24 de março | 2024

Entre a Casa Grande e a Senzala modernas

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“Coronel, agora, enfrenta as consequências de uma política que semeou divisões, promovendo um crescimento econômico que beneficiou uma minoria enquanto deixava a maioria à margem”.

 

José Antônio Arantes

O caso das diaristas do turismo em Olímpia, remuneradas com míseros R$ 60 por oito horas de trabalho, não é apenas um reflexo da exploração laboral no setor turístico. É, sobretudo, o espelho de uma gestão municipal que nos últimos anos vem delineando uma cidade marcada pelas desigualdades, focando quase exclusivamente no desenvolvimento de um turismo que, sem o planejamento ideal, enriquece alguns poucos à custa de muitos.

Fernando Cunha, ao longo de seus primeiros seis anos como prefeito de Olímpia, parece ter desenhado um legado de disparidades flagrantes, privilegiando o turismo em detrimento do bem-estar geral de seus mais de 50 mil habitantes.

A realidade que se desdobra diante de nós hoje é a de uma cidade dividida: de um lado, o Vale do Turismo, símbolo da Casa Grande moderna (dos coronéis e suas famílias), repleto de riquezas e acessível a apenas 10% da população; de outro, a vasta maioria da população, reminiscente da Senzala (onde os negros sobreviviam doando o suor e recebendo chibatadas a troco das migalhas e dos restos dos porcos que se transformavam em feijoada), lutando por sobrevivência nas franjas desse sucesso turístico.

Este cenário, emulando a estrutura social de um passado colonial, não é somente uma injustiça profunda; é um modelo claramente insustentável. A indignação que reverberou esta semana pelas redes sociais, principalmente após a divulgação de prints mostrando que os diaristas do turismo são obrigados a sobreviver com míseros R$ 60 por 8 horas trabalhadas.

O descontentamento e a indignação da população sinalizam um mal-estar que transcende as condições laborais. Eles refletem uma comunidade que se sente traída, marginalizada por uma visão de desenvolvimento econômico que falhou em ser inclusiva.

A exploração dos diaristas do turismo é, assim, um sintoma de uma doença maior: uma gestão que concebeu o desenvolvimento turístico sem considerar o bem-estar da população como um todo.

Fernando Cunha, agora, enfrenta as consequências de uma política que semeou divisões, promovendo um crescimento econômico que beneficiou uma minoria enquanto deixava a maioria à margem.

A necessidade de mudança é premente.

A atual crise demanda uma reavaliação profunda do modelo turístico de Olímpia, buscando estratégias que promovam uma distribuição mais equitativa das riquezas geradas.

A cidade não pode mais se dar ao luxo de perpetuar essa divisão entre a Casa Grande e a Senzala. Precisa de um turismo que, verdadeiramente, distribua seus frutos de maneira justa, oferecendo condições de trabalho dignas a todos que nele labutam, e considerando a integralidade da comunidade local.

Além do debate sobre as condições laborais, é essencial que se estabeleçam políticas públicas voltadas para a inclusão social e a justiça econômica.

Olímpia deve vislumbrar um futuro em que o turismo seja um vetor de desenvolvimento sustentável, beneficiando toda a população e não apenas uma pequena parte dela.

Isso passa por uma gestão municipal que compreenda a cidade como um todo integrado, e não como um mosaico de interesses conflitantes.

A sociedade deve se posicionar contra a perpetuação dessa dualidade e exigir transformações concretas que garantam o bem-estar coletivo.

As próximas eleições municipais representam uma oportunidade crítica para redefinir os rumos de Olímpia. É um momento para a população demandar candidatos comprometidos com a erradicação das desigualdades estruturais que dividem a cidade, visando a construção de uma Olímpia mais justa, igualitária e unida pelo bem comum.

A transformação desejada requer um esforço coletivo, uma nova visão de desenvolvimento que priorize as pessoas e não apenas o lucro.

Que o legado desta crise seja um despertar para a necessidade de uma Olímpia onde a distinção entre a Casa Grande e a Senzala seja relegada à história, dando lugar a uma comunidade fortalecida pela justiça, igualdade e prosperidade compartilhada.

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