05 de novembro | 2013

Mancha de caramelo atinge município de Olímpia e leva mobilização até de pescadores para salvar peixes

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Uma força-tarefa composta por Polícia Ambiental, agentes da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) e pescadores amadores e profissionais resgatou quatro toneladas de peixes vivos do rio Turvo durante todo o sábado, dia 2. A mobilização continua por pelo menos até a próxima terça-feira, dia 5, e visa diminuir o impacto provocado pelo melado derramado no rio após um incêndio em um depósito de açúcar em Santa Adélia.

O melado produzido percorreu aproximadamente cem quilômetros. Depois de passar pelo rio São Domingos, desaguou no rio Turvo na manhã de sábado, por volta das 9 horas. Na ponte que passa pela rodovia Assis Chateaubriand, entre Olímpia e Guapiaçu, o nível de oxigênio chegou a 0 e estava em 0,2 miligramas por litro (mg/l) até o final da tarde de ontem. Doze quilômetros à frente, já em Onda Verde, a oxigenação estava em 2,5 mg/l, quando o ideal é 5 mg/l.

“A situação é muito complicada porque a substância é solúvel em água. Os peixes estão morrendo por falta de oxigênio. Estamos monitorando a situação e, caso seja necessário, as equipes vão se deslocar para pontos mais à frente do rio,” disse o engenheiro da Cetesb José Mario Ferreira de Andrade.

Para diminuir a quantidade de peixes mortos, dois caminhões e três caminhonetes com câmaras de oxigenação estão recebendo peixes para serem transportados a outros locais. Para isso, cinco barcos e 35 homens, entre policiais e pescadores, estão trabalhando na captura dos peixes.(Foto Diarioweb – Pierre Duarte).

“Vamos soltá-los em um ponto onde o risco de falta de oxigênio é mínimo, já que daqui até lá passam muitas correntezas, pedras e até cachoeira, o que é perfeito para oxigenação,” disse o capitão da Polícia Ambiental, Olivaldi Ferreira, que preferiu não informar o ponto exato para não atrair pescadores ilegais.

Até sábado, cerca de 20 mil unidades de nove espécies de peixes haviam sido capturadas: curimba, lambari, cascudo, curimbatá, mandi, ferreirinha, piau, tabarana e até dourado. “Essa ação é para remediar, diminuir os danos. Está longe de resolver o problema, mas é o que pode ser feito,” disse Ferreira.

A captura foi facilitada pela luta dos peixes pela vida. Com a falta de oxigênio, eles seguiam a correnteza e buscavam a superfície. Com o apoio de puçás e, principalmente, tarrafas, os pescadores faziam a pesca e transportavam os peixes para os caminhões.

A mancha provocada pelo melado desapareceu da água. “Isso já é um bom sinal, mas é preciso muito cuidado ainda, por isso todo esse trabalho que estamos realizando,” disse o gerente regional da Cetesb, Antonio Falco Júnior. Ainda não havia sido feito o cálculo de peixes mortos, mas o número ultrapassou duas toneladas antes de chegar ao rio Turvo.

Causa

O incêndio que provocou o melado foi iniciado na sexta-feira, dia 25 de outubro, em um armazém carregado com 28 mil toneladas de açúcar da empresa Agrovia S/A, em Santa Adélia. A queima do produto misturada a quase 1 milhão de litros de água despejado pelo Corpo de Bombeiros para apagar as chamas produziu um caramelo que escorreu pelas proximidades da empresa e atingiu as galerias pluviais, chegando à nascente do rio São Domingos.

Pescadores se unem para ajudar na operação

Para ajudar na captura dos peixes, a Polícia Ambiental e a Cetesb contaram com a colaboração de pescadores da região. Assim que o melado chegou ao rio Turvo, foram feitos contatos com profissionais para o auxílio no salvamento dos peixes. Acostumados com a prática da pesca, a operação de salvamento emocionou. “Pesco há 50 anos e tenho um rancho na região há 30. Me ligaram e vim com gosto. Com choro e tudo. Os peixes estão pedindo socorro e nessa hora temos de ajudá-los,” disse o pescador Valter Paladino, 60 anos, que afirma ter capturado até caranguejo das águas.

O presidente da Colônia de Pesca de Rio Preto, Alexandre Roberto Ferreira, pensa em quem depende da pesca realizada no rio. “Tenho diversos amigos nessa situação. É de cortar o coração, porque o rio está sofrendo. É triste de ver, principalmente para quem foi criado por aqui.” O pescador Darci da Silva Tavares saiu de Engenheiro Schmitt para ajudar na captura. Às margens do rio, jogava a tarrafa para capturar a maior quantidade possível de peixes. “Pesco direto por aqui e conheço muito bem a região. Até agora, já peguei uns 50 quilos.”

Como é época de piracema, a Polícia Ambiental manteve a proibição da circulação de barcos pelo rio e alertou para que outros pescadores não tentem ajudar por conta própria. “Já estamos em número suficiente e não estamos deixando outros barcos entrarem na água,” disse o capitão Olivaldi Azevedo, da Polícia Ambiental. Também é desaconselhado a parada no local onde as equipes estão por se tratar de trecho movimentado da rodovia.

Mancha de caramelo no Turvo provoca capotamento na SP-425

A mancha de caramelo que está contaminando o rio Turvo acabou provocando um capotamento na rodovia Assis Chateaubriand, SP-425, próximo da ponte da divisa entre os municípios de Olímpia e Guapiaçu. O acidente foi causado pela curiosidade provocada pela presença de inúmeros veículos no local. Consta que um veículo Astra seguia no sentido Olímpia-Guapiaçu e diminuiu a velocidade ao avistar a movimentação.

Nisso um Vectra que vinha atrás não conseguiu reduzir e tentou a ultrapassagem. No sentido contrário, porém, vinha um caminhão e, na tentativa de desviar, o motorista do Vectra bateu no Astra e capotou. Tanto ele, quanto um passageiro sofreram apenas ferimentos leves. No outro carro, ninguém se feriu.

O problema, segundo a Polícia Rodoviária Estadual, foi causado pela curiosidade de ver a mancha de caramelo que chegou ao Turvo do rio São Domingos, oriunda de incêndio em um depósito de açúcar de Santa Adélia.

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