13 de maio | 2012

Santa Casa faz a primeira captação de órgãos da história de Olímpia

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Reportagem e fotos Willian Zanolli
Foi na tarde do sábado, 12 de maio de 2012, quando uma mulher residente em Olímpia, de 53 anos, deu entrada no hospital com morte cerebral e foi conseguido que seu coração continuasse a bater, que uma equipe de médicos coordenada pelo diretor clínico da Santa Casa, Nilton Roberto Martines (foto ao lado), conseguiu fazer a primeira captação de órgãos para doação da história do município.

Segundo Roberto Cassielli Filho, médico cirurgião que participou dos trabalhos na tarde de sábado, a paciente cuja família autorizou a doação de órgãos teve um acidente vascular cerebral (AVC) hemorrágico que provocou a extinção das funções vitais do seu cérebro. “O restante do corpo, entretanto, mantém atividades, o coração continua batendo, o pulmão, os rins e o fígado continuam funcionando. Então, é deslocada uma equipe que faz a captação dos órgãos pra servir de transplante para outros doentes”.

Cassielli Filho (foto ao lado) complementou: “Isso é feito obedecendo critérios. O paciente tem que ter viabilidade nos órgãos, a idade é importante pra gente fazer uma triagem, e depois disso a família tem que estar consciente e autorizar o procedimento”.

No presente caso, disse ainda o médico, a paciente foi mantida com o coração batendo até na mesa de cirurgia para não comprometer os órgãos. É um procedimento nobre porque pacientes que lutam e que estão na fila de transplante são beneficiados.

“É uma novidade para o hospital porque é a primeira captação de órgãos da história da Santa Casa de Olímpia. Isso é muito gratificante pra toda equipe que é liderada pelo Dr. Nilton, que é o diretor clínico e ele nos motivou juntamente com os médicos Valdemar Lopes Ferraz Neto e Otávio Lopes Ferraz a realizar esses trâmites legais porque todos os testes são realizados pelos médicos e a confirmação de morte encefálica é dada por um exame de Dopper, que analisa os fluxos sanguíneos cerebral, que mostra a inviabilidade do órgão, do cérebro, que é um órgão vital e que sem a vida cerebral é impossível o paciente viver. Isso acontece geralmente em casos de acidentes que envolve um traumatismo craniano importante e em casos de acidente vascular cerebral (AVC), de grande extensão principalmente”, explicou.

Roberto Cassielli explicou ainda que depois de retirado o rim, o fígado, a córnea, o pâncreas, esses órgãos são rapidamente endereçados para São Paulo, mantidos em substâncias adequadas em temperaturas baixas até se encontrar um receptor. “Em média de 4 a 6 horas é o tempo ideal até chegar no hospital em São Paulo”, concluiu.

PACIENTE RESSUSCITADO
O médico Otávio Lopes Ferraz, (foto ao lado) que é cardiologista, atuou principalmente quando da chegada do paciente ao hospital.
“Ela chegou em uma situação bem complicada, com parada cardiorrespiratória e foi revertida prontamente conforme os protocolos da ACLS (Advanced Cardiac Life Support) e com isso o coração voltou a bater tornando viável a extração dos órgãos por se manter por mais tempo o paciente até se preencher todos os protocolos, uma vez que se tivesse evoluído como parada cardiorespiratória irreversível teríamos menos tempo para viabilizar todo esse processo”, afirmou.

Já o cirurgião Valdemar Lopes Ferraz fez questão de destacar o ato de humanidade da família de se propor a doar os órgãos de seu ente querido num momento de dor de sofrimento que vai ajudar muitas pessoas. “E também o médico Nilton Roberto Martines que coordenou todo esse processo, possibilitou a viabilidade dele, e essa comissão que a gente organizou de doação de órgãos aqui interna com Dr. Otávio, dr. Roberto e eu”.

Valdemar (foto ao lado) explicou como funciona todo processo: “Hoje em dia você tem as formas burocráticas de doação imediata, como foi esse caso, mas a gente sabe que toda pessoa quando vai confeccionar o seu registro, ele pode já deixar na carteira esse registro, que ele é um potencial doador. O que a gente diz é que ele é um potencial doador. Essa pessoa uma vez já declarada antes da morte, pela carteira de identidade ou um familiar ou um parente próximo, uma vez determinado que ele gostaria que os órgãos desse seu familiar pudesse ajudar outras pessoas ele vai assinar um termo de consentimento de doação. Depois são feitos os protocolos pra diagnóstico de morte encefálica que envolvem uma série de procedimentos. Hoje é uma coisa muito bem determinada, com exames clínicos seriados, com exames complementares de Dopper, fluxo cerebral, coisa bem determinada mesmo. Uma vez concretizado que o paciente está em uma morte encefálica aí vai ver os potenciais órgãos que esse paciente vai poder doar de acordo com a patologia que levou esse enfermo a falecer”, conta.

E complementa: “Mas de qualquer forma são muitos os órgãos que podem ser doados, desde córneas, pâncreas, fígado, rins, gânglios linfáticos, baço, é uma coisa realmente. Acredito que o que está acontecendo aqui hoje é uma transformação muito grande que Olímpia traz, a importância que o hospital gera nessa corrente de poucos hospitais já que os protocolos para preenchimento dos critérios são muitos restritos. Então, são poucos hospitais que realmente podem fazer parte dessa corrente de captação de órgãos e a gente conseguir elevar a Santa Casa de Olímpia nesse patamar.

Ferraz Neto conclui dizendo que a equipe experimentava uma sensação de vitória, principalmente por conviver com pacientes que sofrem a espera de um transplante. “Tem muito paciente economicamente ativo, crianças, que poderiam estar realizando muito para a sociedade e acabam abrindo mão de muitas coisas, ficam restritos, sem conseguir às vezes nem frequentar uma escola. Então, hoje a gente, em Olímpia, através da Santa Casa, está podendo fazer parte de uma corrente que vai trazer muitos benefícios a muita gente. É uma satisfação imensa pra todo mundo. Esperamos também que cada vez mais as pessoas entendam a grandeza do ato de ser doador de órgãos e que outras famílias tomem a mesma decisão que foi tomada por esta família hoje e que vai salvar e dar vida a muita gente”, finalizou.

Além dos médicos Roberto, Otávio e Valdemar, também tiveram participação decisiva nos trabalhos o anestesista Luiz Henrique Vicente (foto ao lado) que além de acompanhar a paciente também fez todo o trabalho de anestesia para a retirada dos órgãos, já que a mulher de 53 anos, embora tivesse com morte cerebral ainda tinha praticamente todo o resto do corpo funcionando.

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