25 de julho | 2021

Ex-ministro da Saúde acredita que crise da covid será controlada apenas no final de 2022

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Sobre o atentado à Folha da Região de Olímpia disse: “Vocês sofreram um ataque gravíssimo, à liberdade de imprensa, à liberdade de opinião, uma tentativa de inibir vocês de continuarem existindo”.

Padilha acredita que uma nova cepa do vírus poderá surgir e driblar o efeito dos imunizantes.


O ex-ministro da Saúde e atual deputado federal pelo PT – Partido dos Trabalhadores, Alexandre Padilha, esteve em Olímpia recentemente e foi entrevistado pelos jornalistas Willian Antônio Zanolli, Silvio Facetto e José Antônio Arantes, quando, entre outras coisas, disse acreditar que a crise de saúde provocada pela pandemia somente será controlada no final do ano que vem. Isso se não surgir uma nova cepa do vírus que consiga driblar o efeito das vacinas que estão sendo aplicadas no Brasil.

Padilha, que veio a Olímpia rever correligionários e se reuniu com eles na casa da presidente do partido, a advogada Monica M. L. Nogueira, além de passar para os amigos de Olímpia como está a situação em Brasília, também abonou fichas de novos filiados do partido, além de responder a perguntas sobre temas diversos.

LUZ NO FINAL DO TÚNEL?

Logo após, o ex-ministro foi entrevistado pelos jornalistas. A entrevista, inclusive, foi veiculada no programa Cidade em Destaque, pelos 98,7 Mhz da Rádio Cidade, na segunda-feira, 19.

Os jornalistas questionaram se ele entendia que o fato de os números voltarem a estar em queda poderia significar uma luz no final do túnel.

Padilha foi enfático ao dizer que não é possível começar a relaxar, achando que a pandemia está superada, pois, embora o momento seja de redução de internações e de mortes no país já mostrando sinais de que a vacinação está avançando nos grupos prioritários.

“Se compararmos com a pandemia do H1N1, por exemplo, que a gente vacinou 88 milhões de pessoas em 03 meses, o Brasil podia ter repetido agora nessa pandemia, infelizmente não fez, estamos num momento de redução, mas a gente não pode baixar a guarda que esse vírus já mostrou a sua capacidade de gerar mutações e podemos entrar numa nova onda de infecções congestionando hospitais novamente”.

QUARTA ONDA

Folha da Região: Você acredita, então, que pode vir uma quarta onda?

Alexandre Padilha: É igual represa que ta fechada e abrir uma fissura nessa represa. Além da possibilidade de termos que viver ainda outras ondas de infecção, durante todo esse tempo uma infinidade de pessoas teve cirurgias adiadas, mulheres que não puderam fazer o papa Nicolau, mamografia, por exemplo, e quando fizerem já vai estar num nível mais avançado; Saúde mental também é um setor gravíssimo; eu continuo atendendo na periferia de São Paulo junto com os alunos das faculdades que dou aula, e toda semana eu vejo a quantidade de pessoas com sequelas da covid-19, problemas de saúde mental que não tinham; podemos ter uma quarta onda também com estes casos represados não de covid, mas de outras doenças cujo tratamento foi adiado.

FR: A vacina protege ou não protege?

AP: Ela protege para você não ter caso grave, para você não vir a óbito. Vacina é igual a um grande goleiro que defende maior parte das bolas, mas uma hora pode falhar. Então, as vacinas que nós temos protegem contra você ter morte, contra você ter caso grave, mas não te protegem contra a infecção. Então falar que está vacinado não é passaporte para você fazer qualquer coisa, se descuidar, deixar de usar máscara, álcool em gel e evitar aglomerações.

FR – E sobre escolher vacina?

AP – Eu já vi pessoas que chegam no posto de saúde e dizem que não querem tomar essa ou aquela vacina e que vão esperar mais um pouquinho pra tomar uma vacina específica e nesse período que espera, se infecta, tem um caso grave, tem que ficar na UTI. Então, a melhor vacina é aquela que está no seu braço.

AS VARIANTES E A PANDEMIA

 FR: O que as variantes influenciaram na pandemia?

AP: O Brasil chegou a 200 mil mortes no dia 7 de janeiro desse ano, então o ano passado inteiro, hoje tem mais de 530 mil pessoas que morreram, então tiveram 330 mil pessoas a mais que morreram no primeiro semestre. É notório que o aparecimento principalmente da variante de Manaus tornou a pandemia muito mais letal.

FR: E a variante da Índia que parece estar chegando agora?

AP: A de Manaus se mostrou pior porque, além de infectar muito, tem um grau de letalidade maior. A da Índia se mostrou uma variante que tem muito poder de transmissão, está transmitindo muito para as pessoas, preocupa muitos países e tem que preocupar o Brasil, mas é menos letal. Agora tem a variante que entrou na Copa América, que veio pela Colômbia que também tem que preocupar o Brasil. Mas, não se iludam, pois um dia vai surgir uma nova mutação resistente às vacinas que nos temos. E isso vai acontecer daqui três meses, 05 anos? Ninguém sabe. Precisamos acelerar a vacinação aqui no Brasil, e quem tem chance de vacinar, não pode negar a vacina, tem que tomar a vacina o mais rápido possível.

A GENTE VAI SUPERAR
ESSA PANDEMIA

FR: A gente vai ter que conviver com este vírus o resto da vida?

