovada; ficção.

Um fato considerado inexplicável ou inconcebível; enigma.

Uma crença, geralmente desprovida de valor moral ou social, desenvolvida por membros de um grupo, que funciona como suporte para suas ideias ou posições; mito­logia: O mi­to da supremacia da raça branca.

Representação de fatos ou de personagens distanciados dos originais pelo imaginário coletivo ou pela tradição que acabam por aumentá-los ou modi­ficá-los.

 Discurso proposital­men­te poético ou narrativo, cujo objetivo é transmitir uma doutrina, por meio de uma representação simbólica: O mito de Prometeu.

Ou como diria Fernando Pessoa O mito é o nada que é tudo. O mesmo sol que abre os céus. É um mi­to brilhante e mudo. 

Nesta fase que a sociedade brasileira está vivendo, em que as mentiras criam mitos e são conhecidas como fake news se sobrepondo a busca da verdade em uma cidade folclórica, onde o Curupira foi expulso das atividades folclóricas por parte da comunidade evangélica, fica pois este exemplo, fácil interpretar que parte da humanidade perdeu o referen­cial.

Perdeu o bom senso, o equilíbrio, a noção de certo e errado, ao ponto destes religiosos serem contra algo e votarem na contrariedade.

Não teve ninguém minimamente razoável para pelo menos questionar se não havia contradição na ação?

Por isto as mentiras e os fake news prosperam. Ninguém questiona quase absolutamente nada e a­cha cômodo acreditar na mentira, quando poderia se perguntar.

Como posso ser evangélico, abominar o Curupira e votar em um Mito?

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