22 de julho | 2018

A violência e o aparato policial violento

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Do Conselho Editorial

O que poderia ter sido um simples incidente acabou em tragédia quando o policial militar que trabalha em São Paulo, mas reside em Olímpia, Antônio Carlos Torres, estando de férias, acabou realizando um disparo de arma de fogo que matou o olimpiense Everson Luis Nunes Pereira, 38 anos, conhecido como “Beiço”.
O fato aconteceu por volta das 23h10 do domingo, 15, na Avenida Aurora Forti Neves, no bar chamado Goldem Pub, onde o policial se encontrava com sua mulher e diz ter sido ameaçado por pessoas presentes no local.

Toda a história está contada nas páginas desta edição.

Ocorre, no entanto, que após o velório de Everson, a população indignada transformou a cidade em praça de guerra.

Foram queimados ônibus, carros, estabelecimento comercial, banheiros químicos e a cidade ficou em polvorosa.

As motivações para que isto tenha ocorrido são diversas, pois cada um tem um ponto de vista sobre a questão, no entanto a que se sobrepõe a todas as outras é o desejo de punição ao soldado que provocou a infeliz tragédia.

O entendimento de maioria, não só em Olímpia, mas no Brasil todo, é de que crimes praticados por policiais sempre ficarão impunes.

Contribui em muito para isto o fortalecimento da corrente interna na Policia Militar favorável ao olho por olho dente por dente, a justiça feita pelas próprias mãos, os julgamentos sumários e a formação de milícias.

Esta corrente, juntamente com populares favoráveis aos extermínios e à pena capital, quando ocorre a participação de um policial em algum incidente que culmine no evento morte, independente da culpa ou inocência do agente se apressam em blindá-lo, culpabilizando geralmente o cidadão que foi levado a óbito pela ação do policial.

Há milhares de casos nas páginas dos jornais e nos jornais televisivos, apenas para ficar em um que choca pelas circunstâncias, recentemente, policiais sobrevoando uma escola de helicóptero atirou e atingiu um aluno que veio a falecer.

Esperava-se tanto da instituição quanto dos que a defendem uma justificativa plausível para a condenável ação.

Contrário a isso, não fosse a pronta intervenção das redes sociais que interrompeu o discurso de ódio, preconceito e de extermínio promovido pela ala mais violenta dos representantes policiais do estado, o menino teria se transformado em criminoso como quase foi o caso de Amarildo e da vereadora Mariely até hoje sem solução, como o caso do menino.

Em Olímpia o “modus operandis” não foi muito diverso do que ocorre no restante do país; no afã de blindar o policial em férias que ceifou a vida de Everson, sem nenhuma investigação concluída, a tese da legitima defesa começou a imperar nas versões oficiais das autoridades ligadas aos fatos.

Entende-se que a parte comovida pela morte, em razão do que foi exposto por algumas autoridades, veiculados no Facebook e grupos de Whatsapp, que o crime cometido caminhava para a impunidade e foram à retaliação.

Lógico que a reação observada foi organizada e pode ter vínculos com o crime organizado, independente disto, as instituições responsáveis pela segurança da população de há muito deveriam ter percebido que precisam evoluir em seus métodos para não perderem a guerra que travam diuturnamente.

Ocorreram outros enfrentamentos na Estância Turística que comprovaram o recrudescimento e o nível de organização do estado paralelo e a incapacidade que o Estado tem de lidar com esta questão repetindo as mesmas e surradas fórmulas.

É hora de rever conceitos e mudar paradigmas porque lidando com a violência com mais violência chegou-se a esta beligerância.

A população carente e trabalhadora que nada tem a ver com a história acaba ficando refém da criminalidade e das botas e cassetetes dos policiais violentos que extrapolam da civilidade e abusam de sua condição de fardados.

Sem contar o prejuízo à imagem da cidade que vive em parte da presença de turistas que não se desloca de sua cidade para ir a lugares onde a violência parece predominar.

E há também prejuízo à imagem da instituição policial militar, que pelo visto e pela repetição das mesmas equivocadas ações pelo país afora, parece se importar mais em fortalecer a ideia de resolver os conflitos muito mais na porrada e na bala que no diálogo como deveria ser no Estado Democrático de Direito.

 

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