21 de dezembro | 2014
A menina moça e o direito à cidade das laranjas
João Victor Moré Ramos
Em um dia qualquer os “gatos” partiram. Encheram os bolsos e voltaram para suas terras natais.
Em uma noite qualquer as laranjas caíram, descascaram a fruta, chuparam até o bagaço daquela bahia, da outra ioa, de uma seleta, mas boa mesmo era a pera. A acidez foi tanta que até mesmo o solo cítrico – critico resolveu se embriagar do leite derramado. Subiram alambiques, fizeram da cachaça o seu supra-sumo-supremo lugar. Foi assim que o bagaço secou, e o poeta cantou: “o sol colorindo é tão lindo, é tão lindo, e a natureza sorrindo, tingindo, tingindo”. Na alvorada passaram-se os anos e logo após alguns anos passados por uma redundância forçosamente pleonástica, o sertão esquentou, as caldeiras cresceram aquecendo nosso quintal.
Usina, doce tradição cana-via et al. Os nervos a todo vapor, as vias em seu motor, sujeita combustão. Ontem mesmo te queimaram, engoliram a labuta, afagaram a terra, encheram nossos pratos. Passou da lama à grande indústria aquele nosso velho recado. Diante dos fatos consumados, o ouro negro fez-se presente. Furaram o poço! Eis me aqui água ardente. Água quente jorrada sem compromisso algum com suas vertentes nascentes. Ao poente cercaram-se os campos, as arvores, as minas e o pasto, aos bois deram nomes, marcando-se o gado. Tudo conforme o combinado. Assim a bolha inshow. O bolo cresceu. A receita fermentou. Os primeiros especularam: “tudo farinha do mesmo saco”. Fizeram-se assim os boatos. Mas, segundo as fontes dos segundos consultados não passou de um jogo de carteado. Ao ponto que os terceiros do clube dos vícios perguntaram: Mas quem é esse louco desajustado, que fala o que vê, e que lê avoado? Será um forasteiro, gênio de caprichos e desleixos, ou serás um engenheiro com seus amalgamas do passado? A menina tinha a resposta em seus lábios. Sabia desde o inicio que os prédios respiravam que os prédios sucumbiam que os prédios também falavam que os prédios também dormiam. Já a moça por seu turno queria seu espaço, queria o seu publico. Queria mais que isso. Queria que o espaço e o público fossem uma coisa só. Queria um espaço-público.
Não aquele público que se torna plateia antes mesmo do ser publico. Não aquele público que se diz público diante de uma plateia. Queria mesmo publicar a menina, pois sabia que só mesmo ela, a moça, compreendia seu devido lugar no dia mais longo do ano, onde tudo se aparenta parar.
João Victor Moré Ramos é Mestre em Geografia, poeta e escritor.
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