04 de agosto | 2013

Negligência no CRI pode ter causado morte de mulher de 72 anos

Compartilhe:

Aurora Aparecida Dório de So­uza (foto à esquerda), de 72 anos de idade, pode ter sido mais uma vítima do atendimento médico deficiente que há vários anos tem sido praticado na saúde pública local e reclamado pela população de O­lím­pia. Para a família houve negligência no atendimento pres­tado por um médico que presta serviço para a Secretaria Municipal de Saúde, atendendo no Centro de Referência do Idoso (CRI), localizado na esquina da Avenida Deputado Dr. Wal­de­mar Lo­pes Ferraz com a Aurora Forti Neves, na região central da cidade.

A idosa faleceu na tarde da terça-feira, dia 30, por volta das 15 horas, cinco horas depois de ter sido internada na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), da Santa Casa local, depois de cinco dias, aproximadamente, ter passado pelo CRI.

Desta feita a família além de um eventual erro médico no Centro de Referência do Idoso (CRI), reclama também a falta de atendimento do SAMU (Serviço de Atendimento Médico de Urgência) e até a falta de vaga na UTI da Santa Casa.

Há sempre muitas explicações e desculpas, quase sempre sem nexo, apresentadas por responsáveis pelos setores, mas sem que um resultado positivo e que resolva a situação seja apresentado.

Junto com seu primo, o autônomo Murilo Tokunaga de Souza, de 28 anos, a psicóloga Tha­is Re­mon­di (foto à direita), de 23 anos, neta de Aurora Apare­ci­da Dório de Souza, procurou a Folha para reclamar da situação e pedir providências.

De acordo com ela, na quinta-feira, dia 25, acompanhou a avó que sentia queimação nos braços e perto do tórax, para um atendimento no CRI com o médico que atende no local. Mas depois de pouco analisar a paciente, ele disse que era apenas um problema de postura e efeitos dos cigarros que a avó fumava.

“Eu achei estranho que ele (médico) não pôs a mão nela, mas a gente já está acostumado com a Santa Casa de Olímpia, onde os médicos geralmente é difícil de porem a mão (no paciente)”, reclamou Thais Remondi.

Por causa disso apenas avisou sua mãe que o médico afirmou que em razão da própria idade, a avó até estaria bem. E quando ten­taram levar a outro médico, a avó não aceitou porque considerava perfeito o diagnóstico feito pelo médico do CRI.

Mas a avó voltou a reclamar dos sintomas na manhã do domingo, dia 28, e nem quis ir a uma festa de aniversário. Ficou em casa e a noite disse que estava tudo bem.

SINTOMAS IAM E VINHAM

Mas na manhã do dia seguinte, segundo a neta, a avó reclamou de sintomas de labirintite, mas permaneceu o dia todo cuidando de um bisneto, com ele no colo, mesmo que pesando 11 quilos, aproximadamente. A tarde parecia que a avó estava bem.

Ocorre que, quando anoiteceu, por volta das 20 horas, a vizinha de Dona Aurora telefonou avisando que ela passava mal e com sintomas de enfarto e foi ai que a situação começou a se complicar.

“Eu não sei, mas ele (médico) depois poderia dar a versão dele. A gente está aqui para ouvir, mas um médico que está ali para atender idosos, o mínimo que ele poderia fazer era aferir a pressão, pedir alguns exames e até encaminhar para um cardiologista. Falar: o­lha, acho que não é nada, mas a se­nhora não quer ir a um car­di­o­logista? A gente tinha obrigado que ela fosse”, lamentou.

Thais diz que até poderiam ter tomado alguma providência e que isso se torna até um motivo de chateação por não terem feito mais nada pela saúde da avó e ter um resultado mais satisfatório.

Em razão disso, a psicóloga reclama do atendimento para ver se a situação melhora no CRI. “Acho que pela postura do médico, para não acontecer com outras pessoas, a gente pode fazer alguma coisa. Mas acho que se ele tivesse feito alguma coisa dava para a gente ter interferido nisso, porque ela só poderia estar com a veia entupida para dar um enfarto”, afirma.

