22 de abril | 2012

Morte de bebê causa revolta em moradores do Santa Ifigênia

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A morte da pequena Rafaela dos Santos Pereira, com apenas seis meses de idade, ocorrida por volta de 11h30, de quinta-feira, dia 19, após dois dias de peregrinação pela rede pública de Saúde local, acabou causando revolta nos moradores da região do Jardim Santa Ifigênia, na zona norte de Olímpia.

Logo após a informação da morte, dezenas de moradores, a maioria mulheres, muitas delas chorando, se reuniram em frente à Unidade Básica de Saúde (UBS), localizada na Avenida Constitucionalistas de 32, revoltadas com o descaso em relação ao atendimento médico que é prestado naquela unidade.

A revolta era principalmente pelo fato do falecimento de Rafaela, que não teria sido atendida adequadamente. Porém, moradores entrevistados pela reportagem desta Folha reclamaram também de outros problemas que atingem a população do bairro, também relacionadas com o atendimento de saúde.

Embora elogiando as atendentes da UBS, a dona de casa Sonia Aparecida Postiglione não poupou críticas ao sistema que enfrentam sempre que necessitam de atendimento médico, que quase nunca acontece obrigando que desloquem a outros bairros.

“As meninas daqui são muito boas e atendem a gente muito bem. O problema aqui são os médicos que não tem. Você vem marcar uma consulta é porque o filho está doente, porque a gente não tem R$ 200 ou R$ 300 para pagar lá na hora”, reclamou.

“Se você vai à Santa Casa eles mandam vir aos postinhos, se você vem aos postinhos eles mandam ir a Santa Casa. E aí como é que fica? Depois que estiver num caixão não interessa mais”, acrescentou.
Mas de acordo com ela, faltam médicos para atender pacientes de qualquer idade que chegar a unidade. A explicação, segundo disse, é sempre a mesma: “que não tem médico, que não tem culpa. Eu não tenho culpa, eu estou marcando. Tenta no Santa Fé, tenta na Cohab”.

“NÃO PRECISAMOS DE PRAÇA!”
Pelo que Postiglione expressou, o tamanho da revolta já extrapola as condições de aceitação pela falta de atendimento. Ao ser questionada sobre o que pensava da situação, ela definiu: “Uma pouca vergonha. O que o nosso prefeito está fazendo em nossa cidade? Praça? Nós não precisamos de praça não, nós não somos aposentados. Para quê aquilo tudo. O que passa na televisão é tudo mentira”.

Bastante revoltada a dona de casa Postiglione relatou o que enfrentam quando chegam a unidade em busca de atendimento. “Acontece sempre a falta de atendimento. A fila vai até na esquina. Cada um vai jogando para outros postos. É uma falta de respeito”, afirma a dona de casa.

O desespero toma conta principalmente das mães que têm seus filhos com algum tipo de problema de saúde. A dona de casa Tamiris Cristina Rosa estava tentando marcar uma consulta para o filho que também tem apenas seis meses e estava com sintomas de febre e queria uma consulta para a manhã de ontem. “Cheguei aqui e disseram que não tinha vaga, só amanhã e no caso se marcar (a consulta) para amanhã, só segunda-feira para atender. O meu filho está lá com febre”, reclamou.

A insatisfação se tornou maior quando ficou sabendo da morte de Rafaela. “Fui ali, no centro comunitário, briguei e ninguém fez nada. A gente pedindo para eles ajudarem, pelo amor de Deus para marcarem algum lugar para a menina e disseram; Não tem! A gente é tratado com falta de respeito, como se fosse lixo, a questão é isso”, revelou.

E acrescentou: “Eles não se preocupam por quê? Porque eles têm condições de pagar um médico, de pagar uma faculdade, de pagar uma escola para os seus filhos. E nós? Só porque nós somos pobres? Caramba, vamos pensar em nós também. Foi preciso a menina morrer para eles enxergarem isso? O que é isso gente? O meu filho está ruim lá dentro, está esperando chamar, da hora que ele está esperando, desde manhã cedo que eu cheguei e não tinha”.

Os atendimentos são limitados a 16 pessoas, segundo relatou a dona de casa Juliana Priscila da Silva. A procura é diária e segundo ela sempre com a mesma dificuldade. “A gente vem de segunda a segunda e é difícil de encontrar um médico”, enfatizou.

De acordo com Priscila da Silva, “só atendem os primeiros 16 que estão na fila, você pode madrugar aqui. Isso está uma pouca vergonha. Está escrito bem grandão que você não pode maltratar os funcionários, a gente vem aí e até de galinha a mulher me xingou. Aí fui e dei parte dela e fiz até um boletim de ocorrência contra ela, porque a gente está sendo tratado igual a cachorro. A gente vê na televisão que tem 50 médicos, que fez isso e fez aquilo, ele nunca fez nada para a população, é tudo mentira”.

“MARCAM PARA DAQUI 2 OU 3 MESES!”
As consultas, segundo Priscila, chegam a demorar até três meses: “Você vai para marcar médico e marcam para daqui dois ou três meses e se tiver que morrer você morre porque não tem médico nenhum. Você vai a Santa Casa e eles não olham, já vão assinando a receita e te mandam embora. Nem olham para a sua cara, só olham quem chega de carrão e de chave na mão. A gente fica lá mais de hora”.

Priscila disse ainda “Outro dia cheguei lá (Santa Casa) de madrugada com o meu filho doente e vomitando, só tinha eu e demoraram mais de uma hora para atender. Só atenderam porque chegou uma mulher que pagava para atender e não tinha ninguém. O médico estava dormindo só esperando juntar gente para ele poder atender. Eles dormem para juntar gente para eles poderem chamar. Eu já vi”.

A dona de casa Aparecida Donizete Smolari também reclama por causa da falta de médico na unidade. A filha de nove anos sofre com bronquite e teve que levar para um atendimento. “Não tinha médico, não tinha remédio, não tinha nada. Elas queriam me passar para o postinho da Cohab I, eu falei que eu não iria. Acho que teria de ter um médico aqui na hora para poder atender as crianças”, explicou.
 

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