14 de agosto | 2016

Expulsão do Curupira iniciou derrocada do Fefol em 2001

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A expulsão do Curupira, de­nominado por decreto o Pa­trono dos Festivais do Folclore, principalmente na cerimônia de abertura oficial do evento, iniciou a derrocada do Festival Nacional do Folclore (Fefol), em 2001, quando o ex-prefeito Luiz Fernan­do Carneiro decretou seu “exílio”. Na ocasião acabou se instalando uma polêmica que, pelo menos do que se pode perceber, tem tendência a continuar por, ao menos, mais alguns anos.

Embora até hoje não tenha sido confirmado oficialmente, o “exílio” ocorreu em razão de duas situações. Uma delas seria o fato de o prefeito, que iniciava seu primeiro mandato não querer entregar a chave ao Curupira.

Outra situação estava relacionada com a imagem do mesmo que, com os pés virados pa­ra trás, segundo a crença de alguns religiosos, provocaria um atraso à cidade.

Por isso, talvez pressionado por outros evangélicos, dentre eles a própria coordenadora cultural do Festival, Maria A­parecida de Araújo Manzoli, o então vereador Primo José Álvaro Gero­lim, apresentou um projeto de lei na Câmara Municipal propondo o “exílio” do Curu­pi­ra.

Embora muito tempo antes, ainda na administração do ex-prefeito José Carlos Moreira, o vice-prefeito Manoel Arantes Nogueira Neto, quando o professor José Sant’anna ainda con­tava com bastante saúde, tivesse proposto que não se trouxesse mais grupos de outras localidades e os criasse a­qui em Olímpia, a ação de Primo Gerolim foi a primeira intervenção política mais séria contra o festival.

Entretanto, embora a maioria dos entrevistados pela reportagem desta Folha preferisse a volta da brincadeira estili­zada pelo professor José San­t’­anna, idealizador e criador do evento, de passar a chave da cidade ao mito, para que, simbolicamente, governas­se a cidade por uma semana, o clamor não foi bem visto até pelo atual prefeito, Eugênio José Zu­liani, que sempre prometeu recuperar a história dos festivais, mas nunca cumpriu.

Poucas pessoas declaravam que não entregariam e que preferiam que fosse realizado como a forma escolhida pelo atual prefeito, que fez a opção, conforme declarou no palco oficial, durante uma abertura oficial do evento, de entregar a chave a “Jesus Cristo”.

Como se recorda, a chave era entregue a um aluno da rede de ensino municipal que representava o mito e era devolvida ao prefeito por ocasião do encerramento do festival. Porém, a tradição de o Curu­pira ser o ‘gover­nante da cidade’ durante uma semana, foi quebrada em 2001, no primeiro ano do primeiro mandato do ex-prefeito Carneiro.

Entretanto, é unânime não considerar que o mito seja um demônio e possa colocar me­do. Quer dizer, todos entendem que se trata de uma lenda e, que as lendas não podem fazer mal a ninguém, mas pelo contrário, apenas daria mais beleza cultural ao evento.

FALTA DE DIVULGAÇÃO DO EVENTO
Além disso, as péssimas administrações do evento acabaram por afastar também outra parcela importante de pessoas que compunham o público mais específico do festival: os alunos de escolas de outras cidades e também os grandes pesquisadores.

Uma das dificuldades que essas pessoas passaram a encontrar foi a falta de divulgação do evento, diferente do que Sant’anna fazia que era espalhar antecipadamente os cartazes promocionais para os lugares mais distantes do Brasil, situação que piora a cada ano que passa.

Também com o professor Sant’anna, a divulgação era constante também para os moradores de Olímpia. A cada semana ele anunciava um novo grupo que encontrava através das pesquisas que realizava. Atualmente, até mesmo a população não fica sabendo nada do evento que já foi o mais importante da cidade.

E foi também a partir de 2001, situação que prevalece até os dias de hoje, que grupos que se apresentavam tradicionalmente nos festivais começaram a encontrar dificuldades com os organizadores do evento e muitas vezes com os prefeitos da cidade.

Por exemplo, por razões polí­ticas o folclórico de Olím­pia, Terno de Moçam­bique São Benedito, do Jardim Santa I­figênia, único do gênero no Brasil, passou sete anos sem se apresentar e somente em 2007, depois de muita pressão popular, inclusive, re­tor­nou às atividades culturais e religiosas.

Em 2009, o companheiro de todas as horas, até o último dia de vida do professor José Sant’anna, o autônomo João Norberto Gianotto afirmava que o festival havia mudado muito, tanto na parte estrutural, quando na cultural.

Na passagem do 10.º ano do falecimento de Sant’anna, Gianotto sintetiza o que pensava do festival sem a presença de Sant’anna: “Costumo dizer que numa hora dessas pas­sou do Japão, cavucou a terra e está para lá do Japão”. Para ele, se o professor ainda estivesse vivo as coisas não seriam da forma como vem acontecendo.

O folclorista falecido, segundo o filósofo, advogado e jornalista José Antônio Arantes, editor desta Folha, abominava qualquer predominância de re­ligiões nos eventos, pois entendia que o elemento folk tinha que ser visto de forma científica, livre das influências religiosas, levando-se em conta os costumes oriundos de diversas variantes, todas elas assimiladas e reinterpretadas pe­la população mais humilde, que compõe a maioria dos fol­guedos, com sua visão de mun­do. “Claro que todas as manifestações, de uma forma ou de outra, trazem no seu bojo aspectos religiosos e a crença em alguma coisa, mas quando se traz o elemento religioso mais diretamente ligado a uma religião, ou uma variante delas, abominando, por exemplo, o curupira, como ocorreu, sinaliza-se para o distan­cia­mento dos princípios do professor”, afirmou na oca­sião.Mas a redução do total de grupos ficou acentuada a partir de 2010, quando, alegando dificuldades de várias ordens, foi reduzido de 73 para 51, no prazo de uma semana.

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