Já o neto de Dona Aurora tam­­bém reclama do funcionamento da Secretaria Municipal da Saúde. “A gente queria cobrar que, desde que esteja aberta uma entidade para cuidar dos idosos, a gente passa um recado para todo mundo porque se hoje a gente ficar quieto é a avó da gente que faleceu por uma negligência. Porque ele (médico) não fez o procedimento que poderia ter sido feito e, amanhã pode ser outra pessoa e assim por diante”, avisa.

E acrescentou: “Queremos cobrar da Secretaria da Saúde porque se está aberto, eles têm de verificar. Acho que está faltando um pouco da Secretaria verificar melhor. Então, a gente vai cobrar uma resposta sobre o que aconteceu para que não venha acontecer com outras famílias também, de serem mal atendidas porque é o caso que a gente ouve falar”.

Família não consegue ambulância e
acha duas paradas no pátio da UPA

Bem que a família da idosa Aurora Aparecida Dório de Souza, de 72 anos de idade, tentou uma viatura do SAMU (Serviço de A­tendimento Móvel de Urgência), para socorrê-la na noite da segunda feira, dia 29, mas não conseguiu. Entretanto, a surpresa foi quando chegaram à Unidade de Pronto Atendimento (UPA) e depararam com duas ambulâncias estacionadas no local.

Entretanto, enquanto eram pres­tados socorros à idosa, os familiares viam que vários pacientes que até tinham condições de locomoção, eram desembarcados por ambulância, situação que também gerou descontentamento, con­forme foi relatado pelo autônomo, Murilo Tokuna­ga de Souza, de 28 anos, neto de Dona Aurora.

De acordo com ele, o pedido de socorro foi feito à noite, logo depois da avó passar mal por volta das 20 horas. Ele conta que ligaram solicitando uma ambulância e a ligação caiu em Barretos.

Além disso, embora fosse uma emergência, caso de uma pessoa que estava enfartando, o aten­den­te ficou fazendo várias perguntas e depois informaram que não tinha uma viatura e que o socorro demoraria um pouco.

O pai e o tio dele, que já estavam na casa da idosa com uma camionete Saveiro, resolveram colocar um colchão na caçamba e levaram a mulher com o veículo até a UPA, mas já solicitando que deixassem o portão aberto porque estavam chegando com a idosa.

No entanto, a surpresa foi ao chegar no local e deparar com du­as viaturas estacionadas na parte dos fundos da UPA, deixando trans­parecer que na realidade não haveria motoristas para nenhuma delas, para que prestasse o socorro desejado. “Fecha. Se não tem ambulância para atender a noite, fecha ou divulga: ó durante a noite a UPA de Olímpia não leva ninguém”, reclamou.

CIDADE JOGADA ÀS TRAÇAS
Para ele, da forma como funciona a UPA perde o ponto a finalidade: “Acho que uma unidade de pronto atendimento, o próprio no­me já fala, é pronto atendimento. A ligação vai para Barretos, quer dizer, nós somos distrito de Bar­re­tos. Se a unidade de pronto atendimento é aqui, a ligação tem de cair aqui, tem que ter motorista, tem que ter ambulância. Se não, não tem a finalidade de ter aberto a UPA. Por quê? Acho que Olímpia está muito jogada às traças. Ouvi que a cidade ganhou um selo de saúde, mas acho que não melhorou em nada. Esse selo aí não serve para nada”.

O autônomo entende que está faltando melhor organização na Secretaria Municipal de Saúde: “É muito desorganizada. Acho que a secretaria teria que ter uma pessoa para cuidar disso e às vezes tem cinco pessoas para cuidar da mesma coisa que ninguém faz nada”.

Os familiares ainda fazem um alerta. Segundo a psicóloga Tha­is Remondi, de 23 anos, naquele dia havia apenas um médico atendendo na UPA. “Se chegam dois (casos de pacientes) graves. E Aí? Eles vão ter de escolher entre um e outro? Um morre e outro eles salvam?”, questionou ao finalizar.

Compartilhe:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do iFolha; a responsabilidade é do autor da mensagem.

Você deve se logar no site para enviar um comentário. Clique aqui e faça o login!

Ainda não tem nenhum comentário para esse post. Seja o primeiro a comentar!

Mais lidas