26 de abril | 2020

Em última entrevista Martines comentou sobre o coronavírus e reclamou que queria voltar a atuar

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Clique e assista a última entrevista com o médico Nilton Roberto Martines

 

A ÚLTIMA ENTREVISTA!       
Jornalista enfatizou que tinha que se cuidar, pois era muito importante para Olímpia.

 

“Um abraço a todos, um abraço a população de Olímpia, para aqueles que estão nos ouvindo e que Deus nos proteja”.

O médico Nilton Roberto Martines, que faleceu no final da noite de segunda-feira, 20, vinha sendo entrevistado pelo menos uma vez por semana no programa “Cidade em Destaque” que é exibido em lives pelo “Facebook” e “Youtube” e transmitido pela Rádio Cidade e em sua última participação no programa, na sexta-feira, 17, ao final, foi alertado por duas vezes seguidas pelo âncora do programa, José Antônio Arantes, para que se cuidasse nesta pandemia do novo Coronaví­rus, porque ele era muito importante para a cidade.

Aliás, uma das intervenções do jornalista foi justamente para destacar que ele era considerado a última instância da medicina em Olímpia e diante da não aceitação do médico, o jornalista chegou a perguntar se ele poderia apontar alguém que lia pelo menos três livros de medicina por ano, participava de vários congressos e ainda achava tempo para estudar em cursos de aperfeiçoamento, inclusive, de psiquiatria. Isso tudo sem deixar de fazer dezenas de cirurgias e atender centenas de pacientes semanalmente. Sua resposta foi, em tom de brincadeira, que ele sofreria de TOC no sentido de ser compulsivo em sua profissão.

Nilton também falou sobre a sua ansiedade ao ficar quase um mês em isolamento e afirmou que não aguentava mais ficar distante da Santa Casa e de seus pacientes.

Nilton começou sua entrevista falando sobre a necessidade que os políticos tinham de ver a Saúde com mais atenção e deixar de construir estádios suntuosos para aplicar na melhoria da saúde pública.

SOBRE A TAL DA CURVA PARA MORRER MENOS PACIENTES

Sobre quando Olímpia chegará no pico da pandemia, o médico foi taxativo: “ninguém sabe! Eles falaram que seria no começo de abril, não aconteceu. Agora é maio. A gente não sabe, a verdade é que ninguém sabe nada, porque eles não estão sabendo o comportamento desse vírus no nosso clima, no nosso tipo de população. Não dá para a gente ver o que vai acontecer, porque já houve três erros nessa brincadeira.

Martines, entretanto, reforçou a necessidade de manter as medidas como usar máscara, lavar as mãos e evitar a contaminação. “Se você tiver os cuidados, diminui muito a infectibilidade e o sistema de saúde conseguirá dar conta sem entrar em colapso. Vamos ver aqui em Olímpia, por exemplo. Existe aglomerações que nós continuamos a ver. O comércio, eu acho que está agindo corretamente. Passei e vi várias instituições comerciais certinho, com porta aberta mas  mantendo o distancia­mento, entrando uma só pessoa”, afirmou.

E continuou: “Máscara é fundamental tanto para pessoa que tem sintoma, quanto para quem não tem sintoma. E lavagem das mãos, a higienização. Se você fizer isso, você diminui muito, muito mesmo. Ele é um vírus de superfície, ele vai pegar na fechadura, ele vai pegar no corrimão, na prateleira. Então é o seguinte, se você tiver os cuidados, você diminui muito a infectibilidade.  Agora em Olímpia, eu ainda estou vendo filas, principalmente ali na Caixa e alguns bancos, e a grande maioria não usando máscara na rua, dando chance para o azar. Todo mundo fala o seguinte, que não é de risco, que não tem problema, que não vai acontecer nada, até alguém da família ter um caso grave, ou morrer, ou estar perto da morte. Aí todo mundo vai alertar”, destacou.

