02 de setembro | 2012

A banalização da campanha de vereadores

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Do Conselho Editorial

?Sem generalizar, que sempre há os que se esforçam para demonstrar que pelo menos estão por dentro das funções que estão dispostos a desempenhar, em todos os campos da atividade humana, e não poderia ser diferente na política.

Afora estas exceções, que embora poucas, são significativas e deveriam ser ampliadas, até se tornarem regra, ou, maioria, a campanha eleitoral para os cargos legislativos está aquilo que se pode chamar de uma aberração.

A começar pela música, já que grande parte das escolhas musicais demonstram exatamente a futilidade e o despreparo dos que pretendem legislar em prol da população.

Não se exige Bach, Strauss, Villa Lobos, Vivaldi, ou Beethoven nos jingles de campanha eleitoral, muito menos Milton Nascimento, Chico Buarque, Jobim e Vinicius, nada da qualidade musical de Piaf, ou Louis Armstrong, com o discurso do Martin Luther King, ou do Malcolm X no fundo, nada disto.

Aliás, na democracia o que menos deveria poder, é ser exigente em relação ao gosto de maioria.

Porém, quando se trata de lidar com finanças públicas, leis que darão ordenamento à sociedade futura, há que se cobrar dos pretendentes, dos postulantes, senão a capacidade de entendimento da sociedade do Gramsci, Voltaire, Rousseau, Spinosa, ou Marilena Chauí, pelo menos um mínimo de senso, de lógica, em relação a importância do que irá passar a desempenhar, caso eleito.

Esta eleição, ao contrário das diversas que foram disputadas ao longo da história brasileira, está, de acordo com o material de campanha de maioria, valorizando a egolatria, o narcisismo e a barbárie,

Absurdo o número de candidatos que entendem muito mais importante que as funções públicas que irá desenvolver, a função que ele exerce profissionalmente, o laço de parentesco ou proximidade com alguém que julga importante, as propostas demagógicas que são funções e obrigações do Executivo, e as músicas de péssima qualidade, sem nenhum conteúdo político, que louvam o personalismo e a vaidade exagerada de grande parte dos candidatos.

No tocante a este respeito, parece que a sociedade perdeu de vez a noção da normalidade, se assumiu enquanto analfabeta na totalidade, causa espanto a singeleza com que determinadas figuras justificam o vazio de suas campanhas, com a alegação mais pobre que a campanha, que se fizer de outra maneira o povo não entende.

Pela lógica, se levada ao pé da letra a explicação para a baixa qualidade da campanha sem muita exposição de idéias, há que se concluir que a sociedade é composta por pessoas sem nenhuma informação, alheias, indiferentes, e que os que pretendem representá-la não devem e não podem ser diferentes de um suposto rebanho que pensa bovinamente.

Um ou outro tenta se enveredar pelo caminho do obreirismo, enaltecendo a busca desenfreada por obras e verbas públicas, as famosas emendas denunciadas nos meios de comunicação por que maioria das vezes deixam porcentagens duvidosas, ilegais e criminosas nas mãos dos legisladores, e por isto o empenho de grande parte deles em consegui-las.

E soltam aqueles jornais de campanha onde parece que foram eleitos vereadores, mas desempenharam função de prefeito, conseguiram um monte de verbas para obras e esqueceram-se da função principal, fiscalizar o Executivo e elaborar leis.

Se fossem fiscalizar, alguns, teriam que iniciar a fiscalização exatamente pelas obras que conseguiram, exatamente por que parte da verba foi parar em seu bolso, parte no bolso do deputado que conseguiu, parte no bolso do Secretário, geralmente de obras, e outra parte, esta rechonchuda, nas mãos de prefeitos.

Perguntaria o eleitor que pode estar lendo este editorial sobre o montante que fica para a obra, e a resposta seria o aconselhamento a que andasse por ai, fosse às cidades vizinhas, visitasse praças recém construídas, Escolas, UBS, UPAS, asfalto e observasse a qualidade da construção, e se possível, comparasse com o valor gasto.

É provável que em algum lugar, em alguma cidade, o valor gasto com a obra coincidiria com a qualidade do prédio construído; é possível, embora pareça ser na mente do cidadão comum, uma raridade.

Estes jornais de campanha, e outros, esparramados neste período pelo país afora são financiados exatamente pela má qualidade destas obras, assim como a falta de médicos, remédios na rede pública e outras ausências do Executivo, que a maioria dos vereadores, por estar quase sempre atrelada ao mandatário, não cobra quando no cargo e não evidencia em suas campanhas, quando novamente postulantes ao cargo.

Já a falta de emprego e renda isto é fruto da falta de mobilização e capacitação do administrador para gerar mais empregos, algo que os vereadores deveriam cobrar e geralmente não o fazem, fora, como explicitado no início, raras exceções.

Para estas falhas de não cumprimento de funções, que seriam legislar e fiscalizar o poder Executivo, a desculpa não é a fragilidade mental do brasileiro, a falta de compreensão de textos mais rebuscados, ou o analfabetismo, ai não tem desculpa, ai tem algo muitas vezes mais preocupante que tudo, contam com a falta de memória do povo brasileiro.

Sim, contam que suas ações não benéficas para a população, serão esquecidas e serão eleitos pelo voto comprado, pela falta de conscientização da sociedade brasileira que acabou criando exatamente o que está nas ruas, candidaturas inexpressivas sem nenhuma proposição, que entendem pela história política e de impunidade que o país atravessa, que apenas seus nomes e dinheiro para pagar churrasco e cerveja e uma música de péssima qualidade com apelo popular, bastam para que se elejam.

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