08 de dezembro | 2019

Integrantes do Narcóticos Anônimos de Olímpia falam sobre a luta para fugir do vício das drogas

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Repórter da Folha entrevistou integrantes do NA de Olímpia.

A Folha da Região aproveitou uma das reuniões dos integrantes dos Narcóticos Anônimos de Olím­pia, na Av. Constitu­cio­na­lista (CRAS I), para abrir espaço para mostrar como se dá o trabalho desenvolvido visando a reabilitação do ser humano que se entrega ao vício das drogas.

O Narcóticos Anônimos de Olímpia é uma irmandade ou sociedade, de homens e mulheres, sem fins lucrativos, para quem as drogas se tornou o problema maior. “Nós não somos profissionais da área, nós somos adictos (dependentes) em recuperação que nos reunimos regularmente para ajudar uns aos outros para nos mantermos limpos. O único requisito para ser membro é o desejo de parar de usar e qualquer pessoa pode juntar-se a nós, independente da idade, crença, identidade sexual, religião ou falta de religião”.

E continuam: “O Narcóticos Anônimos não se importa com o que ou quanto você usou, quais eram os seus contatos, o que você fez no passado, quando você tem que deixar de ser; só nos interessa o que você quer fazer a respeito do seu problema e como podemos ajudar”.

Segundo Sandra (nome fictício), adicta em recuperação, mais ou menos 18 pessoas participam das reuniões que acontecem às segundas, quartas, sextas e domingos a partir das 20 horas.

“Sempre estamos recebendo o que chamamos de recém chegados que para nós é sempre a pessoa mais importante”, destaca.

A adicta Ana conta que não apenas um único fator para explicar o estado em que as pessoas chegam. “Nós estamos focados na recuperação do uso de drogas e assim cada um de nós aqui quando chega, chega com uma história, então não existe um motivo único para se entrar no mundo das drogas, cada um tem o seu próprio motivo, mas o mais importante é que realmente todos são bem-vindos as nossas reuniões”, destaca. 

Perguntada se recebem alguma incentivo financeiro do poder público, Ana diz que o Narcóticos Anônimos é autossustentável. “Nós recusamos a receber contribuição de fora, mas a gente trabalha hoje em cooperação com a Prefeitura; a Prefeitura cede um espaço para a gente realizar nossas reuniões. A gente não recebe nenhuma contribuição financeira, nem da Prefeitura nem de nenhum órgão público. Fica por conta dos próprios membros manter as despesas e o serviço da sala aberta”, afirmou. 

Sobre como fazer para participar das reuniões, Sérgio, mais um adicto, explica que o único requisito pra ser membro é o desejo de parar de usar qualquer substância que al­tera a mente. “Para o Narcóticos Anônimos, álcool e maconha são drogas. Basta ter esse desejo e não é cobrado taxa, matrícula, nada. Indivíduo tem que querer tentar se recuperar e aí é tudo sugerido, nada é obrigado e temos as reuniões que ajudam, a frequência de reunião ajuda muito, e literatura. Tem sempre uma pessoa com mais experiência no programa, que identificamos como padrinho, que vai ajudar esse recém-chegado”. 

Ele complementa dizendo que a associação tem um site  www.na.org.br onde as pessoas podem obter mais informações, mas também existem dois telefone do número de linha de ajuda: 0800 888 6262 e 9 8170 9561, este último também funciona pelo WhatsApp.

Não se consegue a recuperação de imediato, mas no NA de Olímpia é sugerida a frequência às reuniões e conforme a pessoa for frequentando, for entendendo o programa, essa pessoa vai entender que é um luta diária, é um programa de 24 horas, que funciona só por hoje”.

A respeito da palavra que usam para se identificar, o adicto, Sergio explica que é todo homem e toda mulher cuja vida é controlada pelas drogas. “Existe uma linguagem nossa, na nossa literatura, na nossa reunião que a gente costuma usar. “Só por hoje” é o nosso lema, ficar limpo só por hoje, não usar só por hoje e isso aí se aplica em todas as áreas da vida também; a gente procura aplicar isso e todas as áreas da vida. A adicção, a gente acredita que é uma doença, para Narcóticos Anônimos não é um dilema moral. A adic­ção é uma doença progressiva, incurável e fatal, mas que pode ser detida e controlada em algum ponto”.

