15 de setembro | 2019

Não gostar de pobres pode fazer perder eleição

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Do Conselho Editorial

Os discursos, as frases feitas ou de efeitos, invariavelmente, são recolhidas pelos formadores de opinião junto à população que, criativamente, vai soltando pérolas pelos caminhos acerca do que pensam do homem público.

É uma construção de narrativa que tem que estar ligada às características principais do personagem, traços marcantes de seu comportamento que são notados pela maioria.

Quando se tenta imprimir à imagem de um político algo que a população não associa a ele, por mais que se divulgue ou se esforce para que a falha, o defeito criado seja colado à figura do político, não cola, não dá aderência. Atuação, gestos, comportamentos, falas desmentem a intenção de desmonte da imagem.

Um exemplo pode ser extraído da última eleição quando alguns candidatos tentaram impor a ideia maluca que o atual mandatário não seria natural da cidade.

A ventilação de tal fato era de tal forma absurda e sem noção alguma que quanto mais alardeavam mais vitrine ao candidato e sentimento de repulsa da população os adversários conseguiam.

Uma estratégia doentia, maluca, deslocada da realidade em uma cidade pequena onde todos se conhecem, tentar emplacar que alguém, filho de família tradicional, que havia sido bem votado em campanhas anteriores exatamente por ser filho de Olímpia, não fosse natural da cidade.

E em uma cidade onde vários prefeitos eleitos não eram nascidos na cidade este era, sem sombra de dúvidas, uma estratégia estúpida cheirando a quase perfeição da burrice.

Não emplacou e nem emplacaria porque o que se pretendia colocar enquanto falha grave na candidatura não era, já que os fatos desmentiam a hipótese que era conhecida da maioria.

No entanto, na sequência do mandato, em razão do afastamento do mandatário da periferia, das propostas de governo estarem voltadas a defender interesses da elite financeira local, incluído o próprio, foi-se criando a imagem de um prefeito que talvez não goste de pobres.

Forte a imagem é, entretanto, por mais que se esforcem, a que infelizmente pegou contra o envolvido.

Se na intimidade, no fundo do coração tenha apreço e respeito pelos mais humildes, do lado externo, da fala ao comprometimento com as políticas públicas, deixa subentendido uma relação bastante atenciosa e forte apenas com o mercado, com a elite financeira.

Se no desdobramento desta parceria se acomodam os mais favorecidos economicamente, por outro lado deixa fragilizado e sem atendimento de qualidade os que mais precisam, também parte integrante de um sistema que depende de toda a estrutura e não apenas de uma parte.

Não vendo surgir novos empregos, consultas, exames, remédios, lazer, cultura, educação vai se acentuando o distanciamento do poder público com a periferia e conse­quen­temente com o cidadão que vive em maiores dificuldades.

Mesmo que não goste ou desaprove o rótulo de prefeito que não gosta de pobres, a única maneira de reverter este rótulo que cola e incomoda e tira votos é sair da zona de conforto, sujar o cromo alemão na lama e conversar com o povo e interpretar as faltas e necessidades da periferia.

No conforto do ar condicionado do maravilhoso gabinete das luzes cons­truído por Eugênio, o milagre da reconstrução da imagem não irá acontecer.

E manter-se alheio a realidade apenas amplia aquilo que a maioria já reconhece como verdade e alardeia pelas ruas e se o prefeito gosta ou não do povo a ele cabe provar.

Enquanto não prova vai vendo crescer a ideia que derrete sua imagem e, se, tentar implantar a ideia de que não era filho de Olímpia não pegou e não tirou votos, não gostar de pobres, pegou, anda na boca do povo e pode fazer perder eleição.

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