28 de setembro | 2014
ú é LADRÃOOO, e está rodeado de LADRÃOOO
“Tentaram roubar minha bolsa no ônibus, o desordeiro falou que tava armado. Falei que meu cabelo também tava e nem por isso eu tava rouband”.
Willian Zanolli
A vontade, o desejo, seria esquecer todos os possíveis transtornos do ponto de vista penal e civil que a atitude poderia trazer e chegar bem na cara dele e falar bem alto, melhor, soletrar letra por letra, para ficar bem evidente para ele o que eu penso dele e da corja que o circunda.
– TÚ É LADRÃO E ESTÁ RODEADO DE LADRÃO.
Não é medo da reação, da figura, ou dos que o cercam que faz com que eu me atemorize em relação a satisfazer esta vontade, tirar do fundo, do âmago, das entranhas esta estranha, alimentada e nutrida lombriga crescente de poder escancarar o que anda pelas ruas e infesta o povoado de Morfeu.
Não há quem não saiba de sua vocação para o roubo, para a corrupção, para o papel vergonhoso e estranho de ser mais um verme, um parasita a consumir o que foi um dia a alta e frondosa árvore da moralidade, que seca a sua volta tamanho o número de parasitas grudados à raiz, a casca, aos milhares de galhos que o esquema daninho e perverso criou.
Tu é danado, ladrãozinho demoníaco; crê em demasia na ausência de punições na terra e promove sempre novos bandidos, compra–os aos borbotões, fiquei sabendo que incorporou mais um a tua gangue.
Um que andava por aí como um cão sarnento que caiu do caminhão de mudanças querendo colos safados para aplacar sua coceira de dinheiro roubado, subtraído, e foi se incorporar ao seu canil, para chupar sobras de osso.
E se falo assim ladrãozinho, se me permite te chamar assim, pois pensa que é maior que é quando na verdade não passa de um punguista de quarta, e se assim me refiro é por que ainda está vivo na memória os golpes que aplicavas por aí.
E peço perdão aos cães, peço desculpas as sarnas, como pediria aos piolhos, ratos e cobras se metaforicamente os citasse para mostrar sua índole canalha e corrompida, eles nada têm da sua índole pérfida maldosa e repito ladrona, como repetirei até o final do texto.
E babo às vezes de madrugada, e sujo a fronha com esta baba que escorre do desejo de poder falar o quanto seria melhor e mais limpo o universo se não tivessem canalhas como você.
Decrépito bandido, você só não é o último ser em termos de baixeza e falta de humanidade por que ainda há no universo, gente tão estúpida, vazia, mercenária, ao ponto de estar na prateleira como um saco de esterco que respira esperando que o teu dinheiro sujo o compre como comprou o último pobre diabo que rasteja sob as marcas do lodo de vida que você pisa.
E não é o único bandido também, assim como não é único em nada na sua vigarice, este inferno de vida está lotado de gente cuja ética, decência e respeito por si mesma está atrofiada, esta coisa de abaixo a corrupção e aos corruptos é uma fantasia, uma lenda.
O que eu vejo de safados elogiando outros safados por aí, mesmo sabendo que são cínicos, nefastos cânceres de uma sociedade em decomposição, e você chaga maior, metástase deste processo de destruição de uma sociedade justa fraterna e moralizada, ali no meio brilhando com sua biografia carregada de manchas e merdas de toda ordem, sendo bajulado, paparicado por distribuir entre os sabujos a sobra dos assaltos.
Este não é o reino onde pode se habitar alguém que pensa em seriedade, honestidade, a sensação que se tem é de que há corvos, abutres e ladrões despencando dos telhados, das cumeeiras, caindo das janelas, e por tabela vão chegando mais trazidos de outros territórios.
É por isto que suo frio, e me dá febres terçãs, e a cada três dias me acomete este estado onde a vontade e o desejo se fundem e me empapo todo, e a língua cisca, e a goela quer esgoelar com toda a força dos decibéis que a voz pode suportar para que o mundo possa enfim ouvir meu desabafo demonstrativo do descontentamento com tanta vagabundagem.
E às vezes passa pelos olhos depois de ter zumbido nos ouvidos o rosto de quem disse a frase justificativa ele é ladrão, mas ele faz e os amigos que ele me apresenta também são ladrões mais vão fazer, é aí que sinto vontade de morder a madeira da beirada da cama, comer o estrado de raiva.
E a voz não sai, e o grito TÚ É LADRÃO, lá grudado no céu da boca que nem piruá de pipoca ruim de estourar.
Se não sai o “Tu é ladrão” não sairá também “está rodeado de ladrões” e é nisto que me bato e debato e suspiro e travo a língua, e me prometo e me maldigo e me digo que preciso deste desabafo pra minha vida.
E vou dizê-lo nem que seja, nem que esteja lá pela hora da morte, terei esta sorte me prometo, senão me canso e não descanso e tenho em mim esta gana além da garra dos eternos vencedores.
E vou falar, nem que seja a beira cova, uma ova que a voz saia pra dentro e eu sinta tudo como é e não consiga jogar para fora esta tão necessária frase que desvela o bandido, a bandidagem e me deixaria com o dever do papel cumprido.
E é assim nestes delírios que eu sinto que balançam o que ainda sobra de mim e me pego nú, ensopado sobre lençóis gatos e cachorros espantados em plena madrugada sobre a cama com a amante amada me falando.
– Benzinho… canso de te falar pra não comer antes de dormir…teve pesadelo de novo.
E, eu não posso nem contar que a vontade existe e o sonho é recorrente.
“Inventaram uma máquina de pegar ladrão. Na Europa a máquina pegou 170 ladrões em uma hora. No Brasil, a máquina foi roubada em 10 minutos”.
Willian Antonio Zanolli é artista plástico, jornalista, estudante de direito, e este texto é totalmente surreal, uma obra da “leiteratura”, uma ode aos honestos deste nosso Brasil varonil e fundado na dúvida que sempre paira em época de eleições.
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