22 de novembro | 2023

Em entrevista ao Diário, Cunha põe o pé na política de Rio Preto, critica Geninho e provoca o prefeito Edinho

Compartilhe:

Em entrevista ao Diário da Região de Rio Preto, prefeito de Olímpia assume desejo de comandar, se tiver estrutura, a Região Metropolitana, diz que vai ajudar Valdomiro na disputa municipal em 2024 e critica Itamar e Geninho.

Cunha durante entrevista ao Diário no dia 17 de novembro de 2023. Foto: Guilherme Baffi

DO DIÁRIO DA REGIÃO – Em matéria de Maria Elena Covre com Lucas Israel publicada na edição de domingo do Diário da Região de São José do Rio Preto, o prefeito de Olímpia, Fernando Cunha, revelou sua intenção de alargar horizontes políticos e tentar ser deputado, mas antes quer assumir o comando da Região Metropolitana de Rio Preto, a qual Olímpia e outras dezenas de cidades fazem parte.

Segundo o Diário, Cunha põe o pé na política de Rio Preto e provoca o atual prefeito da cidade, Edinho Araujo, que também tem interesse em comandar a mesma região metropolitana.

“Aos 67 anos de idade, ex-deputado, ex-secretário do Estado de São Paulo e muitas histórias para contar na vida pública, Fernando Cunha (PSD) diz que, num passado recente, até pensou em se aposentar ao concluir seu segundo mandato consecutivo como prefeito de Olímpia ao final de 2024.

Mas, em entrevista ao Diário da Região, na sexta-feira, 17, ele mostrou que mudou completamente de ideia. Não só revelou a ambição de voltar às urnas em 2026 como candidato a deputado estadual ou federal, como deu sinais claros de que está em campo em busca de aliados para a construção desse projeto alargando os seus horizontes políticos.

Nesta empreitada, parece não temer bater de frente com outro político veterano e de grande estatura na região: o prefeito de Rio Preto, Edinho Araújo (MDB), e seus aliados, entre os quais o deputado estadual Itamar Borges (MDB).

Ao falar dos projetos que o seduzem quando entregar o cargo, ele verbalizou que se sente estimulado com o desafio de assumir o comando da Região Metropolitana de Rio Preto, “se esta de fato deixar de ser uma carta de intenções e sair do papel”, posto que também acalenta o coração de Edinho.

E Cunha foi além ao pisar no calo dos emedebistas locais. Disse que se sente estimulado a ajudar Valdomiro Lopes (PSB) em 2024 e na Prefeitura de Rio Preto caso o pessebista logre sucesso nas urnas.

E, claro, não poupou de críticas o ex-deputado federal Geninho Zuliani (União Brasil), que está a todo vapor na pré-campanha para sucedê-lo em Olímpia.

Veja a seguir os principais trechos da entrevista ao Diário da Região de Rio Preto publicada no domingo, 19.

Diário – Num passado recente o senhor criticou a forma como o PSDB “cooptou” prefeitos durante a gestão João Doria. Agora, Gilberto Kassab se vangloria de já ter mais de 300 prefeitos no PSD, sete vezes mais do que o partido elegeu em 2020. Kassab está repetindo Doria. Como o senhor vê esse movimento do partido do qual faz parte?

Fernando Cunha – Eu já fiz essa pergunta para o Kassab e é uma estratégia política semelhante à do Valdemar Costa Neto (presidente nacional do PL). Eles dizem que nas eleições de 2026 os prefeitos terão um papel importante. Esses caciques de grandes partidos têm essa história de ter um número grande de prefeituras e que isso influenciará nas próximas eleições presidenciais.

Diário – Mas qual a diferença com relação ao que o PSDB fez e que o senhor criticou?

Cunha – A diferença é que o PSDB, na mão do Marco Vinholi, foi agressivo. Muito. O Vinholi me disse: “Ou você vem, ou vamos trombar com você”, “Se você quiser que as coisas continuem acontecendo, você tem que vir para o PSDB”. Hoje, o Kassab tem esse objetivo de ter um grande número de prefeitos, mas eles (os prefeitos) estão indo voluntariamente, é diferente. Os prefeitos vão lá bater na porta vislumbrando a aproximação com o governo.

