29 de junho | 2014

Risco de infecção grave fecha a UTI da Sta. Casa para reforma

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O risco da disseminação de uma infecção hospital grave por causa das péssimas condições estruturais, levou a diretoria a decidir pelo fechamento da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) da Sta Casa de Olímpia. Segundo o provedor Mário Francisco Montini (foto), a partir da próxima terça-feira, dia 1.º de julho, o setor deixará de receber novos pacientes.

Em entrevista que concedeu a esta Folha na tarde desta sexta-feira, dia 27, Montini explica que UTI será fechada por causa da necessidade de fazer uma reforma estrutural no local. “Está tudo deteriorado e precisamos reformar e não podemos trabalhar com os pacientes lá dentro”, justificou.

A reforma deve custar entre R$ 30 mil e R$50 mil: “Vamos fazer a desinfecção e calibrar todos os equipamentos”. Segundo ele, esses equipamentos são novos, adquiridos recentemente, mas alguns já estão sendo utilizados.

A UTI tem cinco leitos exclusivos para atender a pacientes do SUS (Sistema Único de Saúde) e dois para os pacientes de convênios e particulares.

De acordo com o provedor o fe­chamento temporário foi comunicado à Diretoria Regional de Saúde (DRS), de Barretos, à Secretaria Municipal de Saúde e, inclusive ao CROS, departamento encarregado do gerenciamento de vagas em todos os hospitais da região.

SEM PREJUDICAR PACIENTES
No entanto, nenhum paciente que está em tratamento na UTI será prejudicado com o fechamento. O fato é que a partir de terça-feira o local não iniciará novos tratamentos. “Os que estão internados lá vão permanecer até a alta médica deles, ou seja, até a liberação da UTI”, explica.

Em relação às cirurgias também não haverá prejuízos. Isso porque segundo Montini será montada uma sala especial com equipamentos de UTI para atender os casos pós-cirúrgicos que necessitem de maiores cuidados: “Espero que em dois meses a gente consiga fazer essa reforma. O prédio está todo deteriorado e isso é perigoso”.

Também segundo o provedor a situação é bastante precária e exige medidas urgentes. Por isso nem vai aguardar o dinheiro de um convênio que o hospital tem para ser liberado para a reforma. “Não tem nem como atender. Nós precisamos fazer essa reforma urgente. Então, nós vamos fazer isso”, reforça.

NEGA FECHAMENTO DEFINITIVO
Por outro lado, Montini nega qualquer possibilidade de a UTI não reabrir após a reforma e permanecer fechada definitivamente. Inclusive dando até um tom político para a questão, ele alega que é apenas conversa de quem tem intenção de prejudicar o hospital. “Isso é porque tem gente leviana que tem interesse em dizer as coisas, do tipo quanto pior melhor”.

Montini também nega ter havido interdição por causa dos problemas do local. O provedor informa também que já tem um projeto novo para a construção de uma UTI para 10 leitos, sendo que sete deles seriam exclusivamente para o SUS. Só que, nesse caso surge outro problema: “temos dificuldades de médicos de UTI por causa da remuneração baixa”.

INFECÇÃO HOSPITALAR
Outra situação negada pelo provedor está relacionada a eventuais casos de infecções hospitalares na Santa Casa: “Não teve infecção hospitalar, mas só que a parte das pinturas está muito ruim e isso poder gerar certo acú­­mulo de bactérias. As bactérias vêm no ar, mas fora do comum, caso grave, não temos nenhum registro”.

Mas a possibilidade das infecções também é apontada pelo diretor clínico Nilton Roberto Mar­tinez: “A UTI não pode continuar fora dos padrões de segurança, ofe­recendo até riscos de infecção hos­pitalar, sem contar o espaço apertado e os aparelhos já decadentes”.

Reforma da UTI foi causa de intervenção que tirou Helena
A reforma da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) da Santa Casa de Olímpia é uma questão que vem sendo alvo de discussão desde o mês de março de 2010, sendo inclusive uma das causas apontadas pelo então promotor dos Direitos Constitucionais do Cidadão, Gilberto Ramos de Oliveira Júnior, na recomendação de intervenção da diretoria ao prefeito Eugênio José Zuliani.

Na ocasião, inclusive, o advogado e jornalista José Antônio Arantes classificava a intervenção como “o AI-5” do governo Zuliani, ou seja, um ato de “exceção”, que demonstrava haver outros interesses, que não fosse o de solucionar os problemas do hospital que, como se recordam, não capengava da forma como está atualmente.

Na tarde do dia 4 de março daquele ano, uma quinta-feira, por decreto do prefeito, o seu vice, Luiz Gustavo Pimenta assumiu a função de interventor-presidente da instituição.

Uma “medida de exceção”, como a própria juíza declarou em sua sentença na negativa de liminar no mandado de segurança impetrado pela ainda provedora, Helena de Sousa Pereira, ao classificar a intervenção como instrumento excepcional.
O ato de posse não contou com a presença de Helena Pereira, que sequer foi comunicada da intervenção (quem foi notificado foi o administrador do hospital, Mario Flores), dando mostras de que a medida tem contornos políticos, vindo de encontro com a tese de que o estremecimento da relação entre a provedora e o prefeito teve influência na decisão.

EX-PROVEDORA

Como se recorda também, demonstrando bastante tristeza e indignação com os fatos que envolveram seu trabalho à frente da Santa Casa de Olímpia, inclusive a intervenção decretada, a ex-provedora Helena de Souza Pereira (foto), declarava que a Secretaria Municipal de Saúde não havia demonstrado interesse em solucionar o problema do aumento de leitos da UTI.

Inclusive, segundo ela, toda a situação já era de conhecimento do promotor Gilberto Ramos de Oliveira Júnior, através de relatórios que anexou ao inquérito civil aberto pelo Ministério Público, a partir de uma representação do advogado Pedro Antônio Diniz, assessor jurídico do ex-prefeito Luiz Fernando Carneiro.
A possibilidade de solucionar o problema, de acordo com o que ela contou na época: “está num relatório muito bem substanciado que mandei, com provas, com toda a documentação de que estava lutando a tempos. E me propus, desde que eles (Diretoria de Barretos) se comprometessem com a aparelhagem e o cre­den­cia­mento, por isso não dependia de mim, eu arcaria com a responsabilidade da reforma, de adaptação e nem isso eles me responderam”.

Porém, também de acordo com Helena Pereira, a própria Secretaria Municipal de Saúde não teria demonstrado interesse em ajudar na solução: “Eles não tiveram nenhum interesse porque se tivessem, teriam encaminhado para Bar­retos. Já estou com a planta pronta, está lá com o promotor”, afirmou.

Helena reforçava que, enquanto provedora, não teve apoio da Secretaria de Saúde para solucionar a questão da UTI. Até por isso ressalta que não havia essa pendência: “Mesmo porque, diante da documentação que encaminhei para o promotor, ele disse que ia arquivar o inquérito da UTI. Aí eu falei não, agora tem que tocar para a frente porque agora está comprovando que faltou empenho do poder público. Está comprovadíssimo”, reforçava na oportunidade.

Na verdade, o problema continuou e foi piorando de lá para cá e nenhuma providência foi tomada nem pela promotoria, nem por ninguém. O argumento, então, fica provado que apenas serviu para que o prefeito tirasse da Santa Casa a provedora que não era de seu grupo político e assumisse o comando do hospital, utilizando o Ministério Público para isso.

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