22 de setembro | 2013

Caso de Pedro Henrique pode ter sido tratado como se fosse uma dor comum

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O caso do menino Pedro Henri­que Pereira de Jesus, que faleceu aos 10 anos de idade, na tarde da terça-feira desta semana, dia 17, pode ter sido tratado como se fosse simplesmente uma dor comum, sem que os médicos que o atenderam na Unidade de Pronto Atendimento (UPA), embora com fortes dores e constantes, chegassem a desconfiar que poderia se tratar de um problema mais sério, como a­ca­bou sendo confirmado, aliás.

Pelo menos é essa a impressão que fica ao ouvir as explicações do diretor técnico da UPA, José Carlos Ferraz (foto), pelo menos em uma entrevista que concedeu a uma das emissoras de rádio, nesta na quinta-feira, dia 19, quando praticamente confirma que no sistema de saúde pública de Olímpia acaba prevalecendo o “achismo”: “Nós não saímos fazendo tomo­grafia ou ressonância magnética na cabeça de todo mundo que tem uma simples queixa de dor de cabeça”, afirmou.

Trata-se de uma situação que pode vir a confirmar uma grande e talvez a principal falha dos sistema. Também seria um indício da falta de capacitação técnica dos profissionais contratados para atuarem na UPA.

Há muitas reclamações de pessoas que chegam lá com algum sintoma e saem com o diagnóstico de uma simples virose, sendo medicada apenas com uma simples dipirona, por exemplo.

Ao ser questionado se a realização de exames mais avançados, como, por exemplo, uma tomo­grafia computadorizada, não teria detectado a doença, Ferraz não garantiu o sucesso. “Estou com um paciente internado na Santa Casa com derrame cerebral desde 6.ª feira. Na 6.ª feira fizemos uma tomografia e revelou normal. Co­mo ele persistia com a falta de movimento do lado esquerdo do corpo foi repetida a tomografia na 2.ª feira que constatou o derrame cerebral”, exemplificou.

“Hoje você tem uma dor de ca­beça, pressão (arterial) normal, não tem febre, eu não penso em nada mais grave. Mas 2 ou 3 dias depois, além da dor de cabeça vo­cê pode estar com rigidez de nuca, pode estar vomitando e ser diagnosticado com uma meningite”, a­crescentou.

ECONOMIA DE EXAMES

Mas o que chama mais a atenção é a explicação dada por Ferraz em relação a não realização desses tipos de exames: “Uma dor de cabeça de uma pessoa hoje, 3 dias depois pode estourar uma veia na cabeça e virar um aneurisma. Nós não saímos fazendo tomografia ou ressonância magnética na cabeça de todo mundo que tem uma simples queixa de dor de cabeça. Infelizmente muitas vezes nós vamos perceber a doença depois de vários dias do início do processo infeccioso e infelizmente muitas do­enças, quando começam a manifestar ai já é tarde e apesar de todos os esforços que a gente tem de recuperação do paciente, nem sempre nós temos sucesso”.

Diretor da UPA diz que família não é a responsável pela morte

Considerando a morte de Pedro Henrique Pereira de Jesus aos 10 anos de idade, praticamente oito dias depois de ter sofrido uma torção no tornozelo direito, o diretor técnico da Unidade de Pronto Atendimento (UPA), médico José Carlos Ferraz, praticamente isentou a família do menino de qualquer responsabilidade com o desfecho do caso.

Pelo menos é esse o entendimento que se pode ter de uma declaração que deu a uma das emissoras de rádio da cidade na quarta-feira desta semana, dia 18: “É uma fatalidade. Agora, geralmente não se dá muita importância para pequenos traumatismos. Mas acho que a família até tomou o cuidado de levar a criança”.

Ainda na mesma emissora ele acrescentou: “A criança, acredito pelas informações dos registros que tenho, foi bem atendida, mas infelizmente teve essa má evolução. Um entorse, muitas vezes, não precisa nem de medicamento. Um simples repouso em poucos dias se resolve, mas às vezes complica”.

Entretanto, Ferraz descarta a possibilidade de que um hematoma formado pudesse ser detectado por um exame de Raio X: “Esse entorse tinha um hematoma que não é detectado num Raio X e mu­i­tas vezes nem percebido na apalpação no exame que o médico procede e provocou essa embolia. A queixa final da UPA, a dor no peito, tudo indica que o que aconteceu foi isso, uma fatalidade”.

Sobre a possibilidade de uma trombose resultante de uma torção de tornozelo em criança, Fer­raz contou que nunca teve conhecimento: “Eu nuca tive conhecimento de nenhum caso de que um simples entorse tenha provocado uma embolia pulmonar”.

Infecção rara teria matado o menino Pedro Henrique

Uma infecção considerada rara teria matado o menino Pedro Hen­rique Pereira de Jesus, de 10 anos de idade, na tarde da terça-feira, dia 17. De acordo com o diretor técnico da Unidade de Pronto Atendimento (UPA), médico Jo­sé Carlos Ferraz, trata-se da Piomi­osite Tropical, que foi descoberta já em Catanduva. É o mesmo no­me que aparece no atestado de óbito da criança.

“É uma doença muito grave e muito rara. Eu nunca tinha visto nos meus 40 anos de profissão, e que infelizmente na maioria dos casos evolui para uma infecção generalizada pelo corpo que leva o paciente a morte”, comentou Ferraz.

No entanto, segundo o site da Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical: “A Piomiosite Tropical é uma infecção primária dos músculos, que ocorre principalmente em países tropicais. Inicialmente, suas manifestações são leves e inespecíficas, o que dificulta o diagnóstico. A história natural dessa doença costuma ser benigna, com raras complicações. Essa apresentação descreve quatro casos de pio­mi­osite, com manifestações e complicações peculiares”.

Durante uma entrevista que concedeu a uma das emissoras de rádio da cidade – ele falou nas du­as AM – o menino começou a ser tratado com antibióticos ainda na Santa Casa de Olímpia, mesmo ainda não se conhecendo profundamente qual seria o problema.

“No caso do Pedro Henrique, na Santa Casa mesmo, aqui de O­lím­pia, foi iniciado antibiótico-terapia (tratamento com antibiótico), com antibióticos de úl­tima geração. Será que se tivesse começado (tratamento) um dia antes a evolução não teria sido melhor? Não tenho co­mo responder”, explicou.

CREMESP

Por outro lado, informou que comunicou o caso ao Cremesp (Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo). “Dada a repercussão do caso ontem (4.ª feira) entrei em contado com o Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo. Eu relatei o caso e eles vão proceder uma sindicância sobre o caso para saber, desde o início do acontecimento – do tratamento da criança a­té o desfecho do óbito – se em algum momento houve alguma falha ética de todos os médicos envolvidos no atendimento da criança. Eu acredito que não”.

Já ao jornal Diário da Região, de São José do Rio Preto, o diretor técnico afirmou que todo o atendimento necessário para a recuperação do garoto foi fornecida, negando qualquer tipo de negligência. Ele, no entanto, supõe que uma demora no diagnóstico da doença possa ter contribuído na evolução do caso, que resultou na morte do menino.

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