29 de junho | 2008

Violência cresce no sistema capitalista que visa hegemonia do poder econômico

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 O crescimento da violência acontece por causa do sistema capitalista, no qual a principal preocupação é a hegemonia do poder econômico que está impregnado nas empresas, mas também nas pessoas de maneira geral. O egoísmo predomina nas pessoas do mundo atual levando atitudes que talvez não existissem em outras situações.

Pelo menos isso é o que pode ser depreendido da opinião do frei Flaerdi Valvassoir (foto), responsável pela Paróquia de Nossa Senhora Aparecida, que lida com muitos problemas sociais na região do Jardim Santa Ifigênia, onde se localiza a maior favela da cidade de Olímpia.

"Que existe a violência e que ela esteja crescendo, isso é o fruto do próprio sistema capitalista, que enquanto ele visa unicamente o lucro, pelo aumento de capital, pela hegemonia do poder de multinacionais", comentou à reportagem desta Folha.

Para ele, no entanto, a violência não cresce apenas em Olímpia, mas em todo o universo, dado ao que classifica por propaganda excessiva de inutilidades, ou seja, de bens que são mostrados como essenciais, quando na verdade são apenas supérfluos, mas que criam desejos e podem levar a uma pessoa mal estruturada a praticar até um crime mais violento, mesmo que não sendo possuidora de parcos recursos financeiros.

"Porque hoje em dia pelos noticiários, não há apenas o roubo por necessidade, para se alimentar, mas há o roubo também de pessoas de classe média e classe média alta, contradizendo a tese de que o roubo é apenas por aquelas pessoas que têm necessidade", diz.

Em muitos casos, avalia, se esquecem daquilo que é o básico e que não rende dinheiro, mas estabiliza a sociedade que é a distribuição de renda e o auxilio a aqueles que não conseguem acesso ao trabalho.

Estas pessoas chegam a desestruturação familiar proveniente de muitas causas, uma delas a falta de participação à vida social política. "Tudo isso então, vejo que sejam causas múltiplas dessa situação generalizada de violência crescente, inclusive o roubo", explica.

A desigualdade sócio-econômica é uma situação comum em Olímpia também e há metas governamentais de criar renda familiar: "mas você tem que pensar a nível mais profundo, o da criação de um suporte à própria dignidade humana. Não se trata apenas de criar empregos com baixa renda nos quais se possa sobreviver, mas a questão é a participação igualitária nos bens sociais".

O acesso à saúde e a uma boa educação que não seja inclusive massificante, mas participativa para criar cidadãos com solidariedade com a presença do fator religioso, também é muito importante: "e o fator religioso não enquanto uma denominação, mas enquanto a uma criação de valores que façam com que a pessoa almeje algo para além dessa própria vida e aquilo que é o comportamento ético".

Enriquecer

Flaerdi diz que quando um enriquece em detrimento dos outros ou quando um não pensa que o seu acúmulo de riqueza cria pessoas com necessidades, isso é um fator gerador da violência. O que se tem que fazer é ter comando da consciência, coisa que não é comum ao ser humano.

"A prática histórica do ser humano é uma prática de egoísmo, egoísmo ao extremo, enquanto eu estou bem, enquanto o mal não me atinge, não me preocupo, só vou me preocupar quando o mal vier a me atingir, mas aí é sempre tarde demais", conta.

Há sociedades, explica Flaerdi, onde as pessoas desempregadas conseguem viver bem por causa de ajuda e de um suporte que recebem e, sempre tendo em vista que o desemprego é algo passageiro, mas a realidade é que não se vê o desemprego como forma passageira.

"O desemprego hoje é tido como uma fatalidade. Uma vez desempregado o risco de não se ter um emprego é existente, como algo que pode ser por toda a vida. Existe o desanimo de quem está desempregado ainda mais se ele atinge certa idade. Ainda mais que hoje em dia se quer mais e mais empregados especializados, trabalhadores com especialidades e trazemos ainda uma população sem especialidades", acrescenta.

A solução do problema, entende o frei, passa pelo ser humano fazendo uma revisão de vida, porque todos têm a sua culpa, porque nós não sabem o que fazer e não existe um debate a respeito da questão.

"Estamos as vésperas de eleição para vereadores, prefeitos, mas quais sãos os projetos que eles apresentam. Eles têm interesse em promover o debate público e mostrar a missão de cada um? Será que acham que não é o papel dele fazer isso? Eles pensam que a gente vai eleger quem?

Pela beleza, pelo nariz ou pelo brinco que usam? O importante é, todos nós termos a consciência de que nós mudamos a sociedade, mas se nós cruzarmos os braços ela continua e se alicerça nos seus defeitos e vícios e nós pagamos pela nossa omissão", finaliza.

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