11 de maio | 2008

Incerteza e falta de segurança atrapalham na hora da adoção tardia

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A incerteza e a falta de segurança podem ser consideradas as principais dificuldades a serem enfrentadas por um casal, principalmente quando se trata de uma adoção tardia, situação enfrentada por Dona Maria, ao adotar os dois filhos, o mais velho já com três anos de idade.

Inicialmente os maus tratos que recebiam da pessoa com a qual a mãe os abandonou, fez com que, principalmente o mais velho tivesse uma adaptação mais difícil. As condições de vida a que foi submetido fizeram com que aparentemente assumisse a condição de responsável por cuidar do mais novo.

Essa preocupação a mãe relata que, embora já sem tanta intensidade, ainda persiste e em muitas situações acaba sendo cobrada. Por exemplo, quando vai colocar o menor na cama e volta para pegar um cobertor, o mais velho já lhe cobra pela demora.

"Ele se sente preocupado com o menor, briga com ele, coisa normal entre irmãos, só que ao mesmo tempo, se deixar de cobrir o menino na cama ele logo faz a cobrança. Enquanto vai buscar a coberta no guarda-roupa ele cobra", reforça.

No entanto, o fato da mãe biológica morar longe de Olímpia trás certa tranqüilidade a Dona Maria, que tem poucas informações ou mesmo nenhuma a respeito do paradeiro dela, tendo conhecimento apenas do que consta no processo de adoção.

Os dois meninos viviam com uma mulher que a mãe biológica, que já estava grávida de um terceiro filho, deixou antes e desapareceu. Já fazia pouco mais de um ano que tinha deixado os meninos e não voltado mais para vê-los.

Essa senhora, uma espécie de babá, que ficou com as crianças, segundo consta também nos registros do orfanato, foi denunciada por maus tratos por vizinhos do local onde residia com várias crianças. Muitas delas foram encaminhadas aos pais e sobraram os dois meninos que hoje estão em Olímpia.

Sem ter notícias da mãe biológica, até mesmo pela falta de documentos, os dois foram levados para o abrigo onde ficaram até serem adotados. "A única coisa que parece que tinha era uma carteira de vacinação com um suposto nome. Mesmo depois de uma pesquisa feita pela justiça não foram encontrados os registros de nascimento", conta Dona Maria.

A carteirinha está em poder da família adotiva que é conservada com carinho porque "acho que todo mundo tem direito de saber sua origem, por isso converso com eles abertamente. Falo sempre que tocamos nesse assunto e conto toda a história".

O reflexo de tudo que viveu faz com que o mais velho sempre afirme que a mãe biológica morreu. Uma situação que, explica a mãe, no entendimento da psicóloga que atende o caso, ocorre até por prevenção: "para não ter perigo de sair de perto da gente".

A educação, até pela idade com que aconteceu a adoção, acaba sendo mais fácil em relação ao mais novo. O mais velho ainda sofre com as lembranças. "Era mais assustado e vive testando a gente para saber se realmente gostamos deles. Vive desafiando, mas melhorou muito", conta.

Por outro lado, o amor e a compreensão, além dos bons tratos que passaram a receber, influenciam nas mudanças para melhor, que vê atualmente nas duas crianças. A própria convivência familiar é outro fator apontado como muito importante para o progresso natural.

"Acredito que a convivência, a segurança de saber, precisava ver a expectativa deles com relação à expedição dos documentos. A gente falava para eles que precisava sair o ‘papelzinho’ (sic). Eles viviam também essa expectativa", acrescentou.

Porém, as duvidas persistem em tudo que está relacionado à vida das crianças. Há até incerteza se age de maneira correta em, desde o princípio de tudo, falar sempre a verdade para os dois.

Ela conta que o mais novo, no dia em que receberam a notícia da expedição dos documentos, ao buscá-lo na escola contou que havia saído o "papelzinho" e a comemoração do menino foi grande e espontaneamente foi contar para a avó materna a novidade.

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