22 de julho | 2018

Família de Olímpia encontra filho que não via há 37 anos

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Da redação com G1 Campinas

Uma família olimpiense, que grande parte reside no Jardim Santa Fé, na zona leste da cidade, acabou encontrando um filho que não via há aproximadamente 37 anos, quando ele deixou sua casa em busca de trabalho, inclusive em outro país. Morador de rua, ele nem imaginava que seus pais ainda o procuravam. Fabiano Moreira Gomes, de 63 anos de idade, viveu nas ruas da região central de Campinas, e não acreditava que os pais, de 87 anos, ainda estivessem vivos.

De acordo com o trabalho da jornalista Patrícia Teixeira, que foi divulgado nesta semana, passados alguns anos, ele aceitou o acolhimento da Prefeitura da cidade. Conseguiu assistência médica, alimento, moradia, benefícios. Era uma das 623 pessoas em situação de rua em Campinas, até o dia 13 de julho, quando foi encontrado por três de seus irmãos.

Do adeus à família para buscar emprego no Paraguai aos recursos limitados nas ruas do Centro de Campinas foram 37 anos. Em situação de rua, Fabiano Moreira Gomes passou por acasos que mudaram seu destino. Após ganhar perfil no Facebook e ser vítima em um registro policial, foi localizado pelos irmãos. A distância deu lugar a um reencontro surpreendente.

Os primeiros momentos com a família foram registrados em vídeos feitos pela irmã Marta Gomes Dias, de 43 anos. O dia 13 de julho de 2018 ficará marcado para sempre. “Não imaginava. Não esperava essa maravilha de encontrar meus parentes. Meus pais, meus irmãos, meus sobrinhos”, conta Fabiano.

Sem histórico de álcool e drogas, Fabiano era conhecido de quem passava com frequência na Avenida Francisco Glicério, uma das principais da cidade. Um lugar que marcou pelo sofrimento. “Eu vivi sete anos na rua, mas fora dos meus parentes, 37 anos. Antes desse tempo andei em vários lugares, Paraguai, Paraná, trabalhando em outros serviços. E na rua fiquei um ano e quatro meses sem tomar banho, sem molhar nem a sola da mão”, lembra Fabiano.

Com pai e mãe ainda vivos, ambos com 87 anos, a caçula de nove filhos Marta Gomes Dias, de 43, tinha apenas 6 quando o irmão foi tentar ganhar a vida no Paraguai. Quando pensava nele, achava que estaria com família ou até morto. Mas a esperança era sempre alimentada pela mãe. “Minha mãe dizia: ‘Eu não vou morrer antes de ver meu filho’. Ela tinha certeza, sentia no coração que ele estava vivo”, conta emocionada.

Medo de pessoas dificultava assistente fazer aproximação

O resgate dos laços familiares de Fabiano Moreira Gomes vinha sendo uma missão também para Cláudia Gripe nos últimos meses, principalmente nas últimas semanas. Ela é monitora social do programa SOS Rua, da Prefeitura de Campinas, e acompanhava o caso dele e nem desconfiava que o encontro estava prestes a acontecer. Conta que sempre esbarrava na dificuldade que Fabiano apresentava para se aproximar das pessoas.

“Ele tem um longo histórico de rua em Campinas. A princípio não aceitava nenhum tipo de aproximação. Sofreu várias violências nesses anos, mas quando acontecia alguma coisa muito grave, ele pedia para chamar assistência e SAMU”, conta.

“Já tentaram roubar as coisas dele, já foi ferido gravemente, teve algumas passagens pelo Hospital Municipal Dr. Mário Gatti, (HC da) Unicamp. Ele tem diabetes, pressão alta”, completa.

Depois que as coisas não deram certo no Paraguai e a passagem por cidades no Sul e Sudeste até parar em Campinas, o emprego não veio como imaginava e a rua foi a opção que restou.

“Eu não consegui serviço. Quando eu pedia, me enrolavam. Meu troquinho acabou e fui para rua, fui viver do que o povo me dava”, lembra Fabiano.

