26 de abril | 2020

O “Gabinete do Ódio” e o respeito ao luto e ao corpo que vai

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“Quem não respeita a simbologia e a tristeza que a morte representa respeitará o quê?”

Do Conselho Editorial

O Editorial de hoje deveria ser reservado à história de um médico que através dos anos buscou se informar cada vez mais sobre sua profissão para poder atender com muita eficiência seus inúmeros pacientes.

Anos de estudos, debates, congressos, atualização e milhares de intervenções cirúrgicas transformaram Nilton Martines naquilo que merecia ser: Um médico reconhecido e respeitado pelo talento e dedicação de anos, tanto a profissão quanto a Santa Casa de Misericórdia, que concordem ou discordem de seus métodos, foi, juntamente com a medicina, uma de suas paixões durante a vida. 

Poderia aqui se aproveitar o espaço para se escrever de forma longa e detalhada sua carreira de sucessos e o tratamento cordial, educado e fino que dispensava a todos, sem distinção de classes.

Da mesma maneira poderia se louvar para além da qualidade técnica de seus trabalhos e os inúmeros atendimentos, sua incansável vontade de estar à frente dos casos e sua em­polgação diante de cada um que pudesse contribuir para sua evolução.

No entanto, há que se desviar um pouco o rumo para se debater o respeito ao luto e ao corpo que vai, que se imagina não foi respeitado nesta hora por alguns olimpienses sem noção de espaço e hora para travar certas discussões.

Nilton Martines, entre outras coisas, foi vereador e vice-prefeito na cidade de Olímpia, além de ter lançado sua candidatura a deputado na última eleição.

Direito legítimo dele e de qualquer um que entenda ter qualidades para contribuir com sua cidade de alguma maneira.

Era uma grande liderança em uma cidade em que alguns medíocres posam de ser aquilo que não são, nunca foram, e nunca serão, razão pela qual atraia a inveja para si.

Divergências políticas à parte, porque ninguém é obrigado a pensar igual a ninguém, quando da morte de alguém, o que sobra a quem fica é no mínimo respeito à memória daquele que se despede e à sua família.

Pouco importa nestas horas o jogo político, a demagogia, o tirar partido da situação. O que importa é se não participar do consolo à alma e ao espírito dos familiares que se despedem do ente querido, pelo menos não contribuir para aumentar a dor que os acomete.

Uma página local do Facebook, cujos membros responsáveis e moderadores, já deram mostras evidentes de que são pré-candidatos a vereadores ou paus mandados de uma pré-candidatura a prefeito, bastante conhecidos pelas baixarias registradas na Câmara Municipal, por razões que parecem políticas, resolveram tirar o brilho do velório de Nilton Martines.

Transformaram uma ma­nifestação espontânea da população, que não poderia ser premeditada pelos governantes locais, em uma discussão desnecessária, irresponsável e sem sentido algum que possa justificar ou trazer bem estar a sociedade.

O que ocorreu espontaneamente no velório foi consequência de anos de dedicação ao trabalho e de amor ao povo carente da cidade, que sempre foi atendido por Nilton com presteza, carinho e profissionalismo.

Não fosse assim as pessoas gratas a ele não teriam ido a rua manifestar sua tristeza com a ida precoce do médico em um momento que brilhava como nunca no campo da medicina.

 A página do “Face­book”, ou “Gabinete do Ódio”, por promover ataques a todos que não apoiem seu pré-candidato, foi muito infeliz no tratamento que deu ao velório de Nilton Martines estimulando críticas em hora imprópria e em tom inadequado, mesmo que através da opinião de outros.

Houve muito tempo durante sua vida para que o legítimo direito de crítica fosse praticado. Mas nesta hora foi de um oportunismo político cruel, desrespeitoso, que demonstrou bem a que veio esta possível candidatura e o que serão os futuros vereadores que cercam este pré-candidato.

Quem não respeita a simbologia e a tristeza que a morte representa respeitará o quê?

O respeito ao luto deriva do fato de que as pessoas, quando partem, levam consigo a capacidade da prática do bem e do mal para o além.

Em razão disto, se comete uma enorme covardia contra o espírito que fica e que vai percorrer ruas e participar de conversas nas casas por anos como ficou demonstrado na participação popular no dia da despedida.

Pretender destruir no imaginário uma imagem que fica é impossível e de uma desumanidade impar, nada supera a saudade e o sentimento de perda que a ausência traz.

Que os membros do “Gabinete do Ódio” local consigam um dia descobrir que o que levou as pessoas às ruas se chama amor e revertam suas posições para que não sejam, daqui há muitos anos, enterrados de forma solitária e esquecida, por não contarem com um gesto de bondade a favor de si que faça merecer a presença de alguém no velório.


 

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