QUAIS SÃO OS CRITÉRIOS PARA A REALIZAÇÃO DE EXAMES

— O critério que foi usado até agora, pela falta de teste, que nós não temos testes, se você tiver bem, com uma síndrome gripal em casa, você continua em casa porque você não está passando mal. Se você tiver febre alta, mal estado geral, piorando e com desconforto respiratório, você tem que procurar imediatamente um setor de saúde público. Aí sim você vai ser testado, orientado e talvez encaminhado até para uma internação”.

OLÍMPIA ESTÁ OMITINDO CASOS?

— Omitindo não, isso não. Essa divisão de epidemiologia da Secretaria da Saúde é muito séria. Quando houve aqueles três casos, imediatamente ninguém escondeu. O problema todo é que está demorando muito para vir os resultados, em torno de 20 a 25 dias. Então, não há omissão de jeito nenhum. Agora, se você falar para mim que está tendo baixa testagem, está, mas isso é no Brasil inteiro. Provavelmente, existe uma subnotificação de casos pela falta de testagem. Eu estou te dando certeza absoluta de que não está tendo omissão, até porque seria uma grande burrice você omitir as coisas. Você mente hoje e amanhã você é descoberto.

A DIFERENÇA ENTRE OS DOIS EXAMES

— O PCR é o exame que você faz do quarto ao sétimo dia de incubação. Esse exame é o mais fidedigno. Esse exame você vai avaliar partículas do vírus. Chega a dar a 98% de fidedignidade. O outro teste, que é o teste rápido que sai em uma hora, uma hora e pouco, mede IgG e IgM, é o anticorpo que o seu organismo produz para defesa. Ele tem que ser feito do décimo ao décimo quarto dia e no vigésimo dia é que tem o melhor percentual de acerto, porque com 20 dias o seu organismo já deve ter produzido os anticorpos necessários para que se dê positivo o teste.

— Mas é o exame que dá alguma coisa de falso positivo é falso negativo, porque às vezes o seu organismo não produz tantos anticorpos quanto necessário para dar positivo. Mas você teve contato com o vírus, mas você teve corona­virus, só que a sua resposta, a sua imunidade não foi tão violenta, não foi tão grande, então não produziu esses anticorpos a nível de dar positivo no teste. Essa é a grande diferença. No PCR, você vê o RNA do vírus, então ele é um teste muito fidedigno. Mas ele demora de quatro a cinco dias em laboratórios particulares.

SOBRE A FLEXIBILIZAÇÃO

— Agora está se fazendo uma abertura parcial com clarividência, com tranquilidade. Vamos rezar para que essa abertura nos dê fluxo daqui 15, 20, 30 dias E que não aumente o nosso percentual. Se isso acontecer, você pode abrir mais um pouquinho, quer dizer, é uma forma gradual e responsável. Se daqui a pouquinho com essa abertura piorar, você volta atrás, você breca de novo. Nós estamos tendo uma briga política que se instalou no país entre os estados, alguns municípios, entre o governo federal, então você não tem uma voz de comando única, uma estratégia contra isso daí. Então, o que há de pior no país é política e isso se tornou claro.

OS TESTES COM REMÉDIOS

— Não existe medicamento milagroso. São vários protocolos sendo utilizados e cada um está dando a sua referência, a sua experiência. O pessoal do Prevent Senior, em São Paulo, está com mais de 400 casos usando a hidroxi­clo­ri­quina, mais azitromicina e o sulfato de zinco e estão relatando bons resultados. Outro grupo tem associado depois da segunda fase, quando você está com falta de ar, seu pulmão está comprometido, a heparina e corticoides, corti­sona, com bons resultados. Mas são grupos isolados, então não existe um protocolo único.

— Até agora, cada um tem usado aquilo que acha que é melhor e que está tendo bons resultados em suas mãos. Nós não sabemos qual o tratamento ideal, mas agora, todos estão dizendo para a gente que o tratamento tem que começar o quanto antes. Na hora que você chega numa fase ruim, quase morto no hospital, você é um caso grave ou gravíssi­mo, aí é sua chance de evoluir mal é muito grande, mormente naqueles pacientes idosos com comorbidades em que eles não têm reserva funcional.

