05 de agosto | 2023

Curupira, o Patrono do Festival do Folclore

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Palmira Marcelina Degasperi Rodrigues – Figura central nos Festivais de Olímpia desde 1979, quando através de Decreto do Executivo Municipal foi instituído como Patrono do Festival do Folclore, o Curupira – entidade mística – constitui-se hoje em personagem a merecer uma reflexão especial.

Importa destacar em primeiro plano tratar-se o Curupira de um Mito, entre outros que povoam o rico Folclore Brasileiro. Isto significa que o Curupira não tem existência real, objetiva, isto é, não corresponde a qualquer entidade que tenha existido historicamente. Trata-se de uma criação da mente pré-lógica, pré-científica, que não dispondo de instrumentos racionais para operacionalizar as necessárias explicações sobre o universo natural, elabora de modo fantasioso sobre o real, povoando-o de entidades fantásticas.

O Curupira ora é apresentado como um menino de cabelos avermelhados, corpo peludo e dentes verdes, ora como um anão, como um caboclinho, como um curumim, como um duende com orelhas-de-abano, sem cabelos e com o corpo coberto de pelos verdes, entre outras configurações.

Entretanto, alguns aspectos coincidentes surgem como especialmente relevantes: sempre o Curupira apresenta os pés voltados para trás e atribuísse-lhe a missão de protetor da flora e da fauna utilizando-se, para bem cumprir sua tarefa, dos mais variados artifícios: engana os caçadores, persegue-os e até vinga-se deles quando observa que matam animais pelo simples prazer da caça; bate nos troncos das árvores quando presente a aproximação de tempestade para alertá-las quanto à intempérie que se aproxima.

Este pequeno contexto envolvendo o personagem Curupira revela já um dado significativo: o homem primitivo era consciente dos diferentes planos de vida, respeitava-os e pressentia a necessidade de sua preservação. Assim como elaborou diferentes explicações para a vida e a morte do ser humano, buscou forças sobrenaturais que resguardassem a vida animal e a vida vegetal, essenciais à sua própria sobrevivência. Desta forma, agindo em função de uma crença numa entidade fantástica, protetora de plantas e animais, o homem preservou seu meio ambiente. Desafiar o Curupira é perigoso, é preciso respeitar o seu domínio: caçar, só por necessidade; as árvores devem ser protegidas.

Este tipo de explicação fantasiosa, envolvendo um personagem imaginário, constitui hoje, para a nossa civilização, apenas mais um mito do Folclore Nacional. É objeto de pura curiosidade e não de crença para o homem culto, conhecedor dos princípios científicos e das leis que regem o universo natural.
Todavia, urge não desdenhar o que de pueril e de pré-lógico se constata no mito ora exposto.

A Ciência contemporânea, embora com inestimável acervo de conquistas em benefício da humanidade oferece, por outro lado, um grande risco de retrocesso: a destruição do meio ambiente, seja a longo prazo através da progressiva poluição, seja a curto prazo através do uso não pacífico da energia nuclear.

Que Curupira inventará o Gênio da Ciência agora para nos proteger a todos nós: homens, animais e plantas da destruição não desejada, mas prevista como possível?

Mais uma vez, somente do próprio homem pode nascer a esperança e a solução. O despertar para os valores essenciais à vida e à convivência humana pacífica, pela fé num poder maior e transcendente, a fim de que o homem não destrua o que não criou: a Terra em que vivemos. E necessário que o Curupira renasça simbolicamente como a mensagem de um povo que diz não à destruição.

Parabéns ao Professor José Sant’anna, incansável batalhador não só na pesquisa do folclore brasileiro como também na realização dos magníficos Festivais do Folclore de Olímpia, pela brilhante iniciativa que levou a transformar o Curupira no Patrono de todos os Festivais (Decreto n.° 1286, de 01/08/79) e à criação do Troféu Curupira (Decreto n.° 1313, de 22/08/79), que visa a distinguir pessoas que vêm colaborando na concretização de tais Festivais.

Palmira Marcelina Degasperi Rodrigues era professora e estudiosa do folclore brasileiro. Faleceu em 26 de novembro de 2014. Este artigo foi publicado no Anuário do 29º Festival do Folclore.

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