12 de fevereiro | 2017

Carnaval no Recinto, sinto muito, mudou a latinha, as moscas continuam

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Willian Zanolli
Vai indo que cansa a insistência da falta de compreensão desta gente que falsamente mente que finge saber sobre as coisas que desconhece.

Kant, no Ensaio sobre as doenças mentais avalia de forma racional e científica a burrice e diz que “A impotência (incompetência) em não poder se colocar no lugar do outro, isso é a burrice; e o “burro” não conversa, não dialoga”.

Tomando por fonte o texto de Junior Santiago, graduado em filosofia pela UFG, faremos uma breve síntese sobre o tema da burrice em Kant para, a seguir, discutirmos a burrice da insistência do carnaval de novo, novamente no Recinto do Folclore.

“Kant, tão atual em nosso país, escreve em seu “Ensaio Sobre as Doenças”, sobre a “Burrice”, em detalhes, e a considera uma doença mental bastante dura e sofrida.

Principalmente porque normalmente a burrice não faz aquele que é “burro” sofrer, mas quem sofre é o outro.

Justamente porque ela (a burrice) implica a falta de abertura para o outro, para o diferente.

Diferente daquele que não é “burro” que aqui cha­maremos de “inteligente”.

A pessoa inteligente se distingue do burro porque ela se posiciona na posição de atenção (a atenção é sempre um sinal de inteligência), o inteligente presta atenção e anseia entender porque pode entender a limitação alheia; em com­­pensação àquele que não tenta entender é justamente por não poder entender.

Imaginemos o que é a incapacidade de uma pessoa que não pode entender algo além de su­as próprias certezas fechadas.

Penso que essa pessoa deve se sentir muito mal por não ter o ensejo de entender. A impotência (incompetência) em não poder se colocar no lugar do outro, isso é a burrice; e o “burro” não conversa, não dialoga.

Sendo assim não pergunta, não é curioso, não lê um livro, nem busca mudar de opinião ou ponto de vista; e aqui não confundamos isso com timidez; a timidez é outra coisa e todos nós temos traços de timidez mais ou menos acentuados.

Já a burrice é sempre prepo­ten­te porque o burro não amplia o campo de visão, ora, o mundo dele já está pronto, portanto, seu horizonte está fechado e não há espaço para algo além da sua zona de conforto.

A ação de querer ou não entender algo, faz toda a diferença; logo há um impulso por trás. Essa é a marca da pessoa “burra” e da “não burra”: a ideia pronta; e essa idéia pronta é o que pode esconder a própria burrice com uma falsa inteligência e entendimento.

“Longe de ser uma tarefa fácil, afinal existe o universo de certezas que são colocadas como verdades intrans­poníveis; mas, é justamente nesse excesso de certezas que devemos plantar dúvidas.”

Agradecemos a contribuição muito bem-vinda do Junior Santiago (retirada da internet) naquele modelito copiar e colar e seguimos adiante na discussão, para ao final, se der coceira e vontade, voltar ao Junior que explorou muito bem o tema que no nosso entendimento serve a turrice burra que nos parece ser a volta do carnaval para o Recinto do Folclore.

Primeiro é preciso entender outra burrice, que é desassociar fingindo que está associando o carnaval ao turismo local.

Isto além de um equívoco fatal, do ponto de vista econômico, é de uma “burrice” sem tamanho.

Qualquer cidade no entorno, menores, com orçamento anual minúsculo em termos comparativos e sem as qualificadoras turísticas de Olímpia, não abrigam um dos maiores clubes termais da América Latina e cito aqui os casos de Severínia, Guaraci e Altair conseguiram, através dos anos, organizar um carnaval reconhecidamente melhor que a Estância Turística.

O carnaval para os administradores destas cidades têm co­mo referência o aquecimento do comércio local, a injeção de dinheiro na cidade através da pre­sença de visitantes, coisa óbvia, que burros nunca perceberão.

Por se tratar de cidades do interior, pequenas, é natural que o inconsciente tenha registrado que o lugar em que as pessoas nos grandes eventos normalmente venham a se encontrar para festejar seja a praça municipal.

O visitante ou o turista, como queiram, geralmente não detêm um número muito elevado de informações sobre o lugar que visita, principalmente se o faz pela primeira vez, em lá estando, após o destino alvo de sua viagem, clube, praia, pescaria, geralmente se dirige a praça central para saber se rola algum evento por lá, quando, no caso do carnaval, não vai direto para este evento.

Olímpia não tem seu carnaval identificado como evento mar­cante e só rolou com certo sucesso de público e de energia quando realizado no entorno da Praça da Matriz, isto é incontestável.

Os que estiveram no poder já tiveram a oportunidade de dar vazão a sua insensatez e já mudaram tanto carnaval de lugar quanto o folclore de data e deram com os burros na água.

A explicação é mais simples do que pode parecer. Gastou-se uma fortuna para que o folclore fosse levado a efeito no mês do folclore e ai com a desculpa de se beneficiar o turista mudaram a data do evento.

