22 de janeiro | 2017
A morte de Teori e a teoria da conspiração
Do Conselho Editorial
O Brasil foi surpreendido com um acidente aéreo que culminou com a morte do ministro do Supremo Tribunal Federal Teori Zavascki.
Em tempos normais seria este trágico acidente considerado mais um entre tantos que vêm ocorrendo na aviação pelo mundo afora.
Uma linha fora da curva, porém, chama a atenção para algo extremamente grave que vêm ocorrendo no Brasil depois do início da Operação Lava Jato, tida como uma das maiores investigações acerca de autoridades e grandes empresas em casos escabrosos de corrupção no mundo.
Bilhões e bilhões eram, e talvez ainda sejam, desviados dos cofres públicos e de empresas estatais por políticos de toda ordem.
Do presidente a ex-presidentes da república, passando por senadores, deputados, governadores, prefeitos, vereadores, assessores, empresários tiveram ou teriam seus nomes citados na maior operação contra a corrupção de todos os tempos.
Alguns dos denunciados se encontram presos, outros perderam o mandato, outros se curvaram à delação premiada e esperam temerosos alguma decisão a qualquer momento da justiça que pode levá-los ao cárcere.
Buscas e apreensões em gabinetes e empresas ocorrem todos os dias, assim como são decretadas a indisponibilidade de bens, ou abertura de sigilos bancários ou telefônicos.
Em suma, os que sempre se consideraram impunes e que ainda estão no poder em Brasília, sabedores que ex-ministros e até o ex-presidente da Câmara se encontram presos e que pode ser este o triste destino deles estão em polvorosa em Brasília e pelo país afora.
Teori Zavascki era peça principal neste tabuleiro. Relator dos processos da Lava Jato tinha sob seu poder o futuro de grande parte dos expropriadores da nação.
Conhecido como legalista e linha dura em suas decisões, avesso a aparições midiáticas, falava no processo e causou polêmicas ao decidir questões que foram do afastamento do presidente da Câmara e posterior prisão, passando pela prisão de Delcídio do Amaral, impedimento da nomeação de Lula para o ministério e impeachment de Dilma Rousseff.
Neste momento se preparava para começar a ouvir os envolvidos na delação premiada da Odebrecht que, segundo conhecedores dos bastidores da política nacional, poderiam dissolver a república, tamanho o estrago que causaria nos meios políticos e empresariais.
Exatamente após o período de férias que desfrutava seriam ouvidos os envolvidos na delação premiada da Odebrecht e posterior homologação da mesma.
O clima em Brasília era de temor em relação ao que seria revelado e que, em razão do sem número de vazamentos de informações para a mídia, não era de todo desconhecido.
O atual presidente da república, rodeado de envolvidos nos escândalos que viriam para conhecimento da sociedade brasileira e do mundo, já havia declarado que manteria os ministros alvos de denúncia, pois sabia que pensando contrário a isto teria que demitir quase todos os ministros e a si mesmo, cujo nome figura em várias delações e as informações davam conta de que seu nome figuraria nas delações que se tornariam públicas.
Em meio a todas estas situações, a população tem a sensação de estar e ter sido comandada por bandidos e corruptos, uma quadrilha muito perigosa que esteve no poder ao longo dos anos, e que expropriou um volume imensurável de dinheiro dos cofres públicos.
Tendo esta sensação, a morte repentina do relator dos processos que envolvem grande parte dos meliantes que determinam o destino da nação chega a ser coisa corriqueira. Levantar-se a hipótese de que o acidente que envolveu o ministro que detinha a condução do processo pudesse ser motivado em razão de se interromper as investigações.
A princípio não se pode descartar nenhuma hipótese, afinal o que está em jogo é o poder e bilhões e bilhões em desvios que encontram dificuldades para ser encaminhadas as mãos criminosas que mandam e desmandam no país.
No conjunto, a teoria da conspiração se mostra muito frágil para ser acreditada de primeiro plano, em razão do que se pode perceber do acidente que foi vítima o ministro, o que não deve impedir uma investigação séria e aprofundada, até para que não paire suspeições sobre os que poderiam ou poderão ser beneficiados com a infelicidade do sinistro acontecimento.
Antes da emissão de opinião acerca de algum fato que tenha ou não a gravidade deste que ora se discute, é de bom senso que o emissor cerque-se de cuidados e de informações que alavanquem sua teoria acerca do debate que pretende manter.
O que tem se observado nas redes sociais é um número sem fim de absurdos e besteirol que em nada contribui para se chegar a uma interpretação no mínimo coerente acerca do ocorrido.
No entanto, no meio de tanta “panaquice” há quem discorra com propriedade acerca da possibilidade de que o ocorrido possa estar vinculado a intenção de interrupção das investigações.
O tempo, senhor da razão, dirá de que lado pode estar a verdade. Se os interessados na interrupção das investigações insistirem em nomear alguém com perfil para empurrar para debaixo do tapete tudo quanto foi feito até agora na maior investigação contra a corrupção, os corruptos terão vencido esta batalha contra o bem. Caso contrário, a teoria da conspiração terá servido apenas para movimentar as cabeças não pensantes na direção da ausência do pensamento, como sempre.
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