18 de fevereiro | 2013

Três anos depois de receber coração novo menino começa a frequentar uma escola

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O menino Paulo César Dutra Rocha, 4 anos, fez aniversário no sábado da semana passada, dia 16. Mas não de nascimento, que é em junho, mas de renascimento. Há três anos, Paulo César ganhava um novo coração no Hospital de Base (HB) de Rio Preto. Foi o primeiro transplante cardíaco em crianças do interior do País. O novo órgão no peito é divisor de águas na vida do menino.

De acordo com reportagem do jornal Diário da Região, de São José do Rio Preto, sem o novo coração Paulinho não estaria vivo. Com ele, cresceu, ganhou 5 quilos e começou a frequentar a escola nesta semana em Olímpia, onde mora com o pai, pedreiro, e a mãe, dona de casa.

Paulo César nasceu em Araçuaí, norte de Minas Gerais. Quando tinha três meses, começou a vomitar e rejeitava o peito da mãe, Gisele Dutra de Oliveira, 22 anos. Os médicos disseram que era bronquite. Aos dez meses, o pai decidiu tentar melhor sorte no corte da cana paulista e trouxe a família para Olímpia. O pequeno Paulo começou a ter febre.

Na Santa Casa, o pediatra notou algo errado no coraçãozinho do bebê. Mandou para o HB, e só então veio o diagnóstico: miocárdio não compactado. Em outras palavras, seu coração não se formou completamente no ventre da mãe. Por isso, ficou fraco, sem ritmo, inchado.

Logo nos primeiros dias internado no HB, Paulo sofreu um AVC. Sobreviveu. Depois, vieram dez paradas cardíacas. O menino resistia, e a mãe, católica, rezava pela saúde de Paulo. Apesar da medicação, o coração do bebê não reagia. Até que os médicos deram o diagnóstico: ele só iria sobreviver com um novo coração. “O transplante é sempre o último recurso, porque envolve riscos, principalmente o de rejeição do novo órgão”, explica a responsável pelo ambulatório de cardiologia pediátrica do HB, Alexandra Siscar Barufi.

Na manhã do dia 12 de fevereiro de 2010, uma sexta-feira, Gisele se preparava para retornar a Olímpia – Paulo continuava na UTI – quando o telefone tocou. Do outro lado, a notícia boa: surgiu um novo coração para o menino. Algo raro, segundo ela. “Devido ao tamanho do órgão, criança só pode receber o coração de outra criança.”

O novo coração era de Gabrielly Alana Pivanti, de 1 ano e três meses, atropelada quatro dias antes em Santa Fé do Sul. Com traumatismo craniano, ela teve morte cerebral. O sábado, domingo e segunda de Carnaval foram de exames em Paulo. Na terça de manhã, dia 16, começou o transplante. A cirurgia durou 4 horas. Era pouco mais de meio-dia quando o coraçãozinho de Gabrielly passou a ditar novo ritmo no corpo franzino de Paulo César.

AGORA É HORA DA ESCOLA

Quatro meses depois da cirurgia, o garotinho Paulo César teve alta e foi para casa. Desde então, toma seis comprimidos diários, necessários para evitar a rejeição. Além disso, a cada duas semanas passa por exames cardíacos no HB. Será assim pela vida toda. Mas Gisele não reclama. Pelo contrário. “Agradeço a Deus cada novo dia de vida do meu filho”, diz.

Devido ao AVC e às sucessivas paradas cardíacas, Paulo César fala pouco e tem o lado direito do corpo parcialmente paralisado. Ano passado, começou tratamento com cavalos, a equoterapia, e também frequenta a AACD em Rio Preto. Fora isso, é uma criança normal: brinca com seus carrinhos, vê TV e anda com o triciclo que ganhou do pai. O velho e cansado coração agora é passado.

O garoto Paulo César foi a primeira e única criança a ganhar um coração novo no HB. Antes e depois dele, outras crianças internadas no hospital tiveram o mesmo problema de Paulo, mas foram curadas com medicação. “As pessoas pensam que o transplante é a saída milagrosa, mas não é bem assim. Envolve riscos porque não é raro o corpo rejeitar o novo coração. Também requer disciplina dos pais, porque a criança terá de tomar medicamentos a vida toda”, diz a cardiologista pediátrica Alexandra Regina Siscar Barufi.

Atualmente, três crianças com miocárdio não compactado, todas em estado grave, internadas no HB, são candidatas a ingressar na fila do transplante cardíaco. O que não é problema para o hospital. “Temos estrutura e equipe treinada”, afirma Alexandra. Atualmente, o Hospital de Base é referência em cirurgia cardíaca infantil.
 

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