Passados alguns anos, ele aceitou o acolhimento da Prefeitura. Conseguiu assistência médica, alimento, moradia, benefícios. Era uma das 623 pessoas em situação de rua em Campinas, até o dia 13 de julho.

“Foi um desfecho muito surpreende. Toda a evolução do caso foi surpreendente, era uma pessoa que não aceitava nenhum tipo de aproximação. Eram poucas vezes que ele aceitava ajuda, foi acompanhado por vários profissionais. Resultado de um trabalho de parceria. É uma realização”, comemora Cláudia Gripe.

Perfil criado por comerciante no Face foi visto por cunhada

Esse encontro é uma prova de que uma ferramenta digital utilizada com bons sentimentos e desprendimento em fazer o bem, sempre colabora com a população. Os cerca de 350 km que separavam Fabiano Moreira Gomes da família, começaram a ser encurtados quando uma comerciante da região central de Campinas decidiu criar um perfil do morador de rua no Facebook, conta a irmã.

Coincidentemente, uma das cunhadas de Fabiano viu o perfil e a foto chegou aos irmãos. A semelhança com o pai deles impressionou. As buscas sem sucesso desde o sumiço dele pelo Pa­raguai haviam terminado ali.

Vigilante no Fórum da cidade de Olímpia, Marta Gomes Dias pediu ajuda a um policial militar. Com nome e data de nascimento, a busca foi por meio de registros na Polícia Civil.

Os mesmos dados estavam num boletim de ocorrência registrado em março de 2018, quando Fabiano havia sofrido uma tentativa de furto ao carrinho que usava para transportar seus poucos pertences.

“Um dia depois que o descobrimos na rede social, comecei a procurar, mandar foto nos classificados. Foi uma semana desde que localizaram o Fabiano na rede social e até localizar o BO. A gente conseguiu o endereço da delegacia e foi pra Campinas. Foi muito rápido”, conta a irmã. “Foi muita surpresa. Não tem nem palavras para agradecer a Deus por esse privilégio de ter encontrado ele”, acrescentou Marta.

Os pais foram informados com todo o cuidado por conta da hipertensão e da saúde frágil. À meia-noite de 13 de julho, uma sexta-feira, Marta e dois dos irmãos saíram de carro de Olímpia rumo a Campinas. A viagem foi longa até encontrarem o local exato. Às 8h30 estavam na porta da delegacia.

“A gente entrou em contato com um policial e ele disse onde a gente poderia encontrar uma pensão, o endereço que ele deu quando fez o BO. Eram dois quar­­tei­rões da delegacia. A gente foi andando a pé e todo mundo que a gente via na rua, a gente olhava”, explica.

Ao chegarem na pensão, foi o próprio Fabiano quem os recebeu. Os irmãos não demoraram a contar o propósito da visita e as lembranças que vieram à tona foram suficientes para o homem ter a certeza de que estava diante da sua família e, principalmente, saber que os pais estavam vivos e esperando por ele.

“A gente começou a falar coisas do passado que só ele mesmo poderia lembrar. Para ele acreditar que era a família mesmo. Foi caindo a ficha, a felicidade foi demais. Ele ficou em choque. (Quando soube dos pais) ele chorou de emoção, para ele foi uma surpresa”.

Fabiano integra programas de assistência da Prefeitura de Campinas e, resolvidas as questões burocráticas, entrou no carro com os irmãos às 12h30 do mesmo dia. No fim da tarde, ele já estava junto de seus pais em Olímpia.

“(Os pais) estavam sentadinhos. Os vizinhos, todo mundo na rua querendo ver, esperando a volta dele, pessoas que nunca viram ele na vida, mas todo mundo queria ver”.

O abraço nos pais foi longo e de poucas palavras. Um a um os irmãos se revezaram entre carinho e muita emoção. Acolhido na casa de Marta, onde a família busca ajuda de doações para construir um quartinho para ele, Fabiano ainda parece sob o encanto de toda a mudança em sua vida.

“Senti uma coisa muito maravilhosa. É dura a situação, né, a vida de um pobre. Não tenho mais palavras”, diz Fabiano já com a voz embargada e emocionado.

 

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