18 de dezembro | 2016

Brasil, muitas denúncias e pouco a se comemorar neste quase final de ano

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Do Conselho Editorial

Neste período de festas natalinas e de início de ano, muito embora os corações cordiais do povo brasileiro, tido e havido como indiferente às questões que envolvem o poder político, têm, não só observado, como estimulado o aquecimento das tensões que podem até conduzir a convulsões sociais em breve.

Vale lembrar que o escritor italiano Giuseppe Tomasi di Lampedusa em Il Gatopardo (O Leopardo), falava, entre outras coisas, da decadência da aristocracia italiana durante o Ressurgimento ilustrando que a única mudança permitida era aquela sugerida pelo príncipe de Falconeri de que tudo deveria mudar para continuar como estava.  

Muito conhecida pelo mundo, a frase, nesse momento de dificuldades em que os três poderes estão em conflito e lavando roupas sujas no mercado de peixes podres, que parece ter se tornado as nossas instituições, torna-se atualíssima e extremamente elucidativa da loucura que foi transformada a nossa república.

A população, motivada pelo aumento das tarifas de ônibus circulares foi às ruas tentar impedir o aumento de vinte (0,20) centavos e lutar por passes livres. Mas o movimento foi mudando o foco e se transformou no maior golpe que uma democracia em fase de construção poderia sofrer.

Culminou com o impedimento da presidenta eleita no bojo do pedido popular de combate a corrupção e revitalização da economia nacional.

Instalado o novo governo, foram, por mais ridículo que possa parecer, nomeados ministros e assessores do novo presidente envolvidos até o pescoço nas investigações da Lava Jato e foram caindo um a um, desnudando uma farsa que sobreviveu desde a proclamação república pelo marechal Manuel Deodoro da Fonseca, também alvo de golpe pelo Floriano, por suspeição de corrupção, repetindo a farsa ou a comédia de agora.

E, de escândalos em escândalos, chegou-se até aqui com ex-governadores, deputados, senadores, prefeitos, vereadores sendo presos em nome de uma moralização do país.

O novo governo instalado, de acordo com gravações feitas com o ex-ministro Jucá, acreditava piamente que, instalado, sufocaria a lava-jato, as investigações e navegaria em mar calmo reinstalando o sistema corrupto que vem desde o império.

Ocorre, como diria Manoel Garrincha, que só esqueceram de combinar com os russos e o que era uma possibilidade vazou água e as investigações chegaram aos membros do gabinete do presidente da república e, agora, ao próprio presidente da república. 

Se a promessa era a recuperação do país e a moralização da coisa pública, as indicações, depois das últimas denúncias, que apenas iniciaram o ciclo de uma série muito grande de delações a ocorrer, até onde afirmam os envolvidos na investigação, no prazo mais rápido possível, pode conduzir a mesma paralisação econômica que gessou o governo anterior com consequências bem mais graves para a economia brasileira. 

A situação parece bem mais grave do que pode parecer aos olhos do alheamento da população, que vê crescendo assustadoramente o número de desempregados, os pedidos de recuperação judicial de empresas, e o avanço na inadimplência.

O Leopardo de Lampeduza se referia ao felino presente nas selvas da América Latina e da África que foi violentamente caçado na Itália até sua extinção, em meados do século XIX, exatamente à época em que Don Fabrizio testemunhava impotente o declínio e a impotência da aristocracia italiana.

A obra foi bastante criticada por combinar o realismo com uma estética decadente, e talvez resida ai as semelhanças com a dissolução da credibilidade das instâncias de poder no Brasil que se digladiam em armas cruéis para marcar posições de afirmação de poder enquanto a nação se dissolve em escândalos vergonhosos.

Em pleno final de ano, momento de festas e de torpor, quando a maioria está desligada de tudo que não seja família e festejos, começa a ruir a república e após os festejos a ressaca cívica será violenta e parodiando Lampedusa “a não ser que nos salvemos, dando-nos a mão, eles nos submeterão à República”. Para que as coisas permaneçam iguais, é preciso que tudo mude. 

E é preciso que tudo mude de forma muito urgente, por que o abismo está próximo.

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