Diário – O senhor sente alguma animosidade do seu partido ou do governo Tarcísio de Freitas (Republicanos) por ter apoiado o Rodrigo Garcia em 2022?

Cunha – Não, zero.

Diário – O senhor ambiciona ou vê a possibilidade de ocupar algum cargo no Estado depois de 2024, alguma secretaria ou um cargo à frente da Região Metropolitana de Rio Preto? Qual o projeto de vida do senhor para quando entregar a prefeitura?

Cunha – Se convidado para alguma coisa, estou disposto a ajudar, contribuir. Mas tem que ser em um projeto político maior, que eu me convença, que valha a pena. Com o Kassab, eu vou. O governador, eu não tenho contato, não tem possibilidade. O Kassab é politécnico (em referência à escola Politécnica da USP, onde os dois cursaram engenharia), um pouquinho mais novo que eu. Já fui deputado estadual com ele, tenho amizade lá de trás. Temos uma afinidade.

Diário – E 2026? Vai ser candidato a deputado federal?

Cunha – O Kassab também acha que eu deveria sair. A princípio não estava disposto, mas hoje estou aberto em analisar a possibilidade.

Diário – Muita gente fala que existem dois políticos com perfil para comandar a Região Metropolitana de Rio Preto, função de indicação do governador: o senhor e o prefeito Edinho Araújo. Esse cargo interessa ao senhor?

Cunha – Sim. Sou muito interessado nesse desafio. Acho que sou criativo, empreendedor, analítico. Acho que tenho humildade intelectual para isso, eu aprofundo um pouco mais nos temas. E esse tipo de desafio me interessa.

Diário – Na visão do senhor, política e administrativamente falando, qual o grande desafio para a Região Metropolitana de Rio Preto?

Cunha – O primeiro desafio é o governador, ou o governo do Estado, decidir se vai tocar isso para valer ou não. O que tem é uma carta de intenções, por enquanto. Tem tido algumas reuniões, mas precisa ter clareza, se quer avançar com esse modelo ou não. Isso não está claro agora. Aí, depois, teria que ter uma agência, um organismo para amparar os programas, uma coisa importante, uma equipe que produza programas e projetos de âmbito regional. O Edinho tem uma boa proposta, é generoso seu ponto de vista político, ele é agregador. Para ocupar essa posição tem que ter um bom perfil político. E ele tem um perfil político. Já eu tenho um perfil de engenheiro. Ele é político e eu sou mais executivo.

Diário – Por que o esforço pela adesão de Olímpia à Região Metropolitana?

Cunha – Fiz de tudo para que Olímpia viesse para cá. Foi uma emenda pedida por mim ao deputado Carlão Pignatari (PSDB), que era presidente da Assembleia Legislativa, porque Barretos não tem essa visão. As pessoas em Barretos são muito caseiras. É uma cidade que rechaça o desenvolvimento de um município no entorno em favor dela. E a vida de Olímpia é umbilicalmente ligada a Rio Preto.

Diário – O senhor concedeu o serviço de água e esgoto de Olímpia num processo vencido pela Sabesp, que está em vias de ser privatizada também. Isso não pode encarecer o serviço e virar um ponto negativo para o senhor?

Cunha – Não necessariamente. Na concessão, o serviço continua sendo municipal. São 30 anos. O que você precisa é ter uma agência que fiscalize a qualidade da água e a modulação tarifária. Precisa ressarcir os custos e remunerar o capital. Em geral, a concessão deprecia e tem uma rentabilidade de 8% ao ano. Se você tiver um investimento de R$ 1 bilhão para trazer uma adutora, você terá que pagar R$ 80 milhões por ano só para remunerar o capital. Mas a regra importante é ter o controlador. Considero que ganhamos na loteria de ter a Sabesp lá. Foram seis empresas que participaram do processo (de concessão em Olímpia) e ela, a Sabesp, deu o maior preço. Ela ganhou pagando.

