30 de julho | 2017

A Câmara e a CEI do fim do mundo

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Do Conselho Editorial

Frequentar as sessões da Câmara Municipal, para quem tem um mínimo de bom senso, criticidade, noção de certo errado, pode ser um imenso sacrifício.

Nada rasteja de forma servil e pusilânime melhor que determinados eleitos para cargos que se pretenda sejam para representar a população.

Vê se bem, todos os dias, no Senado e na Câmara senadores e deputados dando vergonhosas demonstrações confirma­tórias do espírito corpora­ti­vista e da extensão vergonhosa do número de corruptos quando produzem da tribuna verdadeiros ataques a democracia e a tentativa da restauração da ética na vida pública.

Nobres representantes do povo defendendo uma fórmula esgotada em um governo que cai de podre aos pedaços, tamanho o envolvimento em todas as podridões possíveis e ima­gináveis levadas a efeito desde o período monárqui­co.

Agora, para justificarem a não autorização para investigação do presidente da república, que afastaria o mandatário do poder até a conclusão das investigações, utilizam como argumento a desestabilização do país.

Ocorre que tal argumentação não sensibilizou os parlamentares quando dos impedimentos do ex-presidente Collor e da presi­denta impedida, e as razões de fundo deveriam ser conhecidas da maioria.

Naquelas ocasiões, assim como na votação da lei que permitiu a reeleição de Fernando Henrique, e, agora, os deputados foram premiados de forma venal e corrupta com valores milionários para entregarem seus votos.

Jogos de interesses produzem discursos para cada gosto no universo político e cada um mais discutível que o outro, quando amparado nos desejos de submissão ao que está no poder, ser simpático ao eleitorado ou levar vantagem econômica.

A grande questão colocada em discussão pela população e que vem ganhando força é sobre os valores ultramilionários que o poder público dispensa para manter uma representação mentirosa de fachada de defesa dos anseios da população.

Lá, como cá, não é muito diferente.

Como se argumentava no início do editorial, a Câmara Municipal, nos últimos anos, tem se notabilizado pelo nível de péssimas escolhas do eleitorado olimpiense.

A cada legislatura a população consegue privilegiar com mandatos indivíduos que conseguem ser piores que GPS com defeito, tamanha a falta de consciência da direção certa de seus afazeres públicos.

É de se notar que a última eleição pontuou dois ou três vereadores que vêm se destacando por posicionamentos fora da curva dos reféns do poder executivo com posições independentes, como deveria ser a de maioria.

Mesmo estes, por des­preparo, amadorismo, falta de assessoria em algumas questões, destilam ranços e preconceitos inconcebíveis, o que pode ser melhorado com a experiência e o tempo de mandato.

A maioria, porém, transforma as noites de segunda em algo interminável e babaca, com discursos que chegam a incomodar até muita gente sonsa de tão disparatados que são.

Isto, em tese, poderia justificar a ausência da população nas sessões do legislativo, mas há mais.

Desde a “proibição” do uso da Tribuna Livre, que conferia àquela casa um certo ar de democracia, a tendência, em tempos de manifestação livre na internet, que era do esvaziamento, se ampliou.

Sem contar a virulência, os exageros nos ataques a quem se manifesta de forma contrária aos interesses dos legisladores locais, que acabam atemorizando e afastando parte dos que discordam de certas práticas.

Em resumo, a casa do povo é restrita a uma parcela diminuta da população acostumada a dizer amém e a ver desrespeitados os seus direitos.

O discurso soante na casa é de defesa intransigente da população, da democracia e dos direitos do cidadão, a prática é totalmente distante de tudo isto, afora as exceções.

Na última sessão foi por demais vergonhosa a exposição de motivos colocadas por alguns vereadores para enterrar uma CEI – Comissão Especial de Inquérito que pretendia apurar supostas irregularidades em um concurso público promovido no governo passado.

Um vereador chegou ao absurdo, em sua justificativa, a afirmar que ninguém era bobo ali, que a fraude havia e que retirava sua assinatura para apurá-la para não prejudicar outros funcionários públicos com a possível anulação do concurso viciado, segundo ele.

O presidente da Câmara, advogado, soltou uma pérola que doeria até nos ouvidos menos informados sobre deveres e responsabilidades do cargo que ocupa.

Afirmou que não estava ali para investigar e sim para trabalhar em prol do bem da cidade e outras piruetas fantasmagóricas que assustam qualquer busca que fale sobre a função dos vereadores que evidenciam a criação de leis e a fiscalização das ações do Executivo.

Considerando-se que o mesmo foi vice-prefeito no município, fica a terrível sensação que estava advogando em favor de não investigar um governo que endossou.

Outros alegaram a famosa lenga-lenga de que o Ministério Público já investigou e foi por ai afora o festival de aberrações discursivas.

No final, que sempre há um final em todas as tragédias humanas, em demonstração de falta total de democracia na casa, um orador foi impedido de falar com a singela justificativa de que o assunto sobre o qual iria discorrer era privativo dos vereadores.

Nada mais medíocre e demonstrativo da insignificância do legislativo local. 

Ao final, como bem discorrido por um dos presentes, se há fraude no concurso, como apontado pelo vereador da tribuna, não há razão para que não se investigue, ou não se investigando, perpetua-se a corrupção nos concursos.

Mais que isto, quem passou no concurso em que se supõe possa ser fraudado, se verdadeira a fala de um vereador, de que são funcionários que passaram por cursos de formação para melhor qualificá-los, estão, após anos no serviço público, preparados para qualquer concurso que prestem.

Pode ser que não seja desta forma.

Pode ser que o discurso encubra verdades e não evidencie distorções claramente observadas na falta de eficiência e qualidade dos serviços públicos que em matéria de profissio­nalismo deixam muito a desejar, tanto quanto os vereadores.

Fora as exceções, claro, pena que sejam poucas.

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