AP: Não. A gente vai superar essa pandemia. Quando você atinge 70, 80% da população vacinada, você consegue criar uma barreira protetora para conter a transmissão rápida do vírus. Se não surgir nenhuma mutação resistente às vacinas que nós temos, até o fim do ano que vem, acho que no final de 2022, nós vamos ter a pandemia controlada.

FR: E sobre as sequelas que esta doença deixa?

AP: Vai ser preciso reorganizar o SUS para dar conta dessas sequelas. Como médico tenho visto isso direto, pois mesmo deputado continuei na linha de frente. Toda semana pessoas que felizmente não morreram, mas estão com sequelas no coração, no pulmão, sequelas nos músculos, na parte neurológica, outros estão com sequelas psicológicas.

SEQUELAS SOCIAIS

SÃO GRAVÍSSIMAS

— As sequelas sociais também são gravíssimas. Hoje temos mais de 70 mil crianças que são órfãs, perderam o pai e a mãe. E um número maior que perdeu avô e avó, que era o esteio financeiro da família. Você tem várias famílias que quem sustenta a família é o avô e avó que tem a aposentaria. A educação também é uma sequela social inimaginável. O Brasil e o resto do mundo poderão demorar até 05 anos para recuperar estes impactos sociais.

FR: Como você viu a atuação do governo federal nessa crise?

AP: É trágica. O Brasil tem a pior resposta mundial à pandemia. Estudos independentes já classificaram isso. Tem que avaliar qual era o potencial da resposta do Brasil, o que o Brasil tinha condições de fazer e não fez. O Brasil foi o campeão mundial de vacinação da pandemia da H1N1, quando eu era ministro do presidente Lula.

— O Brasil vai estar em agosto ou em setembro como o que tem o maior número de mortes por Covid no mundo.

— Mas o mais impressionante é que o presidente não para. Todo dia ele faz campanha contra a vacina, fala sobre remédio que não tem eficácia. Ataca alguém, estimula aglomeração. Não para na postura dele em relação a pandemia da Covid-19.

SE NEGAR A COMPRAR

VACINAS FOI O PIOR

FR: Qual foi a pior atitude do presidente no trato com a pandemia?

AP: Eu acho que a coisa que teve impacto maior foi se negar a comprar as vacinas, as que foram oferecidas. Porque o Brasil tinha tudo para começar a vacinar como os Estados Unidos começou, a Europa começou, e ser o líder da vacinação.

FR: O que pode resultar essa CPI em termos práticos?

AP: A CPI é uma comissão de investigação. Então eu acho que de prático a CPI já tem documentos para provar que o governo federal se negou a controlar a pandemia e por isso é responsável por milhares de mortes no Brasil.

— A CPI não criminaliza, não faz um julgamento final. Acho que a CPI vai produzir provas o suficiente que vai ajudar a população a pressionar o congresso nacional a tirar o Bolsonaro de lá. Mas isso vai depender muito da pressão da sociedade. Então é essa pressão nacional a partir das provas da CPI, que podem mudar a opinião hoje do congresso.

ONDE PODE CHEGAR

A CPI DA COVID?

FR: Estes documentos da CPI não podem resultar também um processo contra Bolsonaro no Tribunal Penal Internacional?

AP: Acredito que isso tem um peso enorme e a CPI vai terminar o relatório dela e apresentar ao presidente do senado, para o presidente da Câmara, para o Ministério Público, para o Procurador Geral da República. Mas acredito que a CPI vai querer também apresentar esse relatório para a ONU, para a OEA, e para o Tribunal Internacional de Haia, porque a CPI já tem elementos para caracterizar a postura do Bolsonaro como crime contra a humanidade.

FR: Você acredita na possibilidade de um golpe e que possamos ter uma volta da ditadura?

AP: Em se falando de Bolsonaro você não pode descartar nenhum cenário. Eu tenho certeza absoluta que teve gente que votou no Bolsonaro achando que aquilo que ele fala eram só palavras e nunca imaginou que o Bolsonaro ia fazer o que fez na pandemia e hoje se arrepende de ter votado no Bolsonaro. Eu respeito quem votou no Bolsonaro, mas tenho certeza que quem votou no Bolsonaro, nunca imaginou que Bolsonaro fosse médico para indicar um medicamento, por exemplo. Eu avalio que Bolsonaro prepara um clima de terror para o país. Quer criar um ambiente de violência, para inibir as pessoas de exercer a sua opinião, de defender a sua posição.

VOCÊS SOFRERAM

UM ATAQUE GRAVÍSSIMO

— Tem muita gente hoje que está inibida, que fala que vai na rua e que tem medo de exercer a sua opinião, por conta da violência. Vocês passaram por isso! Vocês sofreram um ataque gravíssimo, à liberdade de imprensa, à liberdade de opinião, uma tentativa de inibir vocês de continuarem existindo. É o Bolsonaro que cria esse clima de terror no país. Não que essa instabilidade seja feita por ele precisamente, ou por uma força armada, mas por essas milícias antidemocráticas que ele vai alimentando no país, que fazem atentado contra a liberdade de imprensa, contra o patrimônio de vocês, atentado contra a vida que colocou a vida de pessoas em risco.

— A gente não pode passar pano para isso. Não podemos deixar eles avançarem um centímetro sobre o autoritarismo.

Padilha finaliza a entrevista afirmando:

— Nós vamos superar essa pandemia e nós vamos superar esse momento difícil que o Brasil vive. Eu sou um eterno otimista. Eu tenho certeza que nós vamos vencer o Bolsonaro, o bolsonarismo, o facismo, o que ele significa vai ser derrotado nesse país. Nós vamos reconstruir o Brasil.

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