Como os ditadores nunca se perguntam nada e nem ouvem ninguém, o turista não sabia da existência do folclore fora do calendário tradicional e muitos não sabem nem no calendário normal, portanto, o folclore foi um fracasso.

O que isto pode ter a ver com o carnaval?

A pergunta deveria ser que turista que veio ao Thermas pela primeira vez teria como interesse saber que o carnaval local será realizado em um recinto que a eles passa despercebido e a resposta, mesmo sem nenhuma pesquisa científica em mãos, deve ser nenhuma, ninguém sai de casa para descansar com um manual de eventos a ser cumprido.

Principalmente, se for em uma cidade em que o turismo engatinha e tudo se dá no nível do amadorismo total, em que a informação fornecida ao turista muitas vezes é muito mais caótica que o desejável.

Digamos, por bondade, que grande parte dos turistas saiba onde é o recinto, conhece bem, tanto quanto os cidadãos olimpienses.

Se conhece e bem, se não for disponibilizada uma segurança do nível do Festival do Folclore é recomendável que não frequente.

O último show realizado lá se transformou em um festival de ocorrências policiais.

Os últimos carnavais levados a efeito no recinto, sem preconceito algum, apenas analisando a realidade, levou para os festejos naquele local grande parte da população considerada invisível na sociedade de consumo.

Que na praça, somada a centenas de outros, com inserção social, sobre as luzes, temerosos da segurança, das dificuldades impostas pela exposição, as ruas são bem iluminadas ao contrário do entorno do recinto, contém em parte, sua sanha, seu lado mais demoníaco.  

As tentativas de realizar o carnaval no recinto sempre foram coroadas de insucesso, e as justificativas de que se pretende premiar o turista com esta mudança, soa mais como “burrice” que realidade.

Uma das hipóteses racionais elencadas para que tal mudança se dê, talvez a que se aproxime do real, é a que toca fundo nos interesses dos moradores da região, e de alguns comerciantes, que não dependem de carnaval para suas vendas, incomodados com o barulho e outras conseqüências que qualquer festa traz para quem reside ou comercializa nas proximidades.

Ocorre que o poder público, na nossa modesta opinião deve lidar, entre outras coisas, com a arrecadação de tributos, geração de empregos, distribuição de renda, captação de recursos e o carnaval no recinto diminui estas expectativas.

De outro lado, chega a ser risível, se o pano de fundo for o incomodo causado aos moradores de prédio na região central, quando se sabe que a cidade dispõe de milhares de espaços vagos em lugares silenciosos e quem optou em morar nos prédios ao redor da praça devia saber que aquela região sempre foi mais barulhenta que as outras, atendê-los em sua queixa soa a burrice da burrice.

Foram morar lá não por necessidade, por imposição da miséria, das dificuldades econômicas, foram morar lá por ostentação, exibição patrimonial, pagaram alto por uma moradia e não aceitam receber a parte negativa dos seus investimentos mal sucedidos e culpabi­lizam a população e o poder público por um barulho que sempre esteve no pacote, por que sempre existiu.

Quem pariu Matheus, não o Márcio, por que ele é meio grandinho, que embale.

Nada disto é certeza, e se ho­uver alguma, após o carnaval sa­beremos, e voltaremos ao tema.

Voltemos ao texto do Junior Santiago para fechar a tela do computador e descansar as cataratas.

“O excesso de certeza é o a­vanço do neofunda­men­talismo (não somente o religioso); precisamos plantar muitas dúvidas e plantar dúvida no universo de certezas é assumir o papel de “bru­xos” em uma inquisição on­de os inquisidores não aceitam o diálogo devido as suas certezas fala­ciosas, palatáveis e aneste­siantes.

Isso me lembra do refrão de uma música dos anos 80. A banda era: “Sempre Livre” e cantava: “eu sou free, sempre free, eu sou free demais”. Nesse refrão existe um “duplo sentido” muito inteligente, afinal a palavra “free” em inglês significa livre; e segundo a música para ser livre é preciso sofrer. Os amantes da burrice não querem ser livres por isso não sofrem.

Não falo aqui de sofrimento em forma de prazer como os masoquistas sentem, porém o sofrimento que veio como consequência da busca incessante de liberdade e luta contra a tal burrice exposta nesse texto.

Para os “burros” de plantão apenas expresso a frase de outra música, agora da cantora Pitty: “O fracasso lhe subiu à cabeça”.

Esperamos, no entanto, embora não acreditemos que o carnaval seja bem sucedido no Recinto do Folclore, por estarmos demasiadamente cansados de ser cobaias de laboratórios de médicos e de loucos, cansados de tanta intolerância e de tão pouco diálogo, cansados de tantos “burros” do  Kant.

   Willian A. Zanolli é ar­­tista plástico, jornalista, estudante de Direito e po­de ser lido no www.willian­zanol­li.­blo­gs­pot.com.

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