Diário – O senhor e o ex-deputado Geninho Zuliani foram adversários em disputas municipais, se aproximaram quando ele virou deputado federal e agora estão em campos opostos de novo em Olímpia. Ele vai disputar a sucessão do senhor, que tem outro candidato. Como está a relação de vocês?

Cunha – Nós nunca fomos inimigos, mas sempre caminhamos em raias diferentes. Há uma diferença ideológica e política entre mim e ele. Um exemplo de diferença ideológica entre nós dois: o Geninho é mais à direita. Sou mais centro-esquerda. Então acho que tenho uma preocupação social maior do que ele. O Geninho tem um viés muito empresarial. Acha que a política é um instrumento, dessas linhas mais liberais da economia, com as quais eu não concordo. Acho que o Paulo Guedes (ministro da Economia durante o governo Bolsonaro) foi um erro, por exemplo.

Diário – Por quê?

Cunha – Essa ideia do liberalismo puro aqui no Brasil não existe. Porque a coisa explode e a vida do cidadão vai para o lixo. Então esse corte, esse fundo ideológico, remete a práticas políticas que são muito diferentes. Ele é um político profissional, eu sou um executivo que tá no cargo político. Isso é muito diferente.

Diário – Falar que o Guedes foi um erro e se classificar como centro-esquerda não é politicamente arriscado numa região bolsonarista como a nossa?

Cunha – Mas essa é a diferença minha para o Geninho. Sou transparente na política, eu sou sincero. Não sou um cara petista. Acho que a política de centro-esquerda ou de centro é o melhor para o País. Agora, eu não seria coerente se falasse “o povo que se lasque, o povo fica com aquilo que cada um tem. O que merece, o que conquistou”. Temos que ter políticas públicas que promovam a geração de renda e até para o cidadão ser autossuficiente, independente. O Estado, na minha visão, como prefeito, tem que garantir para o cidadão serviços públicos de qualidade, saúde de graça, educação de graça, assistência social, segurança pública, depois o cara se vira.

Diário – E o bolsonarismo? Como o senhor vê?

Cunha – Não sei se é definitiva essa corrente política, tende a ser passageira. O Bolsonaro está no PL do Valdemar. O Valdemar é um político profissional. Ele usou o Bolsonaro para ter um partido e eleger uma gigantesca bancada na Câmara. Agora ele tá usando o Bolsonaro para eleger uma gigantesca bancada de prefeitos. Mas eu não acredito que a polarização nacional vá influir nas disputas municipais. Eleição para prefeito é diferente. Aqui em Rio Preto, por exemplo, vejo o Valdomiro como um cara que eu ajudaria. O Valdomiro, eu acho que ele tem um perfil com o qual eu me alinharia, com essa visão que eu defendo. Aqui você tem o (João Paulo) Rillo, que é muito esquerda para o meu gosto, como tem lá em São Paulo o (Guilherme) Boulos. Agora, tem certas candidaturas de profissionais da política que poderiam ser candidatos em qualquer cidade. É o caso do Itamar (Borges, deputado estadual). O Valdomiro tem mais identificação com a cidade. Acho que grande parte do setor empresarial de Rio Preto não entende assim e tem restrições ao Valdomiro. É uma pena porque acho que eles estão iludidos.

Diário – Iludidos em qual sentido?

Cunha – Acho que os empresários deveriam ter constituído uma candidatura que os representasse mais, que nascesse do meio deles. Eles aderirem a uma candidatura porque eles têm restrições ao Valdomiro, sem filtrar muito, é arriscado: você pode ganhar e não levar.

Compartilhe:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do iFolha; a responsabilidade é do autor da mensagem.

Você deve se logar no site para enviar um comentário. Clique aqui e faça o login!

Ainda não tem nenhum comentário para esse post. Seja o primeiro a comentar!

Mais lidas