10 de agosto | 2009

Grupo Folclórico Zambiapunga será atração inédita do 45.º Fefol

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 O Zambiapunga, uma manifestação folclórica que ocorre no Município de Nilo Peçanha, no Estado da Bahia, será a atração inédita convidada pela comissão or­ga­nizadora, para apresentar durante o 45.º Festival Nacional do Fol­clore. De acordo com João Nor­berto Gianotto, Janotão, atualmente no cargo de diretor do Recinto de Exposições e Atividades Folclóricas Professor José Sant’an­na, se trata de “um grupo folclór­ico de beleza e raridade imensas, que vai levantar o público das arquibancadas”.

O Zambiapunga de Nilo Peçan­ha é uma manifestação atual da cultura popular baiana, cuja origem liga-se profundamente a aspectos culturais importados do continente negro. A manifestação é caracterizada pelo uso de búzios gigantes, enxadas e outras ferramentas agrícolas, que são tocados como instrumentos de percussão pelos componentes e caracteriza-se, ainda pela diversão das pessoas envolvidas, que saem durante a madrugada, com a finalidade de acordar a população com sons dos instrumentos. Um importante aspecto é a vestimenta elaborada com retalhos de panos e seda extremamente colorida.

De acordo com o texto do historiador Alexandre Guimarães, ao qual a reportagem desta Folha obteve acesso pela Internet (Rede Mundial de Computadores), o termo Zambiapunga tem origem, provavelmente, no nome do deus supremo dos Candomblés, ou seja, Zamiapombo.

Zambiapunga é um grupo de homens mascarados que saem às ruas de Nilo Peçanha tradicionalmente na madrugada do dia 1o de novembro, dia de Todos os Santos, véspera de Finados, vestindo roupas coloridas feitas com panos e papeis de seda e percutindo instrumentos peculiares como enxadas, búzios, cuícas rústicas e tambores.

Ritual religioso
Segundo o historiador, é provável que o Zambiapunga do Baixo-Sul baiano era ou integrava um ritual religioso de uma parcela dos africanos escravizados. Para entender esse aspecto é necessário fazer uma análise etimológica do termo e enumerar alguns aspectos da religiosidade dos povos cujo termo citado se liga: os Bantos. Zambi ou Nzambi-a-Mpungu é o Deus supremo de povos bantos do Baixo Congo.1 A relação entre a pa­la­vra “zambiapunga” e o Deus supremo de africanos é a primeira evidência da origem religiosa do folguedo atual.

Para compreender a segunda evidência da origem religiosa é necessário conhecer um pouco sobre os Bantos e sua religiosidade. Os bantos, povos cujas línguas possuem uma origem comum e, por isso, o termo “Banto” delimita um grupo lingüístico africano e não uma etnia, vivem em todo o território abaixo do equador, ocupando uma área de 9 milhões de quilômetros quadrados, englobando cerca de 190 milhões de indivíduos.

Além das grandes es­pe­ci­ficidades culturais que pode haver entre tan­ta gente, os Bantos possuem outras características culturais semelhantes além do parentesco lingüístico. Segundo o texto, “parece que em todas as religiões bantas os espíritos dos ancestrais são os intermediários entre a divindade suprema e o homem. Assim, são eles que levam as oferendas dos fiéis e intercedem em seu favor junto a Nzam­bi”. Essa importância do espírito dos ancestrais na religiosidade Banto é o segundo fator que evidencia o caráter religioso inicial da manifestação.

Uma característica que apontada para a religiosidade é o fato de ir às ruas em Nilo Peçanha é a madrugada de 1o de novembro, véspera do dia de Finados, quando a população local volta sua atenção para a lembrança de seus mortos que são homenageados com flores, velas e missas, momento mais propício do calendário católico para um cortejo que refletia uma religiosidade baseada na ances­tra­lida­de ir às ruas.

Outra evidência do caráter religioso inicial do grupo é o significado do termo “Mpungu” de Nzam­bi-a-Mpungu. Segundo vocabulário construído por Aires Machado Filho e reproduzido por Nei Lopes, a palavra “Mpungu” é provavelmente sinônima de “defunto”.

Yeda Pessoa traduz, por sua vez, “nzam­bi ampungu” como o grande espírito e “saami ampunga” como os grandes ancestrais. “Mpungu”, “ampungu” ou “ampunga” são palavras bantos que se referem aos mortos, aos antepassados, o que evidencia a relação da origem do ZambiAPUNGA atual com a religiosidade Banto. Com o tempo o caráter religioso se perdeu e permaneceu uma bela manifestação da cultura popular, tornando-se uma das maiores manifestações folclóricas do Estado da Bahia.

 

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