20 de junho | 2010

Citricultura trouxe prejuízos econômicos e morais para a cidade

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A chegada da citricultura no município de Olímpia, substituindo a cultura do café, principalmente, trouxe prejuízos econômicos e morais para a população local. Pelo menos isso é o que se pode depreender da avaliação feita na tarde desta sexta-feira, dia 18, pelo monsenhor Antônio Santsclements Torras, à reportagem desta Folha. Ele chegou a Olímpia no dia 06 de dezembro 1962.

O religioso classifica que a cidade, que historicamente dependeu de atividades ligadas à agricultura, viveu três fases distintas. Porém, destacou que, a partir da década de 70, quando a laranja chegou para substituir o café, a cidade estava muito bem. “Inclusive do ponto de vista moral”, enfatizou.

Ele relata que em 1964 o município tinha aproximadamente 32 mil habitantes, mas que apenas em torno de 17 mil residindo na zona urbana. O restante, segundo o monsenhor, morava e trabalhava nas muitas propriedades rurais.

“Quer dizer, metade estava na roça por causa de que o café dava muito trabalho e muita riqueza. Por isso, tinha o trenzinho aqui, a Maria Fumaça que passava por aqui, simplesmente para escoar toda a produção de Nova Granada para cá e depois para fora, porque o café e o algodão, uma boa parte, ia para o exterior. Na Europa, o algodão mais apreciado que tinha naquela época, era o brasileiro”, disse.

Terminadas as safras de café, chegou a cultura da laranja, que por causa dos sistemas mais avançados e as poucas exigências durante grande período do ano, acabou eximindo a mão-de-obra. Quer dizer, quem primeiro sofreu com a mudança foram os mais pobres.

De acordo com ele, tudo isso fez com que as fazendas, que durante a era do café eram habitadas por verdadeiras famílias, ficassem praticamente desertas. “Aí, começou a empobrecer tudo. A da laranja parece que derrubou a crise de café em todo o mundo. No entanto, empobreceu a todo mundo”, reforça.

“Na fazenda tinha o fazendeiro que morava lá e tinha 15, talvez até 30 famílias trabalhando no café. Tinha um relacionamento muito bonito, sem ser entre patrão e empregados e colonos, quase como pai e filho. E ao que consta um relacionamento fraterno, se ajudavam mutuamente em tudo, podiam cuidar um do outro e isso tudo não restou na hora que o café caiu. Aquelas famílias se dispersaram”, acrescentou.

CHEGADA DA LARANJA
Algumas famílias vieram para a cidade e outras se mudaram para outros lugares como, por exemplo, Campinas e Americana, principalmente. “Então, aquilo que era mais bonito acabou. A fazenda virou simplesmente uma plantação de laranjas. O fazendeiro colocou um caseiro tomando conta da sede da fazenda e veio para a cidade”, explica.

“Foram destruídas todas as comunidades das fazendas e depois a própria família do fazendeiro que, com muito dinheiro, perdeu a cabeça e perdeu a moral. Veio para cá, trocava de carro, trocava de mulher e assim por diante”, asseverou.

“E aí começam aquilo que ofereciam por conta da riqueza. Muita gente rendeu muito dinheiro, mas se você vai procurar um tostão de laranja não acha mais. Sumiu. E depois veio a época da cana-de-açúcar, que é possível que será a pior época de Olímpia. Econômica e moralmente já está estragado”.

No entanto, acrescenta que, pelo menos economicamente, a situação tende a piorar ainda mais, “porque os sitiantes e pequenos fazendeiros que alugaram as terras para a cana, daqui 10 ou 15 anos, a terra não vai produzir mais nada. Como eles não terão dinheiro para reconstituir a terra que precisam por pelo menos dois anos, logicamente terão que vender as máquinas até em troca de banana. Esta é a história de Olímpia”.

SAUDADE
“Mas o bonito é que até o ano 70 era o povo que solucionava os seus problemas. Algumas vezes eu penso, por exemplo, na Santa Casa. Ninguém se perguntou, porque se chama Santa Casa de Misericórdia. Porque é uma casa. Quando começou o povoado de Olímpia, o único lugar que tinha alguma coisa melhor para recorrer era Barretos”, lembrou, contando que quando tinha alguma doença diferente, o doente era levado para lá.

“Depois, a Santa Casa foi crescendo e alguém, inclusive, na época não ganhava, trabalhavam de graça, moravam no fundo da Santa Casa, comiam aquilo que os doentes comiam. E o que é bonito que não havia dinheiro porque ninguém ajudava. O governo, nem municipal, estadual e federal, ninguém recebia um tostão. Não tinha plano do SUS, nem de INPS”, explica.

No entanto, a população mantinha a Santa Casa, porque ajudava com o que produzia. “Quando chegava o tempo da roça, dava café, dava feijão, tudo que tinham, eles davam para a Santa Casa. E eles gostavam da Santa Casa porque era um ambiente muito simples, mas um tratamento muito carinhoso e muito delicado com os doentes. De modo que naquela época não tinha dinheiro, não tinha nada e a Santa Casa continuava perfeita e resolvia o problema. Hoje com tanto dinheiro não resolvem nada”, finaliza.

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