26 de novembro | 2011

Adolescente sai de Olímpia vive como pedinte em Rio Preto para comprar crack

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O fato de um adolescente de 17 anos de idade sair de Olímpia para viver como pedinte em São José do Rio Preto, leva a acreditar que o município de Olímpia está também exportando pobreza e vício. Há três meses naquela cidade, ele vive como pedinte para comprar crack e sustentar seu vício.

E, de acordo com a matéria publicada neste sábado, dia 26, não teve dúvidas ao afirmar o que faria com os R$ 5 que planejava obter no semáforo. "Vou comprar uma pedra de crack", disse. Natural de Olímpia, mudou para Rio Preto há três meses. "Aqui, é mais fácil ganhar dinheiro", justifica.

O adolescente escolheu a esquina da Rua Prudente de Morais com a Avenida Bady Bassitt para "trabalhar" e dormir sobre um papelão. Com um pano imundo nas mãos, lava para-brisa antes de pedir. Em uma das abordagens, recebeu como pagamento R$ 0,50. O constrangimento do motorista foi visível. Já ganhou R$ 20 em um único dia. "Compro comida também", avisa.

Segundo o jornal, pedintes invadiram os semáforos das principais ruas e avenidas de Rio Preto. Ao menos 110 dos 142 homens e mulheres que vivem hoje nas ruas da cidade se valem da mendicância para levantar dinheiro com os motoristas. O objetivo é comprar comida, bebida alcoólica e até mesmo drogas.

A quantidade de pedintes começou a aumentar neste mês e vai chegar a 300 pessoas nas próximas três semanas, devido ao Natal. É o que espera a Fundação Rio-Pretense de Assistência Social (Fras).

A Secretaria Municipal de Assistência Social recomenda que o cidadão não doe dinheiro a estranhos. Se quiser fazer uma boa ação, o que é bem-vindo segundo a secretária Ivani Vaz de Lima, o mais indicado é procurar uma entidade legalizada. A Polícia Militar diz que pedir não é crime, mas sim exigir. Essa atitude pode ser enquadrada como ameaça ou extorsão.

Na quinta-feira desta semana, dia 24, o jornal encontrou pedintes nas avenidas Alberto Andaló, Bady Bassitt e Ernani Pires Domingues e nas ruas Prudente de Moraes e Pedro Amaral. Cada um age de uma maneira para "conquistar" o bolso do motorista. Alguns são educados; outros chegam e lavam o para-brisa. Todos pedem pelo menos uma moedinha. Os ganhos diários variam de R$ 5 a R$ 20.

Na esquina da Independência com a Alberto Andaló, um homem bem vestido, com calças, camisa e sapato limpos, aborda os motoristas. Apesar de negar, tem tática definida: prioriza as mulheres. Jesus Nascimento, de 49 anos, que é de Rio Preto, pede até atingir R$ 8. "Para comer um marmitex. Não gosto de fazer isso. É humilhante. Mas moro na rua e não tenho opção", diz.

José Batista do Nascimento, 60 anos, escolheu a Alberto Andaló para dormir (perto da rodoviária) e trabalhar (cruzamento com a Avenida da Saudade). Ele é oposto de Jesus. Mal vestido, exala forte cheiro e assusta pela aparência. Por dia, diz que tira R$ 6. "Almoço no Bom Prato, mas não vou esconder: também tomo pinga." Natural de Ilhéus, Bahia, vaga por Rio Preto há oito anos.

Ao ser questionado se tem um sonho, não se segurou e chorou. "Melhorar de vida", enfatizou. Ele sempre está em companhia do amigo, Domingos Gouveia, 55 anos de vida e sete nas ruas de Rio Preto. Ele era marceneiro em Minas Gerais.

Após sofrer acidente de trabalho e perder parte dos movimentos do braço, teve início a sua derrocada profissional e pessoal. "Saí de um casamento mal sucedido. O objetivo, segundo ele, não é assustar ninguém, mas apenas pedir ajuda. "As pessoas são boas", argumenta.

‘Rio Preto é cidade bonita e solidária’

Para a secretária de Assistência Social de Rio Preto, Ivani Vaz de Lima, Rio Preto é uma "cidade bonita e solidária". Por esses motivos, atrai tantos pedintes, sobretudo no final do ano. "Muita gente da região vem pedir porque sabe que o comércio e as ruas estão cheias", conta. Mas Ivani afirma que o ideal é evitar a doação nos cruzamentos. "É bom ser solidário, mas não ajudar dessa maneira. A esmola é capaz de matar tudo, menos a fome", explica.

De acordo com a secretária, Rio Preto tem os serviços necessários para quem quer sair da rua. "Mas não podemos tirá-los à força. É um trabalho de convencimento".

Segundo ela, até o final do mês, uma estratégia será criada pela pasta para combater o problema. A coordenadora da Fundação Rio-pretense de Assistência Social (Fras), Leila Nasser Lopes, afirma que 80% dos 142 moradores de rua usam drogas ou álcool. "A gente aborda e oferece serviços, como alimentação, hospedagem e passagem. Menos da metade aceita ajuda", contou.

Por mês, a entidade, que é parceira da Prefeitura, distribui 700 passagens de ônibus para migrantes, que vieram em busca de emprego na região, retornarem para casa. Leila afirma ainda que na última década mudou o perfil das pessoas que moram nas ruas de Rio Preto. Antes, eram mais velhos e usavam álcool. Hoje, são jovens, com até 30 anos, usuários de crack. "Muitos vão parar na rua porque usam droga e a família não aceita", informou.

Motorista se sente intimidado

O auxiliar administrativo João Alves Santana, 52 anos, sente-se intimidado nos cruzamentos de Rio Preto. Por esse motivo, dá moedas aos pedintes. "Isso incomoda bastante. Pegam o dinheiro e compram drogas. No final do dia, ganham mais que um servente" reclama. O frentista Jonas Honório mantém moedas no carro para oferecer aos pedintes. "Não sei o que passa na cabeça deles", relatou. Ele já notou a presença, cada vez mais constante, de gente nos semáforos de Rio Preto.

O capitão da Polícia Militar Marcelo Perin Monteiro afirma que o cidadão que se sentir ameaçado deve chamar uma viatura. "Pedir pode, exigir não. Isso é crime. Ameaça ou extorsão", avisa. A partir da próxima semana, o policiamento será intensificado com a operação Papai Noel. "O pessoal do administrativo vai para a rua. Vamos priorizar as avenidas comerciais", acrescenta. Ele orienta o motorista a redobrar a atenção quando parar no semáforo e não oferecer dinheiro aos pedintes.

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