11 de fevereiro | 2018

Seita triplicou número de fiéis em situação de trabalho escravo em três anos, diz a PF

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DA REDAÇÃO COM ESTADO DE MINAS E EPTV MINAS

A Operação “Canaã – A Colheita Final” deflagrada pela Polícia Federal na manhã de terça-feira, 6, revelou um forte esquema de captação de novos fiéis para uma seita religiosa investigada desde 2011 e suspeita de manter fiéis em situação análoga à escravidão. A investigação apontou que em três anos os líderes da organização “Traduzindo o verbo: a verdade que marca”, antes conhecida como “Comunidade Evangélica Jesus, A Verdade que Marca”, aumentaram em três vezes o número de membros.

Em 2015, na operação “De Volta para Canaã”, 315 pessoas foram encontradas em situação de trabalho escravo em propriedades rurais e estabelecimentos comerciais do Sul de MG, em outras regiões de MG, BA e SP. Na operação de terça-feira a estimativa da polícia é que quase mil pessoas sejam localizadas no mesmo cenário, sendo mais da metade em Minas Gerais.

Segundo o delegado Alexsander Castro de Oliveira, todos os funcionários dos estabelecimentos comerciais interditados na operação de terça-feira eram fiéis e não recebiam pagamento em dinheiro.

“Eles trabalham em estabelecimentos dos mais variados sem receber nenhuma remuneração. Eles têm o patrimônio completamente usurpado pela seita, quando entram são induzidos a doar tudo. Em reunião dos líderes, eles transferem o patrimônio para laranjas e outras empresas”, explica Oliveira.

As investigações mostraram que mesmo após as operações realizadas em 2013 e 2015, o grupo voltou a cometer os crimes. Na época, o patrimô­nio dos líderes havia sido estimado em R$ 100 milhões. Agora o volume será atualizado, mas a estimativa é a de que o número de propriedades tenha dobrado.

Até o final da manhã de terça-feira, 06, treze pessoas haviam sido presas, sendo oito no Sul de Minas – Nove pessoas continuavam foragidas, inclusive o líder da seita, conhecido como pastor Cícero.

PERFIL DOS FIÉIS

Segundo o delegado, a maior parte dos fiéis aliciados pertence à classe C, com poucas condições. Mas também há registros de pessoas em situação financeira melhor.

Os fiéis viviam em situação bem diferente dos líderes da seita, que acumulavam carros, apartamentos de luxos e altos valores gastos. Todos os funcionários vivem em casas comunitárias. Um ex-membro chegou a dizer, em 2015, que o grupo fazia uma espécie de “manipulação de mentes”.

INÍCIO DAS INVESTIGAÇÕES

A seita começou a ser investigada em 2011, e os trabalhos resultaram na deflagração da “Operação Canaã” em 2013. As precárias condições de alojamento e trabalho foram denunciadas aos órgãos. Na época, cerca de 800 integrantes da organização moravam em cinco fazendas em São Vicente de Minas e Minduri. Conforme as investigações da época, foi identificado um sofisticado esquema de exploração do trabalho humano e lavagem de dinheiro levado a cabo por dirigentes e líderes religiosos.

Já em 2015, uma nova operação prendeu seis líderes da seita religiosa, entre eles, o olimpiense José Donizete Buzatto, o Dedé Buzatto. Segundo a PF, o pastor que é um dos principais líderes da organização, foi preso em Pouso Alegre (MG) e outras cinco pessoas, que formariam a cúpula da seita religiosa, foram detidas em Minas Gerais e Bahia. Além disso, foram bloqueados bens que pertencem aos líderes da seita, entre eles 39 imóveis rurais em Minas Gerais e Bahia, além das contas físicas e jurídicas dos envolvidos.

PRÓXIMOS PASSOS

Os envolvidos foram presos preventivamente e a intenção da Polícia Federal é sustentar as prisões. Além de manter trabalhadores em condições de escravos, os líderes da seita religiosa são investigados por tráfico de pessoas, estelionato, organização criminosa, falsidade ideológica e lavagem de dinheiro.

“A gente espera que dessa vez eles fiquem presos até a sentença. Com a sentença, eles devem levar uma condenação bem alta e só assim parem de conseguir novos fiéis”, diz o delegado.

Com as prisões dos líderes, segundo o delegado, os fiéis perdem a referência de trabalho. A situação será acompanhada pelo Ministério do Trabalho, que fará a rescisão dos contratos fictícios.

 

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