04 de fevereiro | 2024

Fake News e dinheiro já fazem a cabeça do eleitor olimpiense

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“A tendência é que a história de Olímpia seja marcada pela repetição de seus erros e não pelo aprendizado e superação deles. Ou você acredita que cada cidadão olimpiense (ou a maioria deles) tem condições de reconhecer seu papel nesse processo e atuar, não como espectador, mas como protagonista na construção de uma política verdadeiramente representativa e eficaz?”

 

 

José Antônio Arantes

Não é de hoje que as práticas políticas em Olímpia despertam preocupação e reflexão. Há décadas, remontando aos tempos dos coronéis (que parece ainda não terem ido embora), a política local tem sido marcada por uma série de práticas questionáveis.

Naqueles dias, os coronéis, figuras dominantes e temidas, costumavam andar com revólveres na cintura, numa clara demonstração de poder e intimidação. Eram tempos sombrios nos quais os trabalhadores, sempre tratados como escravos, eram coagidos a votar neste ou naquele candidato, sob a sombra do medo e da opressão.

Com o passar dos anos, as táticas de manipulação eleitoral evoluíram, mas a essência coercitiva e de subjugação escravagista permaneceu. Surgiu então a era da troca de favores, uma prática nefasta na qual o voto era tratado como uma moeda que pode comprar e manter a imbecilidade alheia. Contas de luz pagas, dentaduras, botijões de gás, entre outros bens e serviços, eram oferecidos em troca de votos.

Essas práticas, embora muitos acreditem terem ficado no passado, continuam a persistir, adaptando-se aos novos tempos e mantendo a influência de certos grupos sobre a população carente.

Com a chegada da era digital, um novo capítulo na história da politicagem foi escrito. A internet, com todas as suas potencialidades, também abriu espaço para a disseminação de notícias falsas, as conhecidas ‘Fake News’.

Esse fenômeno, longe de ser trivial, mostrou-se uma ferramenta poderosa nas mãos daqueles que visam manipular a opinião pública. As últimas eleições presidenciais são um testemunho claro do poder das ‘Fake News’, evidenciando como a informação, quando utilizada de forma distorcida, pode influenciar decisivamente o rumo político de uma nação.

Na esfera municipal, a situação é preocupante, mas não só no espectro virtual, pois ainda persiste o chamado rádio bate-pau, com centenas de paus mandados espalhando um festival de promessas ilusórias, disputas políticas por projetos irrealizáveis, como o tão acalentado e encantado aeroporto que, com certeza, nem sairá do papel este ano, e é bastante duvidoso se afirmar que não existe possibilidade de, ao nascer, ser mais uma obra do século.

No entanto, o que parece ser decisivo na política local, remontando aos dias dos coronéis, é o antiquado jogo do ‘toma lá dá cá’. Festas e mais festas são bancadas por políticos, reuniões, batizados, e uma série de eventos sociais servem como palco para demonstrações de poder e influência, numa tentativa incessante de capturar a simpatia e o voto do eleitorado.

Contudo, o cenário que se desenha após as eleições é, invariavelmente, muito diferente das promessas e expectativas criadas. Aqueles que, durante a campanha, se apresentam como salvadores da pátria, capazes de realizar milagres, de ‘tapar buracos’ e de ‘pagar contas’, rapidamente mostrarão a outra face.

A realidade do pós-eleição voltará ao cenário real de uma senzala que, ao invés de um grande barracão, é composta por milhares de casinhas apertadas apinhadas de seres que queriam ser humanos, apenas lutando para sobreviver.

Longe de desfrutar do ‘céu das maravilhas’ prometido, a população continuará a ser forçada a se contentar com as migalhas lançadas pelos ‘coronéis modernos’, que, satisfeitos e embriagados pelo poder, se isolam na ‘casa grande’.

Este panorama é desolador e motivo para desesperança. O verdadeiro céu está muito distante e difícil de alcançar, pois necessita de um despertar para a necessidade de uma política mais ética, transparente e verdadeiramente voltada para o bem-estar da população.

E para isso, é imperativo que os cidadãos de Olímpia, conscientes das armadilhas e artimanhas de seus “politiqueiros”, assumam um papel ativo na política local. Isso implica uma participação mais efetiva nas decisões políticas, uma fiscalização constante das ações de seus representantes e, acima de tudo, uma escolha eleitoral consciente e informada.

O combate às práticas políticas nefastas, sejam elas a troca de favores, a intimidação, ou a disseminação de notícias falsas, é um desafio que exige a união e o esforço de toda a sociedade. Educação, informação e engajamento cívico são as armas mais poderosas nessa luta. Por meio delas, é possível construir uma Olímpia mais justa, democrática e próspera, onde o poder político esteja verdadeiramente a serviço do povo.

Mas como acreditar que isso possa um dia acontecer num país que desdenha a educação, que cria cidadãos sem a capacidade de discernir através da reflexão, da busca do conhecimento e são guiados por falsas verdades absolutas a acreditar que a felicidade está em seguir a boiada: trabalhar a vida inteira para criar os filhos, tentar comprar uma casinha de COHAB, conseguir uma aposentadoria que dê pelo menos para pagar os remédios e esperar a morte chegar.

Seria necessário estar se preparando para mais um ciclo eleitoral, refletindo sobre o passado, entendendo o presente e agindo para moldar o futuro. Mas quantos estão fazendo isso? Quantos têm condições de pelo menos tentar fazê-lo?

A tendência é que a história de Olímpia seja marcada pela repetição de seus erros e não pelo aprendizado e superação deles. Ou você acredita que cada cidadão olimpiense (ou a maioria deles) tem condições de reconhecer seu papel nesse processo e atuar, não como espectador, mas como protagonista na construção de uma política verdadeiramente representativa e eficaz?

Em suma, a política de Olímpia está em um ponto crítico. As práticas do passado são persistentes, encontram nova roupagem e ocupam o mesmo espaço em uma sociedade cada vez menos exigente e incapacitada. A era das ‘Fake News’ colabora decisivamente para atingir este estado cada vez mais crítico.

Claro, sempre resta a esperança. É difícil acreditar que estamos cada vez mais regredindo ao invés de evoluir.

Mas, com certeza, este é o único momento em que o futuro de Olímpia passa pelo crivo, pela decisão, ou seja, fica nas mãos de seus cidadãos

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