TEMPO QUE PODE DURAR ESTA PANDEMIA

— Ninguém sabe. Isso é uma resposta assim, a Deus pertence. Nós temos ainda que na China foram três meses, mas vê a Espanha, vê a Inglaterra, vê a França. São comportamentos absolutamente diferentes. Será que esse vírus no calor, como eles dizem, tem uma transmissi­bilidade, uma sobrevida menor? Vamos rezar para isso. Deus é Brasileiro, vamos rezar para isso daí.

—- Olímpia é um município mais isolado, diferente de Rio Preto que recebe gente de tudo quanto é região através e suas várias rodovias. E se você for considerar os três casos confirmados em Olímpia, são importados. Então, a gente não sabe realmente, mas parece que a circulação em Olímpia ainda está pequena e vamos rezar para que continue assim e me parece que as pessoas de idade estão realmente fazendo seu isolamento. Eu acho que Olím­pia, o Fernando está tomando atitudes corretas no momento correto e nós estamos tendo bons resultados.

SOBRE O REMÉDIO ANITA ANUNCIADO COMO SALVAÇÃO

— Tudo é especulação. Os testes estão sendo feitos in vitro, quer dizer, no tubo de ensaio. O tubo de ensaio não tem as mesma prerrogativas que o corpo humano tem. O que a gente torce é que dê certo. É um remédio barato, seria a solução miraculosa para o mundo. Mas, por enquanto é mera especulação. 

SOBRE O PROBLEMA ECONOMICO POR SER UMA CIDADE TURÍSTICA

— Eu acho que a maior dificuldade que Olímpia vai ter, vai ser quando abrir e como abrir as nossas atividades termais. Isso é uma resposta dificílima. Imagina o seguinte, você vem de fora, entra no Thermas e depois de sete a oito dias você tem um coronavírus positivo. Você vai falar que pegou no Thermas, você pode processar. O caso contrário, você vem, você faz a temperatura, isso e aquilo tal, está tudo bem, você entra no Thermas e depois de sete a dez você sabe que você era portador. E aí? Você entrou e transmitiu. Eu não queria estar na situação do Fernando e nem dos dirigentes dos dirigentes dos parques aquáticos, nunca na vida.

MÁSCARA CASEIRA ADIANTA

— Funciona sim. A ideal são as máscaras cirúrgicas e que existe todo um componente técnico para evitar a passagem dessas gotículas. O ideal seria se nós tivéssemos essas máscaras a vontade. Mas, a máscara de pano feita em duas camadas não é a ideal, mas ajuda. Por exemplo, se você der um espirro aqui agora e as gotículas forem a um metro e meio e se você tiver uma máscara de pano, ela vai a 40 centímetros se conseguir passar. Então, ela é de grande valia sim. Faça a sua máscara de pano, lave ela com água sanitária, troque três vezes por dia. Você não deve ter uma máscara só, você deve ter um conjunto de quatro ou cinco para você fazer trocas constantes. Lavar com sabão normal você tem que esfregar, na água sanitária é só deixar ela em repouso durantes uns 30 minutos.

NECESSIDADE DE TOMÓGRAFO NA SANTA CASA

— Levantamos essa lebre, na verdade, em janeiro. Já passou da hora de se investir em um tomógrafo, como já passou da hora de nós fixarmos em Olímpia um neuroci­rurgião. Você imagina que você tem um acidentado grave, a parte de cirúrgica de ortopedista aqui nós temos plenas condições. Mas, quando esse acidentando tem um problema na parte neurológica, nós temos que transferir. Você entrou no pronto-socorro da Santa Casa você, tem a tomografia, você tem ultrassom, você tem o neurocirurgião, você tem a equipe pronta. Caso contrário tem que botar numa ambulância e esse paciente vai ser atendido duas, três, quatro horas depois.

ÚLTIMAS PALAVRAS

—- Um abraço a todos, um abraço a população de Olímpia, para aqueles que estão nos ouvindo e que Deus nos proteja.

 

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