31 de agosto | 2020

A Máquina do Ódio – Notas de uma repórter sobre fake news e violência digital

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A Máquina do Ódio
Dias antes do segundo turno da eleição de 2018, Patrícia Campos Mello publicou a primeira de uma série de reportagens sobre o financiamento de disparos em massa no WhatsApp e em redes de disseminação de notícias falsas, na maior parte das vezes em benefício do então candidato Jair Bolsonaro. Em “A Máquina do Ódio”, Campos Mello discute de que forma as redes sociais vêm sendo manipuladas por líderes populistas e como as campanhas de difamação funcionam qual uma censura, agora terceirizada para exércitos de trolls patrióticos repercutidos por robôs no Twitter, Facebook, Instagram e WhatsApp – investidas que têm nas jornalistas mulheres suas vítimas preferenciais. Os bastidores de reportagens da jornalista e os ataques de que foi vítima servem de moldura para um quadro mais amplo sobre a liberdade de imprensa no Brasil e no mundo, numa prosa ao mesmo tempo pessoal e objetiva. Com 196 páginas, o livro é da Editora Companhia das Letras.

 

Minhas Três Primaveras
Não é novidade, mas devemos lembrar: a cada quatro minutos uma mulher é violentada no Brasil. Esse cruel mundo ganha as páginas do novo livro da jovem escritora Renata Christiny. A obra “Minhas Três Primaveras”, publicada pela 3DEA Editora, faz um paradoxo com o nome da personagem principal, Luz, para mostrar que sua vida é uma profunda escuridão, em que a luminosidade mais próxima é a morte. Apesar de querer chegar no fim apenas com um golpe fatal, Luz passa por muito sofrimento até seus últimos instantes, assim como acontece com muitas mulheres brasileiras. O livro tem na sua narrativa uma carga dramática de angústia e intensidade. Com cenas fortes e violentas, o leitor vai se confrontar com uma história real para retratar mulheres que são abusadas tanto fisicamente quanto psicologicamente. A autora costura o texto de um modo em que o leitor já tem o final planejado na cabeça, mesmo assim, Renata consegue surpreender quem se debruça nos capítulos finais. São 398 páginas divididas em 43 capítulos de uma composição delicada para abordar um tema sempre difícil de lidar.

 

A Redenção de Antônio Bento
“A Redenção de Antônio Bento” é a primeira biografia de um dos maiores abolicionistas brasileiros. De impressionante atualidade, a obra mostra a saga do humanista Antônio Bento, da metade do Século XIX, que lutou contra a escravidão, o racismo, a falta de assistência aos menos favorecidos, a corrupção no sistema político, a mídia corrompida e a injustiça social. Obra é uma homenagem ao herói e também esclarece diversas controvérsias sobre a vida de Antônio Bento. Luiz Antônio Muniz de Souza e Castro, bisneto direto do biografado, e a professora Débora Fiuza de Figueiredo Orsi apresentam o produto de 10 anos de uma pesquisa profunda e criteriosa com fontes primárias. Enriqueceu a produção a viúva de Antônio Bento, dona Benedicta Amélia, que criou o pai do autor e se constituiu na ponte de gerações ao transmitir esses registros históricos. Com endosso do sociólogo e político Florestan Fernandes (1920-1995), o lançamento relata a luta contra a escravidão de uma São Paulo na qual prevaleciam os interesses dos escravagistas. Os bastidores da organização dos Caifazes, movimento abolicionista paulistano, também são destaque na obra, já que Antônio Bento assumiu a liderança da ação após a morte do poeta Luís Gama. O volume é rico em fotos, memórias e documentos da vida do juiz considerado “o John Brown brasileiro” por um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras, Joaquim Nabuco. O livro contém mais de 300 referências bibliográficas consultadas, mas as principais são as da imprensa de Antônio Bento, como o jornal A Redempção, de 1887 a 1899, reconhecido como Patrimônio da Humanidade pela Unesco. “A Redenção de Antônio Bento” é uma obra atemporal que provoca reflexão sobre os dias atuais. Uma verdadeira homenagem ao herói que também esclarece vários pontos controversos sobre sua vida. Com 456 páginas, o livro é da Editora Reality Books.

 

Um Apartamento em Urano
Um dos pensadores mais radicais e indispensáveis da atualidade, Paul B. Preciado apresenta aqui uma seleção das suas "crônicas da travessia". Produzidos na última década, a maioria em quartos de hotel ou aeroportos, os textos acompanham seu processo de transição de gênero e podem ser lidos como um diário dessa passagem.
Com sua escrita brilhante, o filósofo espanhol analisa processos contemporâneos centrais de mutação política, cultural e sexual, como as novas formas de violência masculina, o assédio a crianças trans, os Estados Unidos de Trump, a apropriação tecnológica do útero e o trabalho sexual. Um livro corajoso, transgressivo e urgente que defende, acima de tudo, a liberdade dos corpos e das subjetividades.Com 320 páginas, o livro é da Editora Zahar.

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