16 de agosto | 2015

Folclore, o que aconteceu contigo?

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Do Conselho Editorial

Tantas coisas podem ter ocorrido ao longo dos anos contigo que foi festejada e proclamada como o maior evento do folclore brasileiro no Estado de São Paulo.

Desde que nasceu diminuto nos corredores de uma escola até chegar à praça principal da cidade de Olímpia, a merecer, depois, um recinto próprio, foi só crescimento, alegria, orgulho e preocupação para que cada dia de cada ano você se ampliasse mais e você o cartão de visitas desta cidade, memória e referência de um lugar que reverenciava a história do nosso povo.

E foi crescendo independente da vontade de alguns de tirar proveito de seu sucesso, elevou esta cidade à condição de Capital Nacional do Folclore.

Ganhou telas de cinemas, capas de jornais de grande circulação e reportagens em grandes redes de televisão, foi tema de dissertações e teses.

Teve a dimensão e a glória dos grandes eventos e levou consigo para os mais distantes rincões deste país e de outros o nome de uma até então esquecida cidade banhada por um riacho dos olhos d’água incrustado em terras de São João Batista, terra menina e moça.

Em muitos Agostos a gosto dos santos e dos deuses louvados por aqui foram desfraldadas bandeiras, libertados os tambores, violas e cantorias enquanto lendas corriam ruas e encantavam com sabores e cores todos os cantos desta nação quem participava da consagração de um ano de estudos do professor folclorista.

Do chão batido de terra e do palco de madeira crua subia poeira e sonhos de gente encantada com o que foi, o que é e o que pode vir a ser a construção poética de uma nação.

Compreender a nossa gente, sua história, sua raiz, suas diferenças e semelhanças, conflitos,angústias, amarguras, histórias de dor e alegrias de tempos passados presentes uma semana em um lugar que era aqui.

Tudo passa no momento que passa, a própria essência do festival demonstrava isto, e demonstrava bem mais, passa enquanto passa, fica porém, como ficaram por séculos, milênios, cada dança, cada canto, cada história, gravada na memória do povo

E, assim parece que a visão antropofágica que invocava a índole canibal que tornava inferior nossas manifestações e que rompia na visão positiva e inovadora permitindo na esfera da cultura a assimilação da crítica das ideias dos modelos europeus, tornando capaz deglutir as formas importadas para produzir algo genuinamente nacional sem cair na relação modelo, cópia que dominou o cenário cultural nacional, parece que dominou a cena local.

Os canibais te engoliram Festival Nacional do Folclore, com suas estilizações, teu jeitão de quermesse, atrações de churrascarias, restaurantes estrangeiros, ofereces o mais do mesmo aos visitantes.

Que fizeram de ti, mais de meio século de caminho andado do início a glória a decadência, quem te viu não mais te vê, quem te conheceu não esquece jamais.

Ao que tudo indica não restou de ti nem o Antropófago (Abaporú) de Tarsila do Amaral, que oferecido a Oswald de Andrade inspira o Manifesto Antropófago, selvagens não aculturados te engoliram sem sal nem tempero, e dissolveram seus ossos pra fazer sabão, e com este sabão higienizaram o festival, tiraram penas e colocaram plumas e paetês, e com muita pena se observa que o simples, o natural, o que é nascido do espírito do povo, virou cinzas, como o povo que já não acredita mais na essência folclórica deste festival.

Que diga-se de passagem parece ser de tudo menos do folclore.

 

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