13 de agosto | 2022

Integrantes do Bumba Meu Boi mostraram preocupação com preservação do Folclore

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FOLCLORANÇA NA CIDADE!
Integrantes do grupo participaram do Cidade em Destaque e contaram suas histórias. É preciso cuidar da essência senão a cultura ficará reduzida aos livros.


Quinta-feira, 11, foi dia de folclorança no programa Cidade em Destaque. Os âncoras Bruna e Arantes, receberam a coordenadora do Bumba Meu Boi da Floresta de Mestre Apolônio, de São Luís – Maranhão, Nadir Cruz, junto com outra integrante do grupo, Lucila Melônio que foram entrevistadas com suas indumentárias típicas e contaram a história do grupo, falaram de suas danças, toadas e contaram a história do Boi. Chegaram até a cantar a toada da Floresta. Clique aqui e assista a entrevista na íntegra.

Inicialmente, as integrantes disseram que estão adorando a cidade, o Festival, e que a integração dos grupos faz com que se aprenda um pouco de Brasil com todos eles.

Nadir citou o caso do encontro que tiveram no refeitório com um grupo do Pará, e além das tradições, ficou sabendo do trabalho deles em vários segmentos na sociedade como educação, cultura, turismo, social.

GRUPO COMPLETA 50 ANOS

Sobre o Bumba Meu Boi da Floresta, contaram que em 2022 o grupo está completando 50 anos, possuí 130 integrantes, mas que no Festival só vieram 32 pessoas. “O nosso grupo com estas 32 pessoas está bem representado, vieram vários personagens identificando o Bumba Meu Boi”.

O grupo era comandado pelo mestre Apolônio que morava numa região ocidental do Maranhão e no êxodo rural veio pra cidade e em 1939 criou o Bumba Meu Boi Floresta.

“Existem 5 estilos que chamamos de sotaques. Mestre Apolônio foi o precursor do Sotaque da Baixada representado pelo grupo. Esse estilo representa os municípios dos campos alagados, e no Bumba Meu Boi do Maranhão estão presentes as três etnias: a indígena, com a dança e indumentária baseadas em penas de emas; no toque que é de influência africana, com instrumentos rústicos, e a europeia, com essa grandiosidade de bordados portuguesas”, contaram.

PATRIMÔNIO IMATERIAL DA HUMANIDADE

Nadir disse que o Bumba Meu Boi foi registrado como patrimônio imaterial da humanidade pela UNESCO.

“Esse enredo é entorno de uma estória, de um mito que ocorreu num espaço rural onde a Catirina, grávida, desejou comer a língua do boi mais bonito da fazenda. Com o desejo esse boi sumiu porque o vaqueiro, pai da Catirina, tirou a língua dele. Então, o boi ficou doente e o fazendeiro chamou todo mundo, pois queria saber do boi”, explicou.

E continuou: “E aí patrão chamou pelos vaqueiros (no grupo representado pelos chapéus de fitas), chamou a tribo, os índios, para ajudar; os índios trazem o negro preso e amarrado frente ao patrão para ele explicar o que aconteceu”.

A HISTÓRIA DO BUMBA MEU BOI

“O pajé faz um ritual e descobre que foi o Chico que tirou a língua do boi. Então, faz outro ritual, o boi volta à vida, e a festa continua. Essa é a motivação do Bumba Meu Boi do Maranhão”, detalhou Lucília.

E concluiu: “É uma sátira que o povo fez em relação a elite. Isso é retratado nos cantos da tradição. Fala da natureza, do jardim de sua casa, da morena bonita que passa na frente dele, da família, até o custo de vida atual é retratado nos cânticos; coisas do cotidiano”.

Para Nadir, a etnia africana tem suas orações dançando, cantando. “No Maranhão tem muito a questão da Umbanda e Mina, mostrando que tudo se mistura, mostrando para a sociedade que somos diferentes, mas não podemos se separar, se há alguma diferença, isso precisa ser respeitado. Mesmo tendo pequenos obstáculos, a cultura é muito forte”, disse.

O HUMILDE PODE SER ESTILIZADO

Perguntada sobre se corre risco das manifestações folclóricas acabarem, Nadir respondeu que se não tiver um olhar diferenciado, a cultura popular pode sucumbir, principalmente neste momento que as manifestações sofreram muitas perdas, sofreram muitos impactos.

“A pessoas que herdaram alguma tradição, tem algum conhecimento que geralmente é muito humilde, é esquecido e acaba sendo estilizado e representado por um parafolclórico. Aí já ficou de lado. Se não tiver políticas públicas para essa essência que é esse trabalho que o FEFOL vem fazendo, se não tiver o olhar diferenciado, isso tudo vai se perdendo”, complementou.

“Com as perdas dos mestres que vão embora e levam os conhecimentos com eles, no futuro só iremos saber destas manifestações nos livros”, destaca.

PROFESSOR SANT’ANNA
CONHECEU MESTRE APOLÔNIO

Nadir conta que o professor Sant´Anna esteve no Maranhão e visitou o Boi da Floresta, conversou com mestre Apolônio, perguntando cada detalhe, os instrumentos.

“É preciso que quem tem competência e responsabilidade cuide da sua cultura de essência, de raiz. O Bumba Meu Boi da Floresta tem 50 anos, mas no Maranhão temos Bumba Meu Boi com 125 anos. E manter não é nada fácil, por causa das influências externas”.

As integrantes do Bumba Meu Boi Floresta afirmaram que o grupo vem de um local em que as pessoas se declaram negras, inclusive 90% do grupo é composto por pessoas negras.

BARRACÃO ESCOLA

“O grupo se reúne em um barracão onde são produzidas e expostas todas as indumentárias, onde são feitas oficinas. Onde alguém aprende a fazer um bordado, por exemplo. É uma satisfação porque nasce um folclorista, nasce um bordador, vai ser uma mão de obra para o mercado local onde é absorvida com facilidade. Isso é feito também com instrumentistas”, contam.

E continuam: “Nessas oficinas surgem inclusive pessoas multifuncionais, onde aprendem a tocar, bordar e dançar. Nadir disse que está no grupo desde o seus 12 anos e hoje comanda por causa do aprendizado com o mestre Apolônio, que a foi preparando para tomar conta do grupo”.

Tudo isso precisa continuar.

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