Em Olímpia o NA é chamado de grupo Esperança e já tá funcionando há mais de 12 anos, mas não é um uma coisa que foi inventada aqui Olímpia. “O Narcóticos Anônimos é uma Irmandade mundial que já funciona há mais de 66 anos e hoje está presente em 144 países. Nossa literatura atualmente está traduzida em 55 idiomas e tem mais 16 em andamento. Então o Narcóticos Anônimos funciona no mundo todo ajudando o adicto a encontrar uma maneira de viver, independente da droga, da região, da língua; uma espécie de acessibilidade para que nenhum adicto venha morrer sem conhecer um caminho de recuperação”, concluiu Sergio.

Sandra conta sua história de luta diária para conviver com o vício

Cada dia é uma batalha a ser vencida.

A integrante da associação mundial que tem em Olímpia o grupo Esperança, Sandra (nome fictício) contou para a Folha, na última quarta-feira, a sua história de luta diária para poder conviver com esta doença que é o vicio das drogas.

Sandra começa seu depoimento dizendo que está “limpa” há sete anos, um mês e alguns dias. Mas faz questão de destacar: “o mais importante é hoje, esse é o dia mais importante da minha vida, porque o programa é só por hoje. É uma batalha que tem que ser vencida dia após dia”.

E continua: “Eu cheguei ao Narcóticos Anônimos através da linha de ajuda. Eu vinha passando dificuldades com meus problemas com droga. Tava no fundo do poço. Não conhecia o Narcóticos Anônimos, tava passando em frente um muro e vi o número e liguei. Eles atenderem e me informaram o local onde ficava mais próximo ao bairro onde eu morava. Na época não estava em Olímpia. Fui até lá e eles me receberam muito bem. Falaram que eu era a pessoa mais importante e com toda aquelas minhas dificuldades, com medo, com ressentimento, a dor que eu tava passando devido o uso abusivo e compulsivo das drogas, aí eu me identifiquei”.

“EU ACREDITAVA QUE MEU CASO NÃO TINHA SOLUÇÃO”

Ela conta que o pessoal se reúne e cada um fala o que passou, das dificuldades, dos problemas enfrentados. “Eu me identifiquei e tomei a decisão de fazer parte do programa. Então estou há sete anos no NA. Eu era uma pessoa que ninguém mais acreditava, nem mesmo a minha família. Tinha perdido o trabalho, deixado os estudos, e cheguei ao Narcóticos Anônimos já com uma certa idade, acreditando que meu caso não tinha mais solução”.

E complementa: “Mas a única coisa que me perguntaram foi se eu tinha o desejo de parar de usar. Falaram pra mim que eu ia perder o desejo e encontrar uma nova maneira de viver, o que realmente é o que vem acontecendo na minha vida hoje. Hoje eu consigo ser uma mãe presente, consigo ser um membro produtivo na sociedade, porque não dou mais trabalho, não fico mais nos UPAs, porque isso tudo acontecia; nem minha família fica me procurando mais na delegacia, essas coisas e que eu saia, não voltava, eu me perdia e também hoje eu cuido da minha casa, da minha família, eu tenho a minha mãe. Então, o programa está funcionando na minha vida nesse um dia de cada vez”.

“ASSIM COMO EU TIVE ESTA OPORTUNIDADE, OUTROS PODEM TER”.

Sandra conclama todos que tiverem alguém ou conhecerem alguém que tenha problemas com álcool e outras drogas, que chegue até uma sala de Narcóticos Anônimos, se dê essa oportunidade. “Assim como eu me dei essa oportunidade e hoje estou conseguindo viver essa nova maneira de vida através do programa. A gente se reúne e aqui a gente se sente à vontade, porque todos nós tivemos mais ou menos, uns mais, outros menos, as dificuldades, então a gente se reúne aqui para falar das nossas dificuldades, das nossas vitórias, o que a gente vem conquistando hoje, limpo, o que o programa está fazendo na nossa vida”, explica.

E conclui: “O Narcóticos Anônimos não é só essa sala. Nós temos eventos onde a gente se reúne para conhecer os outros de outras cidades, outros estados. É uma família, nós nos